Coluna Suburbano. A razão do dia a dia: 33 destino D. Pedro II. Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Coluna Suburbano. A razão do dia a dia: 33 destino D. Pedro II. Arquivo PessoalArquivo Pessoal
Por Vitor Almeida

Lá se vão trinta e seis anos desde que o G.R.E.S. Em Cima da Hora colocou na avenida o samba-enredo "33 Destino Dom Pedro II". Seus versos, regravados por Jovelina Pérola Negra, exaltam o que acontece diariamente dentro dos trens do RJ, e é por isso que decidi falar sobre.

De lá pra cá, podemos ver que quase nada mudou: toda sexta-feira, a roda de samba no Japeri toma conta de um dos vagões e prova mais uma vez que a poesia do samba-enredo não perdeu sua cor: "Olhando a menina do laço de fita/ Batucando na marmita/ Pra ver o tempo passar/ Esquecendo da tristeza quando o trem avariar...". E quem pega na Central, sabe muito bem o que é ouvir o grito de "VARIÔ!": quem estava sentado, corre para tentar manter o posto no outro, e quem estava em pé pode se dar bem.

A cultura do trem é rica em detalhes: como fala na letra, "na viagem tem jogo de ronda, de damas e reis/ Vendedores, cartomantes , repentistas/ Tiram onda de artistas no famoso 33...", hoje ainda podemos presenciar essas situações. Camelôs gritando suas mercadorias, artistas fazendo suas performances, pregações cristãs e pedintes se balançam sobre trilhos.

E se tem uma coisa certeira nessa obra são os seguintes versos: "O suburbano, quando chega atrasado/ O patrão, mal-humorado/ Diz que mora logo ali...". Quem faz esse trajeto diariamente sente o impacto dessa letra. O pedido do "chefe" é sempre o mesmo: "acorda um pouco mais cedo".

E faço minhas as palavras de seus compositores: "Mas é porque não anda nesse trem lotado, com o peito amargurado, baldeando por aí. Imagine quem vem lá de Japeri..."

Almejar as regalias…
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A composição é de 1984, período em que o regime ditatorial caminhava para seu fim - ao menos no papel. De ali a alguns anos, nossos pais, mães e avós contam sobre as constantes trocas de preços diários que se sucederam nos supermercados e as filas para enfrentar o racionamento (e alguns macetes para driblá-lo…).
Fatos recentes, como, os protestos de 2013, confirmam a atualidade da composição: dentre diversas reivindicações, foram muitos os pedidos para que atendimentos públicos básicos também tivesse "padrão Fifa".
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...e o progresso da nação
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Não é mole, não! Gasolina altíssima, cortes nos direitos trabalhistas, o desemprego que teve recuo, mas com aumento significativo no número de trabalhos informais. Dentre esses aspectos, quando subo em um vagão para ser um dos cerca de 600 mil passageiros transportados em dias úteis, imagino quais os sonhos passam e perspectivas de vida passar peles corredores do "cara-de-lata" ou do "chinês". O samba-enredo da Em Cima da Hora é sobre isso: a vida que passa por ali e como ela se desenrola diante da pressão do cotidiano. Imagine você quantas ilusões e desilusões vão e vêm sobre os trilhos...
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