Publicado 28/11/2021 07:00
Rio - "Quando eles se depararam com os meus exus, se benzeram fazendo o sinal da cruz. Eles são evangélicos. A nossa crença é o demônio para eles, mas eu acredito que o próprio demônio são essas pessoas". O relato é da candomblecista R.A., de 56 anos, que prefere não se identificar. Por volta das 19h do dia 26 de setembro deste ano, a mãe de santo foi impedida de professar a sua fé no bairro Miguel Couto, em Nova Iguaçu, na Baixada, por traficantes evangélicos.
Após 27 anos dedicados ao candomblé, ela teve que retirar tudo que diz respeito à religião da matriz africana de sua casa por ordem dos criminosos. Caso contrário, eles ameaçaram tomar a casa dela.
A vítima conta que, após o ocorrido, uma amiga sugeriu que ela procurasse o Núcleo de Atendimento às Vítimas de Intolerância Religiosa (Navir), programa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Ela diz que esse apoio foi fundamental neste período de sua vida.
A vítima conta que, após o ocorrido, uma amiga sugeriu que ela procurasse o Núcleo de Atendimento às Vítimas de Intolerância Religiosa (Navir), programa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Ela diz que esse apoio foi fundamental neste período de sua vida.
O programa surgiu em fevereiro de 2020 e, atualmente, conta com quatro núcleos no estado. Os polos estão localizados nos municípios de Queimados, Japeri, Nova Iguaçu e Miguel Pereira. Na próximas semanas, o Navir vai ganhar uma sede em Petrópolis, na Rua Dom Pedro, no Centro da cidade. Os equipamentos oferecem assistência social, jurídica e psicológica para aqueles que sofrem com violações ocasionadas por discriminação, intolerância ou racismo religioso.
O programa segue em expansão na tentativa de frear o aumento dos casos de intolerância religiosa. No ano passado, durante o ápice da pandemia, os núcleos realizaram 112 atendimentos. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), o estado contabilizou 1.355 crimes, no ano de 2020, que podem estar ligados à intolerância religiosa. Entre os delitos estão injúria por preconceito, preconceito de raça, cor, religião, etnia e procedência e ultraje a culto religioso.
O superintendente estadual de Promoção da Liberdade Religiosa, Justino Carvalho, diz que o núcleo proporciona o respeito, entrosamento e a cooperação conjunta entre as mais diversas denominações religiosas. "A estrutura do Navir proporciona o acolhimento às vítimas de intolerância religiosa e também contribui na prevenção da violência, promovendo o diálogo inter-religioso", afirma Justino.
O atendimento vai além da assessoria aos casos. Envolve também a escuta qualificada e o acompanhamento de longo prazo. "Eles me deram apoio, calor humano, respeito e a consideração. Me deram uma assistência, me mostraram até onde eu tenho direito, o que posso ou não fazer", lembra R. A., que ainda não voltou para casa e segue sendo assessorada pela equipe do Núcleo.
Prevenção
O Navir também presta assessoramento às vítimas e realiza ações de prevenção. Esse foi o caso do candomblecista Webert Mendes, de 37 anos. Ele chegou ao Núcleo após se tornar vítima de perseguição por parte da ex-mulher do seu novo companheiro. Segundo Webert, a mulher o mandava mensagens nas redes sociais usando palavras de baixo calão a respeito da sua religião e orientação sexual.
Com medo de que as ameaças se tornassem algo ainda pior, Webert buscou ajuda na internet e encontrou o atendimento pelo Disque Cidadania e Direitos Humanos, que o encaminhou ao Navir. "Eles se disponibilizaram a me atendem em qualquer horário. Falaram que, se eu me sentisse triste ou ameaçado, era só retornar. Me ampararam muito bem", revela Webert.
O Disque Cidadania e Direitos Humanos é um serviço mantido pela Subsecretaria de Promoção, Defesa e Garantia dos Direitos Humanos. O serviço funciona no telefone 0800 0234567 e está disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana. O número atende a todo tipo de violação de direitos humanos, prestando informação e realizando encaminhamentos para os órgãos responsáveis.
Casos de exploração sexual, tráfico de pessoas e escravidão, desaparecimentos, LGBTIfobia e intolerância religiosa e racial, entre outros, são acompanhados pelo canal.
No ano passado o serviço registrou 9.675 ligações. Esse ano, até o mês de outubro, já foram realizados 1.360 atendimentos por meio do 0800.
No ano passado o serviço registrou 9.675 ligações. Esse ano, até o mês de outubro, já foram realizados 1.360 atendimentos por meio do 0800.
Endereços dos Núcleos
Nova Iguaçu
Rua Terezinha Pinto, 297, 3° andar, Centro
Rua Terezinha Pinto, 297, 3° andar, Centro
Japeri
Praça Manoel Marques, 12, em frente à Escola Municipal Ary Schiavo
Praça Manoel Marques, 12, em frente à Escola Municipal Ary Schiavo
Queimados
Rua Otília, 1504, sala 113, Vila do Tinguá
Rua Otília, 1504, sala 113, Vila do Tinguá
Miguel Pereira
Av. César Lattes, 494, Parque Guararapes
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