Publicado 12/12/2021 09:00
Minha alma se revelou uma verdadeira amante de bate-papos. Demorou, é verdade, mas depois que colocou a timidez de lado, ela deixou aflorar o seu gosto por um dedo de prosa. De tal forma que me tornei a pessoa que admira lugares com um jeito familiar. Aqueles em que já conhecemos o dono, o funcionário ou alguns frequentadores assíduos. Descobri que minhas lembranças não são nada forasteiras. Elas gostam de revisitar e refazer memórias nos locais; adoram sentir que a casa é delas.
Nessa grande praça de recordações construídas na minha imaginação, lembrei que estive outro dia num comércio pertinho de casa, em Duque de Caxias. E, logo ao descer do carro, um funcionário me reconheceu. Já perguntou pela família, pela minha irmã e disse que estávamos sumidas... "É impressionante como a sua voz é igual à dela. O que é a genética, né? Vocês também são parecidas, só a cor do cabelo é diferente", comentou.
Da Baixada Fluminense, atravesso a Ponte Rio-Niterói até a Cidade Sorriso para me lembrar do Jardel, simpático garçom de um bistrô. E também bom de papo: num café da manhã de domingo, ele contou sobre as celebridades que já haviam passado por lá e, em determinado momento, foi atrás do balcão para revelar o seu time de coração, ao se servir numa caneca do Flamengo. "Mas Jardel é nome de ex-jogador do Vasco", brinquei com ele.
De Niterói, o meu espírito proseador segue viajando e traz uma recordação da Barra da Tijuca, num restaurante onde motos e bicicletas parecem voar acima de nós, suspensas por uma estrutura metálica. Meus cliques foram capturados por aquele cenário de tal forma que um dos funcionários logo reparou no meu interesse e veio conversar: "Gostou?" Respondi que sim. Papo vai, papo vem... Em poucos minutos, ele já havia me contado um pouco da história do lugar, da família do proprietário e também a origem daquelas motos da marca Leonette. Já de volta à mesa, descobri no Google que elas eram fabricadas em Bonsucesso e viraram uma verdadeira febre na década de 60.
Das motos suspensas, as minhas lembranças seguem nos ares e desembarcam numa cafeteria em Duque de Caxias, voltando à minha cidade natal. No alto de uma das paredes, livros com páginas abertas decoram o lugar, dando um toque de poesia para acompanhar o café quentinho. Logo na minha segunda visita, já estava conversando com a Kelly, amiga da minha amiga Gisele e uma das responsáveis pelo local. Além de ficar sabendo que ela é arquiteta, capixaba e leonina, também ouvi sobre as raízes da família, vinda da Itália e do Sul do país. E, no fim da conversa, ganhei um biscoitinho de degustação. A prosa estava tão boa que já deu até vontade de falar: "Amanhã tô de volta!" E é assim: mesmo que não tenha certeza de quando será a próxima vez, esse gostinho de "até logo" alimenta os lugarejos da minha alma.
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