Geral - Degradaçao do espaço publico na Cinelandia e Rua da Carioca, no centro do Rio. Na foto, bar Amarelinho passa por reforma para reabrir em breve.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Publicado 10/11/2021 14:08 | Atualizado 11/11/2021 08:18
Rio - O jornalista Cláudio Ribeiro, de 61 anos, é um fã incondicional do Amarelinho da Cinelândia, e não poderia ser diferente: ali ele conheceu a primeira namorada, que depois se tornou esposa. O tradicional bar, inaugurado em 1921, foi testemunha de alianças amorosas e políticas, amizades, debates, comícios e manifestações ao longo do seu centenário. O estabelecimento suspendeu as atividades em abril por não conseguir se manter durante a pandemia, mas volta à cena em grande estilo, com direito a roda de samba e chope liberado.

Com portas fechadas por conta do baixo movimento, o Amarelinho foi comprado há dois meses pela rede Belmonte, do empresário Antônio Rodrigues. Uma pequena reforma foi realizada em outubro, sem mudar nenhuma característica do estabelecimento. No próximo dia 20, feriado da Consciência Negra, Moacyr Luz e o Samba do Trabalhador se apresentam na reinauguração, com chope grátis entre 14h e 18h. A expectativa é de que 80 barris sejam distribuídos aos sedentos que passarem pelo local.

"Fizemos negócio há dois meses e mantivemos as características. Realizamos apenas uma intervenção no bar e na cozinha para melhorar a qualidade na questão de manuseio. O cardápio também vai ser mantido, mas melhorado", diz Rodrigues, empresário cearense dono de uma rede com 19 bares no Rio. "Tudo o que eu tenho agradeço ao Rio de Janeiro. Cheguei com uma calça, uma camisa e um sapato. Eu tenho que contribuir com essa cidade o máximo que eu puder. Um ponto cultural daquele, de boemia, de tantas manifestações, comícios, jamais poderia acabar. Nós temos que nos unir, dar as mãos e salvar esses lugares".


Boêmios e trabalhadores da região têm esperanças de que a volta do Amarelinho signifique também o renascimento da Cinelândia. Se a crise financeira já balançava o comércio local, a pandemia agravou ainda mais o cenário. "O Amarelinho é a cara do Rio, e a Cinelândia sem ele não é a Cinelândia", afirma Cláudio Ribeiro, frequentador da região há décadas. "É uma casa que agregava toda a classe política, a sociedade carioca no geral. É um prazer saber que o bar voltará em breve. Está fazendo falta. Aqui conheci minha primeira namorada. Não só foi a primeira namorada, mas a primeira esposa. São 60 anos de idade, e pelo menos 40 frequentando o Amarelinho".
Donazir Teixeira, de 60 anos, é outro a comemorar o retorno. "A volta do Amarelinho era o que a gente mais queria. E como Amarelinho, com todas as características", comemora o segurança, que trabalha na região e viu o abandono ao longo dos últimos dois anos de pandemia. "A Cinelândia não tem muito comércio. São teatros, cinemas, museus. Tudo fechou e até as manifestações pararam. A região ficou deserta. Quantos pais de família ficaram parados por causa disso?", questiona Donazir. 
Pandemia causou impacto nos comércios do Centro
Dados do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec-RJ), baseados na Receita Federal, apontam que 2.396 estabelecimentos foram encerrados e 2.245 foram abertos no Centro do Rio desde o início da pandemia, em março de 2020, até julho deste ano. O saldo era negativo até maio, quando mais comércios começaram a abrir do que a decretar falência. Em maio, foram 195 estabelecimentos novos e 173 encerrados; em julho, 193 abertos e 146 fechados; em julho, 137 contra 69. Os MEIs (Microempreendedores individuais) não entram na conta.
Ponto de encontro de sambistas, Bip Bip reabre na próxima sexta-feira
Boêmios e sambistas da cidade têm outro motivo para comemorar. O Bip Bip, pequeno e famoso bar na Rua Almirante Gonçalves, em Copacabana, reabre na próxima sexta-feira (12) com uma roda de samba em homenagem a João Nogueira e Paulinho da Viola.
O esquema é o mesmo da época de Alfredo Jacinto, o Alfredinho, comandante do bar que morreu em 2019: "cada um pega sua cerveja e na confiança de sempre anotar com quem está no comando da mesa", diz a nota que anunciou a volta. A regra de evitar falar alto para não atrapalhar os músicos segue valendo. A agenda prevê samba aos domingos; choro na terça-feira; bossa nova na quarta-feira; e samba na quinta-feira.
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