Publicado 24/11/2021 15:04 | Atualizado 24/11/2021 15:21
Rio - Batizado por Flordelis como Misael, Wagner Pimenta foi uma das testemunhas de acusação no julgamento dos irmãos afetivos Flávio e Lucas Cezar de Souza. Ele contou que após o início das investigações, Flordelis escreveu em uma folha de caderno que havia quebrado e jogado o celular do pastor Anderson da Ponte Rio-Niterói. Segundo Misael, a pastora se comunicou dessa forma porque temia que a casa da família em Pendotiba, em Niterói estivesse grampeada.
"Meu nome é Wagner, ela passou para Misael", contou no início de seu depoimento. A testemunha passou a morar com a então missionária que havia conhecido no Jacarezinho quando tinha entre 12 e 13 anos. Ele deixou a casa aos 40. "Ela falava que era enviada de Deus, que era um anjo. Entre a gente, era conhecida como Quetura", contou Misael.
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A esposa de Wagner, Luana Pimenta, afirmou que o pastor Anderson do Carmo era grande defensor de Flordelis. De acordo com Luana, não seria possível alertar o pastor sobre suas desconfianças sobre das atitudes da ex-deputada, pois "ele jamais acreditaria".
A esposa de Wagner, Luana Pimenta, afirmou que o pastor Anderson do Carmo era grande defensor de Flordelis. De acordo com Luana, não seria possível alertar o pastor sobre suas desconfianças sobre das atitudes da ex-deputada, pois "ele jamais acreditaria".
O casal disse que se sentiu ameaçado após Misael ter ido à delegacia para apontar Flordelis como mentora do crime. Um programa jornalístico noticiou à época que um dos filhos da parlamentar havia procurado a distrital para dar sua versão do fato. Ao tomar conhecimento, Flordelis iniciou uma perseguição para descobrir quem havia ido depor. Ela desconfiava de Daniel de Souza e Misael.
Esposa de Misael, Luana contou que naquele dia Daniel ficou por quase duas horas sendo interrogado por Flordelis a portas fechadas. Ao ser liberado, Misael foi chamado pela mãe, mas respondeu que iria ao banheiro e deixou a casa, conforme relato da esposa Luana no julgamento. Ele disse durante o depoimento que a irmã Simone disse que "X9 tem que morrer" ao passar por ele naquele dia.
Misael contou que ao encontrar Flávio preso na delegacia, o irmão confessou o crime e alegou que pessoas ligadas a Flordelis, como a filha biológica Simone, que chegou a manter um "namorico" com Anderson durante a adolescência, a neta Rayane dos Santos Oliveira e o motorista da família Marcio Buba falaram que o pastor estava abusando de crianças da casa e que estaria roubando Flordelis.
"Te usaram", teria retrucado Misael ao irmão, conforme relatou no julgamento. Misael disse que naquele momento Flávio confirmou que atirou no padrasto e disse estar arrependido.
Rachadinha e piora da relação após mandato
Questionado, Misael afirmou que parentes que trabalhavam no gabinete de Flordelis retornavam parte do salário para a parlamentar, prática conhecida como "rachadinha". Ele disse que Anderson já estava sendo alvo de tentativas de envenenamento antes das eleições, mas a posse do mandato intensificou o incômodo de Flordelis com o marido. Segundo Misael, Anderson chegou a dizer para o filho afetivo que "estavam tentando matá-lo".
Misael disse acreditar que o pastor não procurou a polícia para proteger a família de escândalos.
"(Em Brasília)tudo tinha que passar por Anderson. Presenciei uma conversa deles. Ele estava cobrando dela pela maneira de se comportar. Dizia que não podia sair assinando documento sem ler. Ela ficou indignada, falando que ela que era a deputada", comentou. Luana afirmou que com o acirramento do incômodo com o marido questionou Flordelis sobre divórcio. A deputada respondeu, segundo a nora, que não poderia "envergonhar o nome de Deus".
Luana também relatou que ouviu da pastora que Anderson estaria "atrapalhando a obra de Deus". E que "Deus já tinha falado" para Flordelis que "Anderson não passaria daquele ano" e que "Deus ia tirar Anderson do caminho para que a coisa fluísse", contou durante depoimento.
Misael também foi alvo de uma tentativa de incriminação durante o processo. Uma carta escrita por Lucas na cadeia mudava a versão dos fatos. Em uma folha de caderno, o filho adotivo condenado por ajudar a adquirir a arma do crime assumia a autoria da execução no lugar do irmão Flávio e apontava Misael como mentor intelectual do crime. Posteriormente, Lucas desmentiria a versão à polícia. Ele disse que o texto foi enviado por Flordelis para que fosse copiada de seu próprio punho.
Na madrugada desta quarta-feira Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da ex-deputada federal Flordelis, e Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis foram condenados por homicídio triplamente qualificado do pastor Anderson do Carmo.
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