Neste último domingo, o Rio de Janeiro comemorou seus 455 anos. Para os subúrbios da cidade, nem tanto: bairros alagados deram o tom do que Tom Jobim cantava dedilhando seu piano quando falava das "águas de Março fechando o verão", que de promessa de vida para os corações suburbanos nada trouxeram.
E sempre que a cidade passa por esse caos diante de chuvas torrenciais é lembrada a madrugada do dia 10 de janeiro de 1966. A data paira sobre as lembranças dos mais velhos e dos arquivos históricos como para nos lembrar do episódio que ficou caracterizado como a pior enchente que o Rio já documentou. As estimativas são de 250 mortos, mais de mil feridos e cerca de 50 mil desabrigados.
O horror não se deu somente diante das águas que castigavam: dois anos antes, o regime militar imposto já vigorava. Relatos de moradores de áreas atingidas nos contam o tratamento truculento dado àqueles que foram resgatados e levados ao complexo do Maracanã; gritos disciplinadores tentavam pôr ordem sobre os mais pobres, vindos principalmente de favelas atingidas.
No ano seguinte, novamente a chuva volta a castigar em janeiro, e dessa vez o discurso vem do imaginário e da crença de cada um: o feriado do dia 20 de janeiro destinado ao padroeiro da cidade, São Sebastião, teria sido mudado, o que viria a causar uma sucessão de chuvas catastróficas, vitimando centenas de pessoas e, novamente, trazendo a destruição para os mais pobres.
Até hoje se conta sobre essa mudança de feriado; a velha-guarda narra o fato num misto de respeito ao santo católico e indignação com uma situação que é corriqueira na história da cidade...
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