Por Aline Cavalcante
Imagem chamou bastante atenção a retratar aglomerações formadas nas filas de bancos por quem busca o auxílio emergencial - Divulgação
A cultura urbana e as narrativas visuais da Baixada Fluminense sempre inspiraram Rafael Acioly, mais conhecido como Mutano. O artista, cria de Nilópolis, ilustra cenas do dia a dia há dez anos e tem encontrado nelas uma forma de expressar e refletir a pandemia do novo coronavírus. Filas nos bancos, falta de emprego, uso de máscara, pessoas isoladas em casa: cenas que tem se tornado com cada vez mais comuns estão sendo retratadas por ele. 
A primeira imagem publicada por Mutano em suas redes sociais chamou bastante atenção. Nela, ele faz uma alusão da agência bancária ao caixão na arte. “Fiz essa ilustração com referência em uma foto que eu tirei no dia em que eu fui tentar resolver a questão do meu auxílio emergencial numa agência em Nilópolis. Olhei a cena e me veio logo a tona. Tenho enfrentado dificuldades como todo artista da Baixada e a ajuda emergencial é muito importante como para milhões de brasileiros. No dia que vi a cena eu vi o quanto nos expomos para ter este auxílio, enfrentamos filas enormes e corremos risco de contágio.  Este momento está sendo marcante e tem me afetado de maneira agressiva”.
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Outras cinco ilustrações, também feitas a partir de fotos, estão prontas para serem divulgadas. "Fiz a foto no meu celular. A vida ganhou uma nova perspectiva e cenas que vejo na rua me chamam muito atenção. Isso já é uma sensibilidade que tenho como artista e neste momento difícil que estamos enfrentando o artista fica ainda mais atento, mais sensível", revela Rafael.
Para conferir o trabalho do Mutano, acesse o link: www.instagram.com/mutanera_
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A arte de Mutano
Tem como base do seu trabalho a cultura urbana e um dos seus melhores amigos, o skate. Ele explica: “Eu desenho desde novinho. Desenhava algumas paradas com referência da Santa Cruz, uma marca de skate da California. Era tudo muito voltado pro skate, como é até hoje a minha maior base.”
Rafael Acioly, artista de Nilópolis, trabalha com arte urbana - Divulgação
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Realidade
Um retrato mais que fiel da pandemia que tem nos assolado desde o começo de março. Os reflexos da Covid-19 na Baixada Fluminense são ainda maiores. De acordo com estudos da Fundação Perseu Abramo, a soma do frágil serviço de saúde, a baixa infraestrutura sanitária e a alta densidade demográfica contribuem para a região ser uma das mais vulneráveis ao vírus do país.

A alusão da agência bancária ao caixão na arte choca, mas é real. Semana passada, a Baixada Fluminense ultrapassou o Japão em números de óbitos e pelas novas medidas tomadas pelo governador do Rio de Janeiro, o número deve crescer nos próximos dias. "Acredito que a arte deve ter o papel de trazer reflexão, crítica, principalmente neste momento. É isso que venho tentando fazer. Tenho mostrado os contrastes e choque entre as realidades. Enquanto uma minoria rica pode se preservar em casa, nós nos arriscamos para permanecer vivos", diz Mutano.
Ilustrações de Mutano trazem reflexão - Divulgação