Ruas do Porto Maravilha recebem nomes de matriarcas do samba e de Milton SantosBanco de imagens/ Agência O DIA
Publicado 19/11/2021 14:57
Rio - O prefeito Eduardo Paes publicou, nesta sexta-feira (19.11), no Diário Oficial, decreto que homenageia quatro personalidades negras com nomes de ruas na região portuária da cidade. Tia Ciata, Dodô da Portela, Tia Lúcia e Milton Santos agora marcam mais que a história do Rio e do Brasil: estampam esquinas e endereços no Porto.
A região é também conhecida como Pequena África e concentra diversos pontos importantes na celebração da história afro-brasileira.
As vias não existiam antes da Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha. Foram criadas após a revitalização da área e receberam nomes provisórios até então. Além destas, uma quinta rua, no Santo Cristo, recebe o nome Rua Ilha das Moças em referência à ilha que existia no local quando ainda era parte da Baía de Guanabara, antes da área ser aterrada e ter a configuração atual.
A ação é uma parceria entre a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp) e a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano (SMPU) pensada junto à Coordenadoria Executiva de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura do Rio (Cepir) para compor o calendário de celebração da Consciência Negra no mês de novembro.
O presidente da Cdurp, Gustavo Guerrante, ressalta como é importante e simbólico que ruas criadas no escopo das obras do Porto recebam nomes que dialoguem com a identidade local.
"É mais que uma homenagem a personagens ilustres, é uma ação de representatividade ao nomearmos ruas da cidade com nomes de grandes figuras negras da nossa cultura. E especialmente aqui no porto, onde a herança africana é muito forte", afirmou.
A diretora do centro cultural Casa da Tia Ciata e bisneta da homenageada, Gracy Mary Moreira, exalta a importância de ter o nome da bisavó marcado em rua do porto próxima à Pedra do Sal. "Estamos muito felizes com essa honraria à Tia Ciata, especialmente nesta rua que leva à Pedra do Sal. É uma representatividade não só para nossa família, mas para todo o povo brasileiro, pela contribuição que ela deu para a manutenção do Samba, na época marginalizado. Salve a matriarca do samba!", comemorou.
Saiba mais sobre os homenageados:
Tia Ciata: Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, ficou marcada como uma das principais percursoras da cultura negra nas nascentes favelas cariocas e considerada por muitos historiadores como uma das figuras mais influentes para o surgimento do samba carioca. Tia Ciata tornou-se símbolo da resistência negra no Brasil pós-abolição e uma das principais incentivadoras do samba depois de abrir as portas de sua casa para reuniões de sambistas pioneiros quando a prática ainda era proibida por lei.
Dodô da Portela: Maria das Dores Alves Rodrigues – a Dodô da Portela – foi um ícone do Carnaval carioca até seu falecimento em 2015 aos 95 anos. Moradora ilustre do Morro da Providência, Dodô recebeu dois Estandartes de Ouro e participou da conquista de onze campeonatos como primeira porta-bandeira da Portela. Após deixar o posto, continuou desfilando pela escola, no período em que a Portela foi campeã mais dez vezes.
Tia Lúcia: Lúcia Maria dos Santos – a Tia Lúcia, como era conhecida na Região Portuária – foi um ícone do Porto Maravilha que deixou um legado de luta, arte e admiração. Mulher, negra, artista, e representatividade das ruas da Saúde, Gamboa e Santo Cristo. Tia Lúcia deixou obras expostas por toda a cidade, em especial pela Região Portuária, frutos das mostras de seus trabalhos no Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos (IPN), no Museu de Arte do Rio (MAR) e no Centro Cultural José Bonifácio (CCJB). Ela também foi tema e referência para outros artistas. Sua imagem está gravada na escadaria de acesso ao Morro da Conceição, obra de arte a céu aberto na Travessa do Liceu, por trás do Edifício A Noite, e em mural em frente ao badalado Largo de São Francisco da Prainha.
Milton Santos: Milton Almeida dos Santos é considerado o maior pensador da geografia no Brasil. Recebeu em 1994 o prêmio Vautrin Lud, a maior honraria da geografia mundial. Ganhou o mundo com seus estudos sobre urbanização em cidades de países emergentes. Além de geógrafo, Milton foi escritor, cientista, jornalista, advogado e professor. Foi preso após o golpe militar, solto e buscou exílio na França onde deu aulas em universidades como a Sorbonne, em Paris.
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