Lá se vão trinta e seis anos desde que o G.R.E.S. Em Cima da Hora colocou na avenida o samba-enredo "33 Destino Dom Pedro II". Seus versos, regravados por Jovelina Pérola Negra, exaltam o que acontece diariamente dentro dos trens do RJ, e é por isso que decidi falar sobre.
De lá pra cá, podemos ver que quase nada mudou: toda sexta-feira, a roda de samba no Japeri toma conta de um dos vagões e prova mais uma vez que a poesia do samba-enredo não perdeu sua cor: "Olhando a menina do laço de fita/ Batucando na marmita/ Pra ver o tempo passar/ Esquecendo da tristeza quando o trem avariar...". E quem pega na Central, sabe muito bem o que é ouvir o grito de "VARIÔ!": quem estava sentado, corre para tentar manter o posto no outro, e quem estava em pé pode se dar bem.
A cultura do trem é rica em detalhes: como fala na letra, "na viagem tem jogo de ronda, de damas e reis/ Vendedores, cartomantes , repentistas/ Tiram onda de artistas no famoso 33...", hoje ainda podemos presenciar essas situações. Camelôs gritando suas mercadorias, artistas fazendo suas performances, pregações cristãs e pedintes se balançam sobre trilhos.
E se tem uma coisa certeira nessa obra são os seguintes versos: "O suburbano, quando chega atrasado/ O patrão, mal-humorado/ Diz que mora logo ali...". Quem faz esse trajeto diariamente sente o impacto dessa letra. O pedido do "chefe" é sempre o mesmo: "acorda um pouco mais cedo".
E faço minhas as palavras de seus compositores: "Mas é porque não anda nesse trem lotado, com o peito amargurado, baldeando por aí. Imagine quem vem lá de Japeri..."