O Carnaval segue sendo o carro-chefe de nossa identidade - Divulgação
O Carnaval segue sendo o carro-chefe de nossa identidadeDivulgação
Por O Dia

Podem tentar os projetos políticos reacionários e moralistas que quiserem, pois jamais irão apagar a vocação para o prazer que a cidade do Rio nos inspira ter. E principalmente quando falamos de seus subúrbios. E se pararmos para analisar, a mudança desse foco caminha lentamente em direção a São Paulo.

Longe das rixas antigas entre as duas cidades, é preciso refletirmos sobre a ressaca que ainda permanece por aqui desde os Jogos Olímpicos de 2016; ainda não conseguimos sair desse marasmo que não nos permite enxergar o protagonismo cultural do Rio e possibilitar alternativas para retomar o crescimento. Às vésperas do Carnaval, precisamos pensar, por exemplo, em como a concentração dos chamados megablocos no trecho entre o Centro e a Zona Sul perpetua a ideia de uma cidade desigual, concentrada em áreas de privilégios diversos.

Pra começar a conversa: esses eventos carnavalescos vão de encontro à cultura dos blocos tradicionais. Nos subúrbios, eles ainda resistem: entre bate-bolas e turmas de clóvis, o senso de comunidade do suburbano sobressai nessa época e a vizinhança se mobiliza para movimentar os festejos. E quando falamos dos blocos de bairro no Rio, devemos lembrar do que fala Luiz Antônio Simas a respeito do samba que embala esses cordões: é o ritmo que promove a identidade local por meio da interação entre as pessoas.

Pensar a partir dos blocos de bairros suburbanos é começar a pensar no resgate dessa nossa vocação para o prazer. Daqui dos subúrbios estamos longe das vitrines turísticas do Rio, mas bem próximos da naturalidade do desenrolo e das gambiarras, típicas ferramentas da nossa sobrevivência enquanto cariocas.

Fragmentar opções na cidade
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A concentração até mesmo dessas manifestações carnavalescas em pontos específicos da cidade é o reflexo do nosso histórico de depreciação dos subúrbios. E, gente, vamos lá: em ano eleitoral, vamos atentar para os projetos que queiram promover a integração da cidade, não o aumento de seus muros! O Carnaval é um ótimo momento para começarmos a discutir isso entre nós, em nossos próprios bairros: por que somos depreciados? Por que nossos blocos não têm o mesmo investimento? Isso tudo começa por projetos políticos de depreciação ao longo da história do Rio. Mas os subúrbios respiram...
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Não chora, moralista de goela!
Falando em números, a estimativa é de que a cidade atraia 2 milhões de turistas. O governo do estado prometeu investimento do R$ 9 milhões no Carnaval de rua e a expectativa é de um movimento R$ 4 bi na economia da cidade. O que nos resta enquanto cidadãos é cobrar que essa grana seja destinada corretamente para os devidos fins: saúde, educação e segurança.
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E para o desespero dos moralistas de goela, o Carnaval segue sendo o carro-chefe de nossa identidade. Daqui ouço seus soluços e lamentos...
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