Kathlen Romeu estava grávida de 14 semanas quando foi baleada no Complexo do LinsReprodução Internet
Publicado 10/08/2021 19:41 | Atualizado 10/08/2021 20:59
Rio - Uma mensagem publicada no perfil de Kathlen Romeu numa rede social cobra celeridade nas investigações sobre a morte da jovem, ocorrida no dia 8 de junho, na comunidade Barro Vermelho, no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio. A jovem foi baleada fatalmente aos 24 anos. Ela estava grávida de quatro meses.
A postagem é feita dois meses após a morte de Kathlen e a quatro dias de completar um mês desde que a reprodução simulada do caso foi feita pela Polícia Civil na comunidade.
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"A velha e conhecida 'narrativa' da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro continua de pé, mesmo sem qualquer prova de que houve confronto ou que havia um patrulhamento que terminou em tiroteio que vitimou nossa amiga", diz trecho da mensagem, em referência à afirmação inicial da PM de que os policiais da UPP do Lins teriam sido atacados por traficantes e revidaram, dando início a um confronto.
Para Rodrigo Mondego, procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB, as investigações estão 'demorando mais do que deveriam' devido ao déficit de pessoal na Delegacia de Homicídios da Capital. A comissão presta assistência jurídica à família de Kathlen Romeu.
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"Há apenas dois peritos na Delegacia de Homicídios que são responsáveis pelas perícias de local de crime. Eles ficam sobrecarregados e, por isso, o laudo da reprodução simulada ainda não ficou pronto. Então, não há priorização do estado na apuração de crime de homicídio. A equipe de oito policiais que cuida do caso da Katlhen é responsável por cerca de 500 inquéritos no total", diz Mondego, que acompanha as investigações.
Familiares, amigos e testemunhas negam que tenha havido troca de tiros no momento em que a jovem foi morta. E afirmam que o disparo partiu dos policiais militares, que estariam dentro de uma casa aguardando traficantes montarem uma boca de fumo na região para atirarem. A prática vem sendo chamada de 'cavalo de tróia' por moradores de comunidades dominadas por facções criminosas, que são alvos de ação da Polícia Militar.
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"Há dois meses nossa amiga Kathlen Romeu e seu bebê foram assassinados pelo Estado com um tiro de fuzil que partiu de policiais da UPP do Lins em uma 'suposta operação' ilegal, em prática conhecida como 'tróia'", diz o trecho inicial da mensagem, que é assinada por Comunidade Black e Amigos da Kathlen Romeu e pela Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj).
Rodrigo Mondego reafirma que a prática conhecida como 'cavalo de tróia' é ilgeal, e que não vê, até o momento, ação do comando da Polícia Militar para acabar com ela.
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"É uma prática ilegal que visa à execução sumária de suspeitos de crimes nas comunidades do Rio. Com isso, expõe a vida de inocentes e dos próprios policiais. Essa prática é antiga, mas se tornou corriqueira nos últimos três anos, e tem sido praticada quase semanalmente. Eu não vejo nenhuma ação do comando da PM para extirpá-la", afirma Mondego, acrescentando que o laudo da reprodução simulada pode esclarecer de onde partiu o tiro que matou Katlhen:
"Há versões conflitantes: dos policiais e de testemunhas. O laudo pode mostrar o local de onde o tipo partiu e levar à responsabilização de quem efetuou o disparo".
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Policiais afastados das ruas
A Divisão de Homicídios da Capital e o Ministério Público estadual investigam o caso. O DIA cobrou dados atualizados das investigações, mas ainda não obteve resposta.
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A reportagem também procurou a Polícia Militar, que abriu uma investigação interna para apurar a conduta dos policiais envolvidos na ação. A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que o procedimento apuratório interno está em andamento, e que os policiais militares estão afastados do serviço nas ruas.
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