Aulão inaugural do curso de pré-vestibular do Emancipa, na UerjDivulgação/Wesley Davi
Por HUGO PERRUSO
Publicado 15/06/2020 00:00

Isabel Rocha tem 17 anos e quer cursar Física na faculdade. Vítor Hugo Rodrigues, também 17, quer fazer Medicina Veterinária. Em comum, eles enfrentam a dificuldade do dia a dia para estudar em casa em meio à pandemia da covid-19. Assim como eles, milhares de estudantes que deveriam fazer o Enem esse ano têm passado pelo mesmo problema com as aulas online, seja por causa da internet ou pela dificuldade de acompanhar matérias.

Isabel e Vítor são estudantes do pré-vestibular popular Emancipa, que na Baixada Fluminense tem unidades em Belford Roxo e Duque de Caxias, totalizando 340 alunos. Numa pesquisa online realizada pela rede escolar, apenas 145 responderam. Quem não pôde, o principal motivo da maioria foi a dificuldade de acesso à internet.

Dos que responderam, 85,5% dos alunos disseram ter dificuldade para se concentrar e/ou realizar atividades escolares em casa. Além disso, somente 14,5% disseram conseguir acompanhar a grade de matérias por semana, e 33,8% não.

"Eles estão com uma grande dificuldade.Primeiro porque estão lidando com uma novidade, que é o estudo pela internet. Essa adaptação está sendo dolorosa. E muitos têm que conciliar a escola com o do pré-vestibular, com a preocupação maior de terminar o ensino médio. Alguns estão conseguindo se organizar, outros se enrolando bastante e alguns desistindo (do pré)", explica Heros Silva, um dos coordenadores e ex-aluno do Emancipa de Belford Roxo.

Com atividades suspensas desde o dia 15 de março, os alunos do Emancipa praticamente tiveram apenas uma aula, a inaugural feita na Uerj para todo. Desde então, os materiais são enviados via podcast e em pdf. A proposta era que fosse diária, mas precisou ser adaptada para três dias da semana porque os alunos não estavam conseguindo acompanhar direito, por causa das matérias também da escola.

"Muitos não têm computador e todos têm dificuldades. Falta de internet e de local adequado para estudar são algumas das demandas dos aluno", afirma a coordenadora do Emancipa Belford Roxo, Silvana Louzada.

Em função dessa dificuldade enfrentada para estudar de casa, o adiamento do Enem era uma bandeira de alunos e professores de todo o Brasil. Após muita pressão, uma nova data das provas ainda será remarcada, o que traz alívio e esperança de mais tempo para estudar e se preparar adequadamente.

"O adiamento do Enem é fundamental.Os alunos das periferias têm muita dificuldade de acessar a internet, muitos não têm computador e assistem às aulas pelo celular. Muitos dividem um único cômodo com várias pessoas, sem possibilidade de concentração.Além disso, muitos não sabem sequer se vão concluir o Ensino Médio. Dessa forma o abismo social que já existia no ingresso à universidade pública se aprofunda enormemente", analisa Silvana.

 

'Escolher entre passar ou Enem'
Estudante Isabel Rocha, de Belford RoxoArquivo Pessoal
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'Nada substitui estar na aula'
Estudante Vítor Hugo Rodrigues, de Belford Roxofotos Arquivo Pessoal
Risco de ficar sem local para as aulas
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Se não bastasse a falta de aulas presenciais, os alunos do pré-vestibular Emancipa de Belford Roxo também passaram a se preocupar com outro problema grave. O curso acontece dentro do IFRJ, que na semana passada foi pego de surpresa com a decisão da Câmara dos Vereadores de anular a doação do terreno onde está localizado.
"É uma incerteza para todos nós, servidores e alunos da IFRJ e do Emancipa", lamenta Silvana Louzada, que além de coordenadora do pré-vestibular também é professora do IFRJ.
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O imbróglio do terreno onde está o IFRJ, doado pela prefeitura de Belford Roxo em 2013, está na Justiça. Por isso, Reitoria do Instituto considera a decisão da semana passada irregular e pretende recorrer. Desde 2017 o prefeito Wagner dos Santos Carneiro (MDB) tenta recuperar o espaço e impediu as obras para a conclusão da estrutura.

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