Por paola.lucas

Niterói - Uns fugiram da violência sofrida em casa, outros chegaram às ruas por excesso de drogas e tem gente que está lá por não ter dinheiro para voltar para casa. Eles estão por toda parte. Homens, mulheres, famílias inteiras. De acordo com a prefeitura, a Secretaria de Assistência Social realiza cerca de 300 atendimentos por mês no serviço de abordagem. Mas não existe um levantamento recente que indique quantas pessoas vivem nas ruas de Niterói.

Centro e Zona Sul têm maior concentração de pessoas nas vias públicasEstefan Radovicz / Agência O Dia

Antropólogo e pesquisador da UFF, Tomás Melo questiona a falta de dados atualizados sobre o assunto. A última pesquisa foi realizada entre 2007 e 2008 pelo Ministério de Desenvolvimento Social.

“Em Niterói essa pesquisa contabilizou 529 pessoas nas ruas. É provável que na época esses dados já fossem subnotificados e que ao longo dos anos o número tenha aumentado”, explica.

Na quinta-feira, a prefeitura vai inaugurar o quinto abrigo da cidade com 100 vagas mistas e cursos profissionalizantes. Com essas, serão 170 vagas em toda cidade. O equivalente a 43% dos atendimentos realizados pela Secretaria de Assistência Social por mês.

Morador de rua dos 10 aos 15 anos, Marcus Iori não teve escolha, foi expulso de casa pelo padrasto violento. Sozinho, mas com a certeza de que um dia as coisas iam melhorar, ele conta que viu de tudo nesses cinco anos.

“Já acordei com uma pessoa em cima de mim tentando me violentar. A vida na rua não é fácil não”, explica.
Ele conta que mesmo com todos os riscos, viver na rua ainda era melhor do que ir para os abrigos. “O pessoal que dormia lá obrigava a gente a passar as coisas (drogas), a se prostituir. Na rua a gente corre, chama uma viatura, se vira”, revela ele, que com ajuda de amigos e da Cufa, hoje tem emprego fixo, filho e um lar.

O especialista Tomás Melo diz que os abrigos são interessantes para um atendimento emergencial como alimentação, guarda de pertences, acesso à higiene pessoal e, principalmente, encaminhamentos para outros serviços públicos. 

Os abrigos não devem ser um ponto isolado, precisam estar associados em rede mais ampla que possibilite a saída das ruas garantindo a autonomia dos sujeitos. Sem isso se tornam um ‘beco sem saída’”, diz. 

No Fonseca é visível o aumento do número de pessoas dormindo na ruaEstefan Radovicz / Agência O Dia

E se a impressão é que há mais ‘sem-tetos’ pela rua, a Secretaria de Assistência Social diz que Niterói atrai muita gente de outros municípios por ter um alto Índice de Desenvolvimento Humano e por ser uma cidade litorânea e acolhedora.

A secretária municipal, Verônica Lima, afirma que não pode garantir a permanência nos abrigos, pois é uma escolha, mas diz que vai investir mais. “O novo abrigo terá oficinas de corte e costura e uma padaria-escola. Assim damos uma perspectiva de renda e empregabilidade.” 

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