Publicado 21/07/2021 11:58
Rio - Atrás da aparência de um casal de classe média, uma grande circulação de dinheiro sujo. Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) recebidos na 17ª DP (São Cristóvão) foram o pontapé para uma investigação contra o braço financeiro do tráfico de drogas do Complexo do Caju, na Zona Portuária do Rio. A Operação Katharsis, realizada nesta quarta-feira (21), com apoio da Core, tem como principais alvos Francisca Érica Abreu e Valdir Marques da Silva Filho, membros de uma estrutura que usava uma cooperativa de reciclagem de lixo para lavar o dinheiro do tráfico. A investigação da Polícia Civil aponta que, entre 2018 e 2021, o grupo movimentou aproximadamente R$ 50 milhões.
Francisca Érica, presidente da cooperativa Transformando, declarou no Imposto de Renda rendimentos de R$ 2.826,00, mas movimentou R$ 24,4 milhões entre 2018 e 2021. O tesoureiro da empresa, Valdir do Ferro Velho, marido de Francisca, chegou a pleitear o auxílio emergencial do governo federal, no ano passado, apesar de ter movimentado em sua conta R$ 4,5 milhões em dois anos.
Em 2017, Valdir foi preso por receptação dentro da própria cooperativa. Nesta quarta-feira, foi preso em flagrante por porte ilegal de armas. Francisca e Greyce Kelly Pereira, funcionária da cooperativa, foram conduzidas à 17ª DP para prestar esclarecimentos.
O chefe do esquema é Luiz Alberto de Moura, o Bob do Caju, líder do tráfico local. Ele está preso desde 2017, mas continua controlando o dinheiro, segundo a polícia. Ele usava a estrutura da reciclagem para movimentar os lucros do crime. Para isso, contava com o casal.
Áudios coletados pela Polícia Civil indicam que o casal atuava como intermediário entre as empresas de reciclagem e o tráfico de drogas. Em uma das ligações, Valdir conta para a esposa que encontrou com Rodrigo Jerônimo da Silva, o Felipão, chefe do tráfico no Caju, e Felipe Nascimento de Souza, o Felipinho, gerente do tráfico no Parque Alegria. Eles teriam ordenado a demissão de um funcionário de uma cooperativa, e chegaram a determinar um castigo físico: o homem teria que ficar no porta-malas do carro durante horas.
"Fomos lá, estava Felipinho e Felipão. Vagabundo para c... Não bateram não, mas falaram para c... com os caras. Falaram para mandar embora por justa causa. Botar ele no carro e deixar ele quatro horas dentro da mala para aprender a ser homem", conta Valdir.
A 17ª DP, agora, vai investigar o caminho completo do dinheiro. A polícia já sabe, por exemplo, que parte dos valores 'limpos' eram repassados para familiares de traficantes do Complexo do Caju e de de favelas do Complexo da Maré. Um dos traficantes é Luis Alberto Santos de Mouro, o Bob do Caju.
"Em relação ao fluxo, o dinheiro passava pela conta de várias empresas. Esse dinheiro da Transformando vai para a conta da Érica, da Greyce, do Valdir, e depois são sacadas. Um dos investigados sacava por semana R$ 50 mil em espécie. A gente ainda está seguindo o dinheiro para onde ele foi", disse o delegado Márcio Esteves, da 17ª DP (São Cristóvão).
* Colaborou Reginaldo Pimenta
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.