Publicado 26/10/2021 18:31
Rio - Uma moradora do bairro Parada de Lucas, um dos locais que integram o 'Complexo de Israel', na Zona Norte do Rio, denunciou ao DIA uma suposta invasão a sua casa por policiais militares que ocuparam a região na última segunda-feira (25). Durante dois dias seguidos ela e seus dois filhos, uma criança de 2 anos e um menino de 9 anos, teriam tido a residência revirada pelos agentes. Diante da denúncia, a Polícia Militar informou à reportagem que "instaurou uma averiguação" para apurar o caso.
Em um vídeo gravado pela moradora, na segunda-feira (25), primeiro dia da ocupação da PM no 'Complexo de Israel', é possível ver a residência com os pertences fora do lugar. A geladeira ficou aberta e revirada, as panelas e objetos de cozinha espalhados e as roupas dos moradores da casa foram jogadas no chão.
"De ontem para hoje teve essa pacificação, eu estava trabalhando e meus filhos na escola quando eles invadiram pela primeira vez a casa. Eu gravei eles dentro da minha casa, tenho prova de tudo. Eu também tenho nota de tudo que foi comprado. A gente é de bem, ninguém tá aqui para defender bandido ou polícia, só queremos o nosso direito. Imagina chegar em casa e ver ela dessa forma? É triste demais, meu filho ficou chorando o tempo todo", relata a moradora.
Segundo ela, desde segunda-feira (25) as invasões à sua residência passaram a acontecer com frequência. Nesta terça-feira, por volta do 12h, uma nova equipe do Centro de Operações Especiais (COE), da Polícia Militar, entrou na casa da moradora, que não teve o nome divulgado por questão de segurança. No vídeo, os policiais aparecem a confrontando. A moradora diz: "A gente quer entrar em casa", e o policial responde: "Vai ficar aí! Estou te dando ordem legal. Se quando você voltar a sua casa estiver mexida, fala com a gente (agentes do COE)".
Em um outro vídeo, dessa vez em uma transmissão ao vivo nas suas redes sociais, a moradora mostra a casa revirada mais uma vez. Segundo ela, as sucessivas invasões ocorreram pelo menos quatro vezes desde que os policiais ocuparam o 'Complexo de Israel'. A mulher conta ainda que sentiu falta de vários objetos dentro da sua casa e que os policiais estariam levando os pertences dentro de um saco preto para o veículo blindado da polícia.
"Eu não volto mais pra cá, meus filhos estão assustados. Eles ficaram a noite toda chorando, com medo. Estou sendo humilhada dentro de casa", desabafou.
Uma outra moradora, do mesmo bairro, que também não teve a sua identidade revelada, mostrou como ficou a fechadura do portão de casa e o portão da garagem, que foi arrombado. Segundo ela, os responsáveis seriam os policiais.
Em nota, a o comando da Secretaria de Estado de Polícia Militar reiterou "que não tolera desvios de conduta e nem o cometimento de crimes por parte de seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos. O comando já determinou a instauração de uma averiguação para a checagem da denúncia."
Manifestação na Avenida Brasil
Diante das denúncias de invasões às casas de moradores, manifestantes se reuniram na Avenida Brasil, na altura do bairro Parada de Lucas, para protestar contra as ações da PM. Agentes do COE foram até a pista e dispersaram a movimentação dos moradores.
Manifestação na Avenida Brasil
Diante das denúncias de invasões às casas de moradores, manifestantes se reuniram na Avenida Brasil, na altura do bairro Parada de Lucas, para protestar contra as ações da PM. Agentes do COE foram até a pista e dispersaram a movimentação dos moradores.
Testemunhas contaram que os policiais deram tiros para o alto. A moradora Vanessa Batista contou ao DIA que os policiais também jogaram gás lacrimogêneo nos manifestantes. "A gente estava aqui na rua e do nada começaram a nos expulsar para proibir a manifestação dos moradores. Não tinha ninguém agredindo, era uma manifestação pacífica. Vieram jogando gás, achando que estávamos envolvidos (com o tráfico), mas não estávamos. Só pedimos paz", disse.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes
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