Por bianca.lobianco
Rio - Moradores de pelo menos sete cidades da Baixada Fluminense e vários bairros das zonas Norte e Oeste do Rio amanheceram sem uma gota d’água nas torneiras nesta quarta-feira, em meio a um calor que bateu os 38 graus, com sensação térmica de até 47,6. O problema foi causado por uma pane elétrica no sistema de abastecimento do Guandu, ocorrido na madrugada por conta das fortes chuvas que caíram terça-feira na região. Para piorar a situação, por volta das 11h, uma adutora da Cedae se rompeu, formando um ‘gêiser’ de mais de 20 metros de altura que alagou dezenas de casas em Santíssimo, na Zona Oeste.
Após a contenção da força da água, foi possível avaliar os estragos. Três carros destruídos, árvores e telhados quebrados, muros derrubados e dezenas de moradores muito assustados. Moradores perderam móveis e alimentos, e animais de estimação não sobreviveram à forte correnteza que se formou. Nenhuma pessoa se feriu. Em nota, a Cedae informou que realizou “manobra para descarregar a tubulação” e os reparos seriam concluídos ainda nesta quarta-feira.
A água invadiu casas a mais de 300 metros do local do vazamentoDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Sobre a falta d’água causada pelo curto-circuito, a empresa disse que os reparos emergenciais foram feitos e nesta quarta mesmo o fornecimento seria restabelecido no Rio e em Duque de Caxias, São João de Meriti, Nova Iguaçu, Queimados, Mesquita, Nilópolis e Belford Roxo. Já nas partes altas destas cidades isso pode levar até 48 horas.

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Morador da Estrada do Lameira, onde houve o rompimento da adutora, Romerino de Freitas, de 32 anos, ficou sem água para beber e cozinhar. “Não almoçamos até agora (13h30). E tinha gato e rato morto passando na água”, reclamou ele, que mora com a mãe. Romerino ainda criticou a falta de assistência às famílias: “Tinha que ter um agente de saúde aqui para prestar ao menos orientação. Vamos precisar de vacina contra hepatite. A Defesa Civil é importante, mas precisamos de uma defesa humana.”
Dona de um restaurante, Nivana Alves disse que deixou de faturar R$ 1 mil e perdeu a comida que preparou para o dia. “Não estragou nada ainda, mas se a luz não voltar logo, vou ter prejuízo maior.” Representante da associação de moradores do bairro, José Carlos Rodrigues disse que já havia alertado à prefeitura sobre os riscos de rompimento, mas nada foi feito. “O tubo passa muito perto de onde os carros circulam”.
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Moradores acreditam que a força da água após o religamento do Guandu pode ter causado o rompimento da tubulação, mas técnicos da Cedae no local não comentaram. A empresa ficou de levantar danos para ressarcir os moradores.
Moradores que já economizam há dias têm que pedir ajuda aos vizinhos
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Em Água Santa, bairro da Zona Norte que também foi afetado, tudo que o atendente de farmácia Jorge de Sousa, de 60 anos, queria fazer ao chegar em casa do trabalho era tomar um banho. Mas o abastecimento está incerto há 15 dias, e as torneiras secaram. “Peço água ao vizinho em um baldinho. Já cheguei a acordar às duas da manhã pra tentar bombear um pouco de água da rua”, contou.
José Carlos Barbosa, comerciante de 43 anos, empresta o balde para o vizinho tentar alguns litros de água por dia. Ele conta que na rua onde mora, a Borja Reis, o abastecimento também está precário. Ironicamente, o local tem vista para a Serra dos Pretos Forros, onde fica a fonte da água mineral Santa Cruz.
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Em Piedade, a universitária Ana Clara Brandes, 20, só não ficou sem água porque a família vinha economizando desde o aviso de racionamento da Cedae, pela manhã. “Estamos demorando bem menos no chuveiro, dando descarga de balde, deixando a louça acumular. Nem demos banho na cachorra, nem tomamos banho de mangueira”, relatou.
Em Irajá, as torneiras secaram na casa de Érica Amaral, 34 anos. A família passou o Natal sem água — o abastecimento parou no dia 24 e só voltou no dia 27. Nesta quarta-feira, ficou sem água novamente. “Faço quentinhas para vender e hoje não trabalhei”, lamentou Érica.
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Já na Zona Oeste, a família do universitário Rafael Soares, 25, está sem água desde terça. “Sábado e domingo ficamos sem água também. Sorte que temos a caixa, estamos economizando”. O Disque Denúncia também suspendeu os atendimentos por conta da falta d’água.
Menino morre em mergulho no Rio Pavuna
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Foi encontrado na manhã desta quarta-feira o corpo de Matheus Yuri Carvalho de Souza, de 13 anos, que havia desaparecido na noite de terça-feira no Rio Pavuna. Por causa da forte chuva, o rio estava cheio. Segundo familiares, o adolescente costumava brincar nas margens, mas não sabia nadar muito bem. Ele e um amigo teriam mergulhado quando já estava chovendo.
O corpo estava embaixo de uma ponte da linha férrea, perto da estação de trem da Pavuna. Bombeiros dos quartéis de São João de Meriti e da Pavuna participaram das buscas, com o auxílio de barcos. Outro adolescente de 13 anos continua desaparecido. Ele sumiu no Rio Sarapuí, em Mesquita, na Baixada Fluminense. O Corpo de Bombeiros retomará os trabalhos pela manhã.
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No fim desta tarde, voltou a chover forte no Rio e Região Metropolitana, e a volta para casa foi prejudicada por bolsões de água, principalmente em Irajá, Madureira e Piedade. A Linha 2 do metrô funcionou de forma irregular. Por 15 minutos a Estação Colégio ficou sem energia por conta da queda de árvores.
Com reportagem da estagiária Alessandra Monnerat