Por O Dia

Tem chão à beça entre a casa da atriz Tayara Maciel, no Colubandê, São Gonçalo, e a Zona Portuária, no Rio, onde a moça de 25 anos trabalha. Uma hora para ir, outra hora para voltar, somando ônibus e VLT. Ela mal sente o tempo passar. Lê no caminho. Diz que faz pensar. É de família. Ela estudou na Escola Técnica de Teatro Martins Penna, e cursou Turismo na UNIRIO. A irmã, Francisca, 20, ganhou bolsa 100% para cursar biologia na PUC-Rio e a caçula, Joana, de 17, estuda no Instituto Federal de Biotecnologia, na Tijuca.

"É fundamental saber questionar o mundo, a sociedade em que vivemos, o Brasil, tudo", afirma. Tayara é segura no que defende. Cada vez mais. Está ajudando a organizar e também será espectadora do curso "Pensamento Crítico - Cultura e Direitos Humanos", que a Companhia Ensaio Aberto, sediada no Armazém da Utopya, na Zona Portuária, realizará de graça em outubro. 

"Esta será a segunda turma do curso, que é aberto para todos, independente da profissão. Na primeira, a resposta foi incrível. Teve gente do Rio Grande do Norte, de Pernambuco, da periferia do próprio Rio de Janeiro e até de Portugal assistindo as aulas", empolga-se. "Desde 2018 sou atriz, assistente de produção e operacional da Companhia Ensaio Aberto". 

Tayara diz que foi simples assim. "Aos 10 anos falei com minha mãe que queria fazer música e teatro, então comecei a estudar música com a Agnes Moço e iniciação no Sesc São Gonçalo, com Reinaldo Dutra.

Fez também a faculdade de Turismo na UNIRIO, plano B para o caso de faltar dinheiro para os boletos. Justamente por conta dessa faculdade, em 2017, concorreu e ganhou bolsa para intercâmbio na Universidad de Valladolid, Espanha, para cursar música pelo Programa IberoAmericano Santander Universidades. Fez também mímica, curso intensivo de Commedia Dell'Arte e outros.

Entrada na Companhia

"Ao retornar, entrei para fazer oficina na Companhia Ensaio Aberto. O diretor Luiz Fernando Lobo desenvolve muito o pensamento crítico. Depois de cada sessão dos nossos espetáculos, os atores vão ao encontro da plateia para conversar sobre o trabalho, é parte da nossa função social", reflete. Ela fez parte dos elencos das montagens de "Que tempos são esses?", "Estação Terminal", "Luz nas trevas" e "A mandrágora". Como produtora trabalhou em "Canto negro".

Filha da arte-educadora e escritora Luciene Prado e do estudioso de plantas medicinais Fernando Fratante, Tayara é cria do Colubandê. Os pais se conheceram na região, onde também vive a família. Fratante é pesquisador respeitado. Tem receita de remédio natural para tudo. "Na época em que a companhia montou 'A Mandrágora', que exigia muito esforço físico, meu pai preparava diversos potes de sucupira e muita pomada de arnica para aliviar as dores do elenco. Aqui no Colubandê a gente acha erva plantada na rua. E no nosso quintal é grande a quantidade de plantas". É no teatro que ela se cura de tudo. "Saber que faço parte de uma companhia formada por artistas também periféricos, é motivo de orgulho", encerra. 

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