Publicado 10/10/2021 09:00
Fiz questão de fotografar para não correr o risco de ver o tempo sendo implacável com o papel e me fazer perder uma relíquia. E assim cliquei o desenho que o meu sobrinho mais velho, João Pedro, fez para mim enquanto eu viajava pelo Brasil cobrindo a seleção brasileira na Copa das Confederações de 2013. Ele estava prestes a completar sete anos e me desenhou grandiosa na Tribuna de Imprensa de um estádio de futebol. Alguém bem mais crescido poderia ponderar que a proporção não fazia sentido, já que eu seria apenas mais uma na multidão daquela cobertura esportiva. Mas os olhos das crianças guardam uma dimensão especial, bem diferente de quem já virou adulto.
Confirmei isso recentemente, quando uma jornalista compartilhou os registros dos dois anos do filho. "E assim terminamos o dia: com o aniversariante querendo cantar o 'Parabéns' de frente para o bolo. Não houve quem o convencesse a ficar atrás", contou ela. Não demorou para a atitude do pequeno encontrar uma lógica nos meus pensamentos, e logo comentei: "Pensando bem, faz muito sentido o aniversariante olhar para o seu próprio bolo! Nós ficamos atrás por conta das fotos, né? Ele curtiu o momento!"
Aliás, além de ver o mundo de um jeito singular, as crianças têm também o dom de não ligar para os olhares de julgamento. Lembro de um Ano Novo em que meu sobrinho mais novo, Lucas, bateu o pé para passar a virada totalmente vestido de vermelho: camiseta, bermuda e tênis. Não houve quem o convencesse do contrário. E assim fomos nós assistir aos fogos na praia, em Rio das Ostras. Naquele mar de gente usando branco à espera de boas-novas, ele definitivamente não era mais um.
Crianças encantam pela transparência, e simplesmente não curtem esconder emoções. Tanto que congelei na memória a foto em que o filho da minha nutricionista aparece extasiado ao andar pela primeira vez num carro com teto solar. "Ele ficou loucoooo!", escreveu a mãe, na rede social. O sorrisão do menino era contagiante. Mas também me chamaram a atenção os dois carrinhos agarrados à sua mão, nas cores vermelha e verde. Afinal de contas, a novidade poderia ser enorme, mas não havia motivo para se afastar dos seus bens mais valiosos, nem que fosse por poucos instantes.
Sábias crianças... Seu verdadeiro universo é realmente mágico e lúdico. E assim deveria ser sempre: relacionado a cuidados, alegria e proteção, jamais munido de armas, dor e desigualdades. E no estatuto em defesa dos pequenos, deveria estar também a garantia de que a autenticidade deles seria eterna.
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