Após reintegração de posse em Itaguaí, terreno recebe funcionários da prefeitura e da PetrobrasEstefan Radovicz / Agencia O Dia
"Esses dados consolidados do 'cadastramento' realizado pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro revela um diagnóstico social que desmonta muitas das conjecturas, preconceitos e ilações construídas ao redor da coletividade 'acolhida' no CIEP 496. E denuncia, ao fundo, a realidade vulnerável e miserável de grande parte da população brasileira em situação de risco social e desalojados em sua essência das políticas sociais e de sua própria dignidade humana", disse a defensora e coordenadora Cível da DPRJ, Patrícia Cardoso.
Na petição, a Defensoria pede "respeito aos direitos dos cidadãos e que seja apresentado um diagnóstico e um cadastro único com a identificação e mapeamento das necessidades e demandas das famílias e dos indivíduos para que seja possível a sua inserção nas políticas socioassistenciais e habitacionais".
"É premente que o Estado o Município de Itaguaí assumam de imediato a responsabilidade social assumida, inclusive perante o juízo, acolhendo, levantando a história de vida, as necessidades e demandas de cada indivíduo a fim de realizarem um efetivo trabalho de inclusão social. A simples disponibilização de uma escola em condições inadequadas não se confunde com acolhimento e em muito se distancia de um papel efetivo de assistência social. Sem uma escuta e diálogo com empatia e implicação na relação com o outro só há aumento da tensão e do histórico de vulnerabilidade que marca cada um que se sujeita a uma condição indigna apenas para comer e ter um local para dormir", afirmou a defensora e coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva, Thaisa Guerreiro.
Representantes da Defensoria Pública realizaram vistoria no CIEP onde as famílias estão alojadas e encontraram várias irregularidades.
Desempregada, Janaína Ribeiro da Silva conta que ela e a família ficam numa sala com mais de 40 pessoas no CIEP, sem privacidade e em péssimas condições.
- Eu trabalhava com carteira assinada, mas fiquei desempregada na pandemia. Não tive condições de manter o aluguel e fui despejada, com dois filhos menores. Fiquei sabendo da ocupação por meio de parentes e amigos. Vi ali um meio de ter um lugar para ficar. Fiz o meu barraco e me senti abrigada.Meus filhos almoçavam, tomavam café por meio da organização que tinha lá. E eu tinha onde ficar. Era a esperança de construir algo melhor - conta Janaína.
A defensora pública Viviane Tardelli, coordenadora do Núcleo de Terras e Habitação (NUTH), destacou que o problema vivenciado pelas famílias que se encontram no CIEP revelam o grave problema do déficit habitacional que atinge pessoas mais vulneráveis.
- A falta de políticas públicas habitacionais agrava esse cenário. Com 30 anos de existência, o NUTH vem atuando em diferentes casos de violações do direito social à moradia: Vila Autódromo, Providência, Casarão Azul, Arroio Pavuna, Canal do Anil, Indiana, Solar da Montanha, Rodrigues Alves e Trapicheiros. Observa-se que famílias sem moradia compõem um dos grupos mais vulneráveis da sociedade, com diversos outros direitos violados. Sem moradia, a realização de outros direitos fundamentais é ainda mais difícil - afirmou Viviane.
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