Publicado 27/06/2021 23:50
O cara do projeto Reviver Centro, da Prefeitura do Rio de Janeiro, o secretário de Planejamento Urbano, Washington Fajardo, conversou com o DIA sobre as mudanças que pretende fazer no coração da cidade. Ele explicou que "os escritórios vão desaparecer, é preciso misturar mais os usos. Aproximar a habitação do emprego" e que o Porto Maravilha não está dentro do projeto, já que "tem um regramento urbanístico, de gestão urbana e financeiro dedicado a ele. Com leis próprias e instrumentos de financiamento".
Qual é a cidade que mais faz o retrofit e você gostaria que o Rio de Janeiro pudesse seguir como modelo?
Fajardo: "Infelizmente, o retrofit ainda não é uma prática comum no Brasil. Na Europa, ele corresponde a cerca de 60% do setor de construção civil, porque as cidades europeias priorizam muito o “crescer sem expandir”. Isso significa que é preciso recuperar muitos prédios, o que inclusive é uma premissa positiva, onde você aproveita insumos que já foram retirados da natureza. Assim, as cidades europeias são uma grande referência para a produção de retrofit. Algumas partes do Rio, especialmente a área central, guardam características de cidades europeias. O Império e a República tentaram dar qualidades e ares europeus ao Centro. Logo, em função de nossa raiz portuguesa, Lisboa é uma referência a ser observada. Entretanto, temos o nosso centro de negócios no Centro Histórico. Com o Reviver, pretendemos que o Rio vire referência para outras cidades".
O Reviver inclui moradores de baixa renda. Como desenvolver um critério justo e inclusivo para essa faixa e atender pessoas que precisam de moradias mais próximas do Centro?
Fajardo: "Política habitacional é sempre um desafio. A Secretaria Municipal de Habitação tem metodologias para esse atendimento, então a faixa de renda familiar é um primeiro critério. No Reviver, a diversidade social passa a ser um critério importante de inclusão habitacional. Por exemplo, na Locação Social, haverá uma proposta especifíca para estudantes cotistas, visando combater a segregação racial que ainda caracteriza a nossa cidade. É uma preocupação nossa que o mosaico da sociedade brasileira também esteja representada nas políticas de habitação social do Centro".
Ainda na área de baixa renda, como prevenir o crescimento das favelas da região e como levar os serviços e urbanização do Centro para dentro das comunidades?
Fajardo: "As favelas da região são muito consolidadas. Elas não tem mais crescimento horizontal, até porque não têm para onde se expandirem. O desafio da moradia não é só do Centro mas de toda a cidade. Precisamos de mais ofertas de soluções habitacionais bem localizadas, em áreas já com infraestrutura. Nesse sentido, o Reviver vai trazer um novo paradigma, na medida em que oferecerá essas soluções habitacionais nesta área central".
A Prefeitura está abrindo mão da receita para desenvolver o Centro. Em quanto tempo você acredita que o projeto já terá um retorno financeiro para cidade?
Fajardo: "O Reviver já começou desde o início do ano e as melhorias no espaço público já estão sendo feitas. Então, o Reviver já era uma realidade antes mesmo de a lei ter sido aprovada. Nós já estamos recebendo muitos estudos e consultas para retrofits no Centro. Onde a Prefeitura tem domínio de ação direto, que é o ordenamento do espaço público, a transformação já está em curso. Acredito que, neste segundo semestre, já comecemos a ver novos licenciamentos no Centro".
A Operação Interligada está sendo questionada. Por que ela é tão fundamental para o projeto?
Fajardo: "Ela é fundamental porque, especialmente nos últimos vinte anos, o Centro praticamente não produziu residências. Quando se tem um espaço qualificado com tanto emprego e infraestrutura, é preciso se perguntar: por que não se produz residências aqui? As dinâmicas imobiliárias da nossa cidade hoje apontam ou para a região litorânea, mais valorizada, ou a Zona Oeste, onde existem terrenos mais acessíveis ao mercado imobiliário e de grande porte. Esse fenômeno urbanístico acaba provocando expansão urbana e afasta as pessoas dos empregos, obrigando que o trabalhador tenha que fazer longos deslocamentos. A operação interligada tem por objetivo melhorar a dinâmica imobiliária do Centro, com o compromisso de habitação social, aproximando as moradias do local onde tem mais emprego. Ela também produz recursos para melhorar o espaço público e proteger o patrimônio cultural. A operação interligada traz muitos benefícios para a área central e é parte fundamental dessa dimensão econômica dessa transformação do Centro. Ter uma solução econômica que esteja vinculada ao território é fundamental para garantir uma transformação contínua".
A região só teve de empreendimento nos últimos anos o "Cores da Lapa". Para estimular os novos empreendimentos, a Prefeitura do Rio pensa em limitar o uso de licença em outros locais do Rio?
Fajardo: "Além do Cores da Lapa, temos outros: prédios na Rua das Marrecas, na Rua Visconde de Inhaúma, na Rua do Resende... Depois do Cores da Lapa, tivemos 5 novos empreendimentos no Centro, mas precisamos ganhar escala. A Prefeitura não controla a expansão urbana controlando o licenciamento. Ela controla oferecendo possibilidades em outras áreas. Controla pelo interesse, não pela proibição. Através da indução e não da limitação. Isso significa que precisamos ter uma oferta de adensamento saudável e qualitativo em áreas da cidade que sejam bem infraestruturadas e próximas dos empregos. Especialmente, nas áreas próximas ao emprego e ao transporte público. O Centro do Rio é uma cidade de 5 minutos: é possível viver a 5 minutos do transporte público, como VLT, Metrô, Trem e Barcas e chegar em vários locais da Região Metropolitana. Não é que os escritórios vão desaparecer, é preciso misturar mais os usos. Aproximar a habitação do emprego".
Alguns arquitetos e urbanistas questionam o Porto Maravilha ter ficado fora. Qual foi o motivo de não entrar?
Fajardo: "O Porto Maravilha tem um regramento urbanístico, de gestão urbana e financeiro dedicado a ele. Ele tem leis próprias e instrumentos de financiamento, ou seja, ele não precisa do Reviver. A proximidade do Reviver é positiva, é bom para o Reviver estar próximo do Porto Maravilha. O Porto não está parado. Recentemente foi lançado um empreendimento, cuja primeira torre tem 470 unidades, 360 delas negociadas em 4 dias. Isso é uma média de 90 unidades sendo vendidas por dia. Isso mostra que existe uma população que está cansada dos longos tempos de viagem e quer morar mais perto do emprego".
Fajardo: "Infelizmente, o retrofit ainda não é uma prática comum no Brasil. Na Europa, ele corresponde a cerca de 60% do setor de construção civil, porque as cidades europeias priorizam muito o “crescer sem expandir”. Isso significa que é preciso recuperar muitos prédios, o que inclusive é uma premissa positiva, onde você aproveita insumos que já foram retirados da natureza. Assim, as cidades europeias são uma grande referência para a produção de retrofit. Algumas partes do Rio, especialmente a área central, guardam características de cidades europeias. O Império e a República tentaram dar qualidades e ares europeus ao Centro. Logo, em função de nossa raiz portuguesa, Lisboa é uma referência a ser observada. Entretanto, temos o nosso centro de negócios no Centro Histórico. Com o Reviver, pretendemos que o Rio vire referência para outras cidades".
O Reviver inclui moradores de baixa renda. Como desenvolver um critério justo e inclusivo para essa faixa e atender pessoas que precisam de moradias mais próximas do Centro?
Fajardo: "Política habitacional é sempre um desafio. A Secretaria Municipal de Habitação tem metodologias para esse atendimento, então a faixa de renda familiar é um primeiro critério. No Reviver, a diversidade social passa a ser um critério importante de inclusão habitacional. Por exemplo, na Locação Social, haverá uma proposta especifíca para estudantes cotistas, visando combater a segregação racial que ainda caracteriza a nossa cidade. É uma preocupação nossa que o mosaico da sociedade brasileira também esteja representada nas políticas de habitação social do Centro".
Ainda na área de baixa renda, como prevenir o crescimento das favelas da região e como levar os serviços e urbanização do Centro para dentro das comunidades?
Fajardo: "As favelas da região são muito consolidadas. Elas não tem mais crescimento horizontal, até porque não têm para onde se expandirem. O desafio da moradia não é só do Centro mas de toda a cidade. Precisamos de mais ofertas de soluções habitacionais bem localizadas, em áreas já com infraestrutura. Nesse sentido, o Reviver vai trazer um novo paradigma, na medida em que oferecerá essas soluções habitacionais nesta área central".
A Prefeitura está abrindo mão da receita para desenvolver o Centro. Em quanto tempo você acredita que o projeto já terá um retorno financeiro para cidade?
Fajardo: "O Reviver já começou desde o início do ano e as melhorias no espaço público já estão sendo feitas. Então, o Reviver já era uma realidade antes mesmo de a lei ter sido aprovada. Nós já estamos recebendo muitos estudos e consultas para retrofits no Centro. Onde a Prefeitura tem domínio de ação direto, que é o ordenamento do espaço público, a transformação já está em curso. Acredito que, neste segundo semestre, já comecemos a ver novos licenciamentos no Centro".
A Operação Interligada está sendo questionada. Por que ela é tão fundamental para o projeto?
Fajardo: "Ela é fundamental porque, especialmente nos últimos vinte anos, o Centro praticamente não produziu residências. Quando se tem um espaço qualificado com tanto emprego e infraestrutura, é preciso se perguntar: por que não se produz residências aqui? As dinâmicas imobiliárias da nossa cidade hoje apontam ou para a região litorânea, mais valorizada, ou a Zona Oeste, onde existem terrenos mais acessíveis ao mercado imobiliário e de grande porte. Esse fenômeno urbanístico acaba provocando expansão urbana e afasta as pessoas dos empregos, obrigando que o trabalhador tenha que fazer longos deslocamentos. A operação interligada tem por objetivo melhorar a dinâmica imobiliária do Centro, com o compromisso de habitação social, aproximando as moradias do local onde tem mais emprego. Ela também produz recursos para melhorar o espaço público e proteger o patrimônio cultural. A operação interligada traz muitos benefícios para a área central e é parte fundamental dessa dimensão econômica dessa transformação do Centro. Ter uma solução econômica que esteja vinculada ao território é fundamental para garantir uma transformação contínua".
A região só teve de empreendimento nos últimos anos o "Cores da Lapa". Para estimular os novos empreendimentos, a Prefeitura do Rio pensa em limitar o uso de licença em outros locais do Rio?
Fajardo: "Além do Cores da Lapa, temos outros: prédios na Rua das Marrecas, na Rua Visconde de Inhaúma, na Rua do Resende... Depois do Cores da Lapa, tivemos 5 novos empreendimentos no Centro, mas precisamos ganhar escala. A Prefeitura não controla a expansão urbana controlando o licenciamento. Ela controla oferecendo possibilidades em outras áreas. Controla pelo interesse, não pela proibição. Através da indução e não da limitação. Isso significa que precisamos ter uma oferta de adensamento saudável e qualitativo em áreas da cidade que sejam bem infraestruturadas e próximas dos empregos. Especialmente, nas áreas próximas ao emprego e ao transporte público. O Centro do Rio é uma cidade de 5 minutos: é possível viver a 5 minutos do transporte público, como VLT, Metrô, Trem e Barcas e chegar em vários locais da Região Metropolitana. Não é que os escritórios vão desaparecer, é preciso misturar mais os usos. Aproximar a habitação do emprego".
Alguns arquitetos e urbanistas questionam o Porto Maravilha ter ficado fora. Qual foi o motivo de não entrar?
Fajardo: "O Porto Maravilha tem um regramento urbanístico, de gestão urbana e financeiro dedicado a ele. Ele tem leis próprias e instrumentos de financiamento, ou seja, ele não precisa do Reviver. A proximidade do Reviver é positiva, é bom para o Reviver estar próximo do Porto Maravilha. O Porto não está parado. Recentemente foi lançado um empreendimento, cuja primeira torre tem 470 unidades, 360 delas negociadas em 4 dias. Isso é uma média de 90 unidades sendo vendidas por dia. Isso mostra que existe uma população que está cansada dos longos tempos de viagem e quer morar mais perto do emprego".
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