Era uma vez o mundo - Arquivo Pessoal
Era uma vez o mundoArquivo Pessoal
Por André Arraes

Pequenos e grandes negócios sofreram duros golpes por causa da pandemia do coronavírus. Para Jaciana Melquiades, 36, idealizadora da marca "Era Uma Vez o Mundo", a primeira loja exclusiva de bonecas negras do país, o abalo foi quase fatal. Inaugurada no ano passado, o empreendimento ia bem. Mas, com o fechamento do comércio durante a quarentena ela se viu tendo quase que fechar as portas. Para manter seu sonho vivo, a empresária teve que se adaptar à nova realidade e investir nas redes sociais para alavancar as vendas. 

Os investimentos estavam dando certo e o dinheiro estava começando a retornar, mas com a pandemia a procura pelas bonecas despencou. Das duas lojas físicas, inauguradas em 2019, e outros pontos de venda na cidade, apenas um local está aberto, respeitando as medidas sanitárias. Foi nesse cenário que uma postagem nas redes sociais, desabafando sobre o risco de falência, ajudou a reerguer a loja.

"Quando a pandemia chegou, nós tínhamos dois meses de caixa para funcionar e não dispensar nenhum dos nossos 11 funcionários. A postagem que fiz foi quando atingimos o limite, não estávamos conseguindo vendas no site, até por uma questão de prioridade das pessoas, acredito. O post acabou viralizando, muitas pessoas compartilharam e as vendas aumentaram, o que deu um fôlego para nós. Com isso estamos conseguindo manter os funcionários e a saúde financeira".

Foi assim que a empreendedora viu a força das redes sociais e, apesar das dificuldades, mergulhou de cabeça para investir nas vendas online. O número de vendas aumentou 200%.

Apesar da melhora nas vendas, as dificuldades ainda existem. "Está sendo mais difícil o trabalho, porque temos apenas as redes sociais para executar todas as propostas. Mas, com isso, eu tenho feito muitas conexões com pessoas diferentes para conseguir levar o nome da Era Uma Vez o Mundo cada vez mais longe".

Sobre o futuro, Jaciara conta que ainda é incerto e que o desafio tem sido diariamente. "Nós estamos sobrevivendo mês a mês e buscando, através das redes sociais, novas vendas para podermos continuar".

Nascimento da marca

A Era Uma Vez existe desde 2013 e começou com Jaciana fazendo brinquedos para seu filho. Além disso, juntamente com o coletivo Meninas Black Power, ela levava as peças para falar sobre diversidade com crianças em escolas. Aos poucos ela começou a vender para professores, e em seguida, abriu uma loja virtual para ampliar seu alcance. Ao longo do tempo, o empreendimento foi ganhando visibilidade e crescendo. 

"Percebi uma falta de materiais didáticos, materiais lúdicos, falta de brinquedos educativos e que tivesse uma representatividade, uma identidade negra. Estava em busca por referências negras para o Matias (filho dela). Aí comecei a fazer algumas coisas para ele, como decoração de quarto, boneco e tudo que a gente não conseguia comprar para ele nas lojas. Aos poucos, comecei a fazer não só para mim ou para trabalhar em sala de aula, comecei a fazer para vender", relembra.

Por ser um negócio de impacto social, Jaciana busca atribuir conceitos à sua atuação. A base do projeto é a representatividade e por isso o foco é produzir apenas boneca negras. 

"Essa proposta de manter a exclusividade de bonecas negras no meu negócio, o torna ainda mais desafiador. Porque eu estou propondo a construção de um mundo em que pessoas negras existem, e querem igualdade de condições. Eu não estou me utilizando do discurso que nós (pretos) queremos ser incluídos em um espaço, minha proposta é a construção coletiva de um mundo em que a gente exista, inteiro. Um mundo também nosso, e não um que eu tenha que me adequar para fazer parte", ressalta.

Muito além de ser uma loja
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A Era uma Vez o Mundo vai além da venda de brinquedos, há um trabalho educativo em escolas da Baixada Fluminense, oficinas para alunos e professores em que são abordados temas como a diversidade racial e propostas de ferramentas para uma educação antirracista.
"Acredito muito no poder da educação. Por isso realizo essa atuação nas escolas públicas, e dou prioridade para Baixada, pois é um lugar de afeto para mim, um local que tenho o sonho de ajudar a torná-lo melhor", afirma Jaciana.
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