Segundo o levantamento mensal do Instituto Fogo Cruzado, os policiais militares são a categoria de agentes de segurança mais afetada pela violência armadaReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Publicado 03/08/2021 14:44 | Atualizado 03/08/2021 14:46
Rio - O mês de julho ficou marcado pelo elevado número de agentes de segurança vítimas da violência armada na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O Instituto Fogo Cruzado registrou 21 agentes de segurança baleados no mês - 110% a mais que o registrado no mesmo período do ano passado. A maior parte das vítimas fatais estava de folga. 

Dos 21 agentes de segurança baleados, oito morreram - entre eles, um estava em serviço, quatro estavam fora de serviço e três eram aposentados ou eram exonerados. Entre os feridos, seis foram atingidos quando estavam em serviço, seis fora de serviço e um era aposentado ou exonerado.

Na última semana do mês, dois agentes de segurança foram mortos a tiros em menos de 24 horas. O cabo da Polícia Militar, Leonardo Sá da Silva, de 39 anos, foi baleado durante uma tentativa de assalto na manhã do dia 28, na Rua da Matriz, no Centro de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Já o Policial Civil, Marcelo dos Santos Dias Cola, de 56 anos, foi morto por bala perdida durante uma ação policial da PM na Rua Noronha Torrezão, em Santa Rosa, Niterói, quando passeava com o cachorro na noite do dia 27.

"O número de agentes baleados vem crescendo depois de uma queda significativa nos últimos meses. Desde janeiro a ADPF 635 vem sendo desrespeitada e ações policiais sem o devido planejamento vem sendo feitas, como mostra o estudo conjunto da UFF e Fogo Cruzado, vitimando inclusive policiais. A análise dos dados de vitimização de agentes no primeiro semestre deixa isso ainda mais claro", avalia Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado.

Julho também é o mês de 2021 com o maior número de agentes de segurança vítimas. Em segundo lugar está março, com 20 agentes baleados.

Segundo o levantamento mensal do Instituto Fogo Cruzado, os policiais militares são a categoria mais afetada pela violência armada. Entre os 21 agentes baleados no mês, dezesseis eram PMs, dois eram militares das Forças Armadas, um era da Polícia Civil, um era do Corpo de Bombeiros e um era Guarda Municipal.

O mês em dados
No mês em que o Instituto Fogo Cruzado completou 5 anos, foram registrados 376 tiroteios na Região Metropolitana do Rio, dos quais em 35% tiveram participação de agentes de segurança. Em julho de 2020, o número de tiroteios foi 10% menor: 341, sendo 70 deles (21%) com a presença de agentes.

Ao todo, no mês de julho, 179 pessoas foram baleadas no Grande Rio: destas, 94 morreram e 85 ficaram feridas. O número de pessoas mortas e feridas foi 59% e 89% maior, respectivamente, na comparação com o mesmo mês do ano passado, quando houve 104 baleados, sendo 59 mortos e 45 feridos.

Em comparação com o mês de junho, que teve 395 tiroteios que deixaram 143 pessoas baleadas, sendo 74 mortas e 69 feridas, julho teve queda de 5% nos tiroteios, mas aumento de 27% nos mortos e 23% nos feridos. O dia 15 teve o maior número de tiroteios, com 22 registros no total. Já dia 12 foi notificado com o número mais elevado de mortos (9) e o dia 27, o maior número de feridos (10).

Locais mais afetados

O Rio de Janeiro concentrou 58% dos tiroteios acumulados na Região Metropolitana do estado (376) em julho. Os cinco mais afetados pela violência armada no mês foram:

Rio de Janeiro: 210 tiroteios, 34 mortos e 28 feridos

São Gonçalo: 56 tiroteios, 25 mortos e 29 feridos

Duque de Caxias: 30 tiroteios, 4 mortos e 6 feridos

Niterói: 23 tiroteios, 9 mortos e 7 feridos

São João de Meriti: 13 tiroteios, 1 morto e 3 feridos

Entre os bairros da Região Metropolitana do Rio mais atingidos pela violência armada no mês estão:

Vila Kennedy: 15 tiroteios e 4 mortos

Andaraí: 11 tiroteios e 1 ferido

Realengo: 10 tiroteios, 2 mortos e 1 ferido

Grajaú: 10 tiroteios

Tijuca: 9 tiroteios, 1 morto e 3 feridos

Entre as regiões que compõem a Região Metropolitana do estado, a Zona Norte do Rio concentrou 30% dos tiroteios registrados em julho. O Leste Metropolitano***, porém, acumulou 38% dos mortos e 49% dos feridos.

Zona Norte: 114 tiroteios, 12 mortos e 16 feridos

Leste Metropolitano: 90 tiroteios, 36 mortos e 41 feridos

Baixada Fluminense: 76 tiroteios, 24 mortos e 16 feridos

Zona Oeste: 61 tiroteios, 20 mortos e 5 feridos

Centro: 26 tiroteios, 1 morto e 6 feridos

Zona Sul: 9 tiroteios, 1 morto e 1 ferido

A Zona Norte teve mais tiroteios que a soma dos registros na Zona Oeste, Centro e Zona Sul em julho. Já o Leste Metropolitano, contabilizou mais feridos que a soma dos notificados na Baixada Fluminense, Zona Oeste, Centro e Zona Sul.

Em julho, houve 61 tiroteios de arma de fogo em áreas com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ao todo, oito pessoas foram baleadas nestas áreas, uma delas morreu. As unidades mais afetadas pela violência armada foram:

Andaraí: 20 tiroteios e 1 ferido

Complexo do Alemão: 9 tiroteios

Turano: 7 tiroteios

Formiga: 6 tiroteios

Prazeres: 5 tiroteios e 3 feridos

As vítimas da violência

Em julho, houve cinco chacinas na Região Metropolitana do Rio que deixaram 17 mortos no total. Em três casos houve presença de agentes de segurança. No mesmo período do ano passado também houve quatro chacinas, deixando 13 mortos no total. Em três destes casos houve participação dos agentes.

Na Região Metropolitana do Rio, ainda em julho, seis pessoas foram vítimas de bala perdida, mas todas sobreviveram. No mesmo período de 2020 foram nove vítimas: oito sobreviveram. Destas vítimas, três foram atingidas em situações com a presença de agentes de segurança. Entre elas, Lúcia Baptista Pires foi atingida por uma bala perdida durante arrastão na BR-101, em São Gonçalo, no dia 14. Lúcia estava em um carro de aplicativo de transporte, quando foi atingida enquanto passava pela via.

Em julho, dois adolescentes e um idoso foram baleados no Grande Rio e todos sobreviveram. No mesmo período de 2020, um adolescente e sete idosos foram baleados: destes, três idosos morreram. Entre as vítimas deste ano, Marcílio Maricato, de 81 anos, foi atingido em um ataque a tiros no dia 16 em Nilópolis, na Baixada Fluminense. Marcílio, que é militar da reserva, foi baleado junto com o filho, que é ex-policial militar. O filho não resistiu aos ferimentos e morreu.

Acumulado do ano

No total mapeado em 2021, entre janeiro e julho, houve 3.167 tiroteios na Região Metropolitana do Rio que deixaram 1.317 pessoas baleadas, sendo 689 mortas e 628 feridas. Em comparação com o mesmo período de 2020, que teve 2.945 tiroteios, com 1.091 baleados (sendo 568 mortos e 523 feridos), houve aumento de 8% nos tiroteios, 21% nos mortos e 20% nos feridos.


Sobre o Fogo Cruzado

O Instituto Fogo Cruzado possui a única base de dados aberta sobre violência armada na América Latina e disponibiliza mais de 20 indicadores inéditos sobre o tema para as regiões metropolitanas do Rio e de Recife. O Instituto existe desde 2016 na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e desde 2018 na Região Metropolitana do Recife. O Fogo Cruzado utiliza tecnologias abertas e colaborativas e atua para tornar as cidades mais seguras, promover a transformação social, enfrentar a violência armada e, assim, salvar vidas.
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