Não se pode falar na composição social dos subúrbios do Rio sem falarmos, obviamente, do Vizinho da Maquita, como falei na coluna da semana passada. Assim como o apaixonado cortador de piso e sua incansável obra duradoura, outras personalidades acabam por fazer parte dessa obrigatoriedade. E, nesse caso, é um cargo que pode ser usado de forma lícita ou ilícita. Esse é o caso do "padrinho".
Sempre conhecido, querido ou temido - ou tudo junto - por moradores, a figura do padrinho de bairro ocupa diversos cargos no dia a dia. Ele pode ser o faz-tudo da rua, o agiota, o militar aposentado ou da ativa, o dono do boteco, o mais velho, o que pretende ser vereador… Enfim, são tantas características que um padrinho pode ocupar - e, muitas vezes, ocupando mais de uma - que as linhas dessa coluna não seriam suficientes.
Vou falar de algumas: o coroa passarinheiro, fera na mesa de carteado, que acorda as 6h da manhã e vai para a padaria passear ostentando a gaiola do coleiro, certeza que é um potencial padrinho. A entidade Zé Pelintra, habitante das encruzilhadas e portas de bares e cabarés nas noites da cidade, também. E toda essa proximidade bem típica nossa é explicada pelo historiador Sérgio Buarque de Hollanda, em Raízes do Brasil, livros dos anos 50, quando fala sobre o quanto a complexidade de nossos dias faz o senso de proximidade entre desconhecidos florescer. É o caso de vizinhos que passam a fazer parte da família mesmo não sendo parente de sangue. Certo que dali sai um padrinho de alguém, do qual as crianças aprendem a tomar benção desde pequeno, beijando sua mão.
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