Marielle foi assassinada no dia 14 de março de 2018Divulgação

Rio - A Polícia Federal e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) prenderam nesta segunda-feira o ex-bombeiro Maxwell Corrêa, o "Suel", no âmbito das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes e a tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves. O ex-militar já havia sido condenado por atrapalhar as investigações, mas cumpria pena em regime aberto.
A Operação Élpis, é a primeira fase da investigação conduzida pela Polícia Federal e o Ministério Público do Rio de Janeiro. Os agentes também cumpriram seis mandados de busca e apreensão na cidade do Rio de Janeiro e na Região Metropolitana. Na casa de Suel, foram apreendidas armas, supostamente legalizadas, celulares e outros bens.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (24) que Operação Élpis, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pelo MPRJ se desdobrou de uma colaboração premiada realizada entre 15 e 20 dias atrás por Élcio de Queiroz, preso por ter conduzido o carro durante a execução da vereadora. Dino afirmou que a delação foi homologada pela justiça.
"Nós tivemos uma colaboração premiada do senhor Élcio Queiroz. A delação resultou na operação de hoje no Rio de Janeiro. E revelou a participação de um terceiro indivíduo, o sr. Maxwell. Também confirmou a participação dele próprio [Élcio] e do Ronnie Lessa. Foi a conclusão de uma fase da investigação com a conclusão de tudo que aconteceu na execução do crime", afirmou Dino.
O ministro ressaltou que a narrativa de Élcio convergiu com aspectos colhidos pela PF e apontou outras pessoas como copartícipes.
"Há um avanço, uma espécie de mudança de patamar. Há elementos para um novo patamar, qual seja a identificação dos mandantes do crime. Há aspectos em segredo de Justiça. Nas próximas semanas haverá novas operações derivadas desse conjunto de provas colhido no dia de hoje.
Nas redes sociais, o ministro da Justiça, Flávio Dino, se manifestou sobre a ação. "Hoje a Polícia Federal e o Ministério Público avançaram na investigação que apura os homicídios da Vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes", publicou.
A irmã de Marielle, ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, afirmou que confia na PF e voltou a indagar sobre o mandante das mortes: "Reafirmo minha confiança na condução da investigação pela PF e repito a pergunta que faço há 5 anos: quem mandou matar Marielle e por quê?"
No instagram, o presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, também falou sobre a primeira fase da investigação da PF e parabenizou os agentes pela prisão. "Esse é mais um passo importante para descobrir quem mandou matar Marielle Franco. Eu e Marielle começamos a trabalhar juntos todos em 2006, quando me candidatei a deputado estadual pela primeira vez. E sempre enfrentamos juntos a máfia que comanda o RJ."
Os assassinatos de Marielle e Anderson completaram cinco anos em 2023 sem respostas sobre o mandante do crime. Os dois foram mortos no dia 14 de março de 2018. Em fevereiro desse ano, o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a PF abrisse um inquérito paralelo para auxiliar as autoridades fluminenses.

Nas investigações da Polícia Civil, o avanço mais consistente no caso aconteceu em março de 2019, quando Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa foram presos no Rio de Janeiro. O primeiro é acusado de ter atirado em Marielle e Anderson, o segundo, de dirigir o carro usado no assassinato. Quatro anos depois, eles continuam presos, mas não foram julgados. Os dois estão em penitenciárias federais de segurança máxima.

Ronnie foi condenado a 13 anos, 6 meses e 22 dias pela posse de 117 fuzis e farta munição, que foram encontrados na casa do seu amigo Alexandre Motta de Souza na semana de sua prisão. A apreensão é a maior já realizada no estado do Rio de Janeiro. Os fuzis, sem os canos, estavam desmontados dentro de caixas.

Cronologia do caso

14 de março de 2018: Marielle Franco e Anderson Gomes são assassinados.

15 de março de 2018: Giniton Lages assume a Delegacia de Homicídios do Rio e o caso.

21 de março de 2018: O MPRJ escolhe um grupo de promotores para a apuração do crime.

01 de setembro de 2018: Entra no caso o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ). Acontece a primeira troca de promotores do MPRJ.

25 de setembro de 2018: Orlando Curicica, encarcerado no Presídio Federal de Mossoró por crimes ligados à milícia, menciona o ‘Escritório do Crime’ para os investigadores. Uma testemunha cita o vereador Marcello Siciliano por suposto envolvimento na morte de Marielle. Siciliano foi preso, mas o envolvimento dele foi descartado depois.

11 de outubro de 2018: Investigações do MPRJ identificam biotipo do executor do crime e rastreiam novos locais por onde circulou o carro usado no crime.

11 de março de 2019: A primeira fase de investigações é encerrada. Ronnie Lessa e Élcio Queiroz são denunciados por homicídio doloso.

12 de março de 2019: Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa são presos no Rio de Janeiro.

25 de março de 2019: Giniton Lages é substituído por Daniel Rosa na Delegacia de Homicídios do Rio.

23 de maio de 2019: Polícia Federal aponta que foram dados depoimentos falsos para dificultar a solução dos homicídios.

11 de setembro de 2019: A então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pede a federalização das investigações.

10 de março de 2020: Justiça do Rio determina que Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz sejam levados a júri popular.

27 de maio de 2020: Superior Tribunal de Justiça (STJ) nega a federalização das investigações.

17 de setembro de 2020: Delegado Daniel Rosa deixa o caso. Moisés Santana assume o lugar dele.

05 de julho de 2021: Terceira troca na Delegacia de Homicídios: sai Moisés Santana, entra Edson Henrique Damasceno.

02 de fevereiro de 2022: Quarta troca: Edson Henrique Damasceno é substituído por Alexandre Herdy.

30 de agosto de 2022: Supremo Tribunal Federal (STF) nega recursos das defesas de Ronnie Lessa e Élcio Vieira, e mantém decisão sobre júri popular.

22 de fevereiro de 2023: O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anuncia abertura de inquérito da Polícia Federal para investigar assassinatos.

04 de março de 2023: MP do Rio define novos promotores do caso Marielle Franco.