Publicado 22/12/2021 18:51
Rio - Moradores do Complexo da Pedreira, em Costa Barros, na Zona Norte do Rio, relataram ter ouvido PMs do 41º BPM (Irajá) terem confessado que fizeram uma besteira ao atirarem contra o pintor Fabrício Alves de Souza, de 26 anos. O jovem foi baleado no final da madrugada de terça-feira, na favela da Quitanda, quando saía para trabalhar. O enterro de Fabrício aconteceu na tarde desta quarta-feira, no Cemitério de Inhaúma.
Amigos do pintor que moram na mesma comunidade contaram que o rapaz se rendeu ao ser abordado pelos militares, mas que mesmo assim, foi baleado. Os populares afirmam ter escutado os policiais dizendo entre eles que fizeram coisa errada, depois de serem questionados pelos moradores sobre Souza ter sido ferido.
"Ele estava indo trabalhar, por volta das 5h da manhã, que era a rotina dele. Passava por dentro da comunidade para cortar caminho até o ponto da condução dele, a que ele pega para ir para o trabalho. Aí ele foi abordado, levantou as mãos e disse que era morador para os policiais, mas eles não quiseram saber e atiraram. Depois que o policial viu que ele era trabalhador, eles falaram 'fizemos merda, baleamos um trabalhador, baleamos a pessoa errada'", contou um amigo e colega de trabalho da vítima, que preferiu não se identificar.
Souza estava com uma mochila com documentos, que foi encontrada pelos amigos jogado no mato. Os amigos contaram que o pintor tinha arranjado um emprego para um amigo da comunidade e que estava levando a carteira de trabalho e certidões da pessoa para a empresa efetuar a contratação.
Os documentos eram de Geraldido Jorge da Silva, de 22 anos.
"Ele conseguiu o emprego para mim na empresa dele, eu ia trabalhar como ajudante de obras. Os documentos que estavam na mochila dele eram meus. Os policiais pegaram a mochila e jogaram meu documento na linha do trem, dentro do mato, tinha minha carteira de trabalho, certidões. Estava tudo com ele para a firma assinar a minha carteira. Ele sempre ajudou todo mundo. Não é o primeiro emprego que ele me arruma", disse Geraldino.
O pintor era reconhecido pelos amigos justamente por sempre arrumar trabalho para eles e tentar ajudar o próximo.
"Ele arrumava emprego para todos nós que éramos chegados a ele, arrumava trabalho para todos os amigos. Ele arrumou serviço como pedreiro para mim em outra obra. Me ajudou muito e ajudava a maioria dos moleques lá dentro da comunidade, que eram da vida errada e ele conseguia tirar oferecendo emprego. Fabrício não tinha passagem, sempre foi um cara trabalhador que queria o melhor para a família dele", disse o amigo que optou pelo anonimato.
'Profissional de excelência'
Fabrício estava com a carteira assinada há pouco mais de dois meses e era considerado um profissional de excelência. Ele prestava serviço como pintor em uma obra da Cury Construtora, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ao DIA, o patrão de Fabrício, Claudinei Gomes Silva, de 37 anos, contou que o funcionário tinha comprometimento com o horário e estava sempre disposto a ajudar os colegas.
"Se eu pedisse pra ele passar um pouco do horário por causa de algum imprevisto no serviço, ele aceitava na hora. No feriado de Dia das Crianças, por exemplo, eu precisei de ajuda na obra e ele prontamente foi trabalhar. Sem falar que ele era muito querido por toda a equipe, os funcionários estão de coração partido", contou o patrão, que completou: "Hoje em dia é muito difícil encontrar um profissional do patamar dele, que cumpria com o horário".
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) instaurou inquérito para apurar as circunstâncias da morte. Testemunhas estão sendo ouvidas e a investigação está em andamento. A Polícia Militar também está apurando as circunstâncias do ocorrido e afirmou que vai colaborar integralmente com as investigações da DHC. Fabrício não tinha antecedentes criminais.
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