O pai de Alberto Júnior, Alberto Meyrelles (de boné), a esposa Karine Garcia (de vestido) e parentes aguardam soltura de estivador no Presídio de Benfica, Zona Norte do RioMarcos Porto/ Agência O DIA
Publicado 06/12/2021 11:28
Rio - A mulher de Alberto Meyrelles Júnior, Karine Garcia, 38, nem dormiu essa noite. Grávida com quatro meses de gestação, ela recebeu a notícia por volta das 21h de domingo que o estivador preso há vinte dias por reconhecimento em uma foto 3x4 conseguiu um habeas corpus e deve ser solto nesta segunda-feira. A família aguarda a soltura no presídio de Benfica, Zona Norte do Rio.
"Eu estou com uma emoção tão grande. Não vejo a hora do portão abrir e dele sair. Só quero estar com ele", conta Karine, que mora com Alberto há oito anos. Durante a prisão, a gestante foi amparada pela mãe e pela sogra na casa do casal em Realengo, Zona Oeste do Rio. "Todo mundo ficou preocupado com o neném. Estava no começo da gestação durante a prisão, essa semana entrei no quarto mês", conta.
O empresário Alberto Meyrelles SantAnna, 60, acordou às 4h nesta segunda-feira para sair de Del Castilho, Zona Norte do Rio, para receber o filho do lado de fora do presídio em Benfica, onde está desde as 6h30. Após sofrer uma taquicardia na semana passada, o empresário conta que está com o coração feliz.
"A defensora me ligou ontem à noite e falou que a desembargadora havia concedido o HC. Agora meu coração está bom. Hoje é só alegria. Não vejo a hora de pegar ele e levar para casa para ele descansar. Vinte dias aí é brabo, dentro de uma grade. Horrível. Todo mundo já viu que ele é inocente. Erro grave dessa Justiça. Não teria nem que ter sido preso. Sofrem amigos, família. Uma coisa horrível", contou o pai. 
Alberto acrescentou que a prisão do filho é consequência de racismo estrutural. "Muito racismo. Se ele fosse loirinho de olhos verdes, com certeza não estaria aí. Teriam olhado o caso. A pessoa que reconheceu teria que voltar à delegacia. Bastou apontar o dedo pra acusá-lo como ladrão. Não teve investigação", criticou.
A Justiça determinou a soltura na tarde deste domingo. A decisão liminar (provisória) ainda será confirmada pelo colegiado. O Tribunal de Justiça do Rio informa que estão sendo realizados os procedimentos para expedição do alvará, mas não é possível especificar uma previsão de horário.
A defensora Isabel Schprejer espera que o alvará de soltura seja expedido e cumprido nesta segunda-feira.
"No pedido de habeas corpus, a gente ressaltou a situação do reconhecimento fotográfico, por foto 3x4 da CNH, de que ele foi vítima de assalto. Trata-se de uma pessoa com mais de 20 anos de carteira assinada. Ele era supervisor. A empresa nos mandou uma declaração de que quer mantê-lo nos quadros caso ele seja solto. Ele continuou trabalhando mesmo com mandado. Não estava fugindo e foi preso na casa da mãe, muito próximo à casa dele, que tem residência comprovada e uma companheira gestante", contou a defensora.
O estivador trabalhava de carteira assinada há 20 anos no Cais do Porto. Ele foi preso no último dia 17 enquanto seguia de casa para a de sua mãe, há uma distância de cerca de 100 metros. Ao chegar, foi abordado e preso por policiais civis em uma viatura descaracterizada. Em agosto, a reportagem de O DIA mostrou que ele vem tentando provar sua inocência desde que teve a prisão preventiva decretada. O estivador teve a carteira roubada em um assalto que aconteceu no mesmo dia do crime de que é acusado de ter cometido.

Segundo o inquérito policial, o documento de Alberto foi encontrado em um carro Toyota Corolla, mesmo modelo de veículo utilizado pelo grupo que o havia assaltado. A carteira de habilitação foi, então, apresentada pela polícia à mulher vítima do outro roubo, que o identificou como autor do crime apenas pela fotografia da CNH. Inicialmente, ela havia descrito o assaltante como uma pessoa "de cor negra, altura aproximada de 1,70m, cerca de 25 a 30 anos, gordo, sem barba, cabelo crespo". O acusado tem 1,80m e 39 anos.

Na época, ele registrou o assalto e chegou a mencionar o veículo e o extravio da CNH no boletim de ocorrência. No entanto, não houve desdobramentos na investigação do caso. Mas, quase sete meses depois, em 6 de novembro de 2019, foi instaurado inquérito para apurar as circunstâncias do assalto sofrido pela mulher e, por conta do reconhecimento fotográfico, Alberto passou a constar como suspeito.

O caso teve novo desdobramento em outubro de 2020, quando o Ministério Público do Rio de Janeiro (MRPJ) ofereceu denúncia e requereu sua prisão preventiva, pedido que foi acolhido pelo juízo da 1ª Vara Criminal de Bangu, com base, mais uma vez, apenas no reconhecimento feito através de imagem 3x4. A Justiça já havia negado seis pedidos de soltura no processo.
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