Colunista do DIA, André Gabeh chega no festival literário com a continuação do livro 'Suburburinho'  - Luciano Belford/Agência O Dia
Colunista do DIA, André Gabeh chega no festival literário com a continuação do livro 'Suburburinho' Luciano Belford/Agência O Dia
Por André Gabeh
Rio - Madureira, o celeiro de todas as peculiaridades, a mãe do Subúrbio, o ventre de IANSÃ, tem abrigado um evento chamado WAKANDA EM MADUREIRA. Conhecem? Menino, o babado é forte. Fortíssimo! WAKANDA EM MADUREIRA é reunião dos pretos. É celebração da pretice, do pretume, da pretitude. É uma tomada de espaço, uma ação afirmativa de ser, estar, de se olhar e se reconhecer no outro, de se aterrar e se apropriar. Negros livres, leves, soltos, se amando sem a preocupação de estar agradando as normas cultas eurocentradas. Auto estima negra. Ali a carne mais barata é a do churrasco, dos hambúrgueres, dos recheios dos salgados. A carne preta é caríssima, banhada de auto-amor e blindada contra os chicotes do preconceito. É FESTA! Festa preta, pra pretos. Sem preconceito. É só um lugar pra iguais, com vivências iguais. Os orientais que vivem no Brasil tem suas festas exclusivas, não tem? Os europeus que aqui se instalaram, tem suas tradições e reuniões em que celebram sua origem e homenageiam seu espólio cultural, não tem? Os judeus brasileiros são cheios de rituais e práticas que os colocam quase que em um mundo à parte, não é? Tu vê um ou outro furando esse bloqueio e sendo penetra nessas festas e você não chama os anfitriões de preconceituosos porque sabe que essas pessoas “tem suas tradições e precisam ser respeitadas”, né? Então não entra nessa de se sentir excluído num evento de pretos só porque você não é preto. A César o que é de César, a Davi o que é de Davi, a Buda o que é de Buda, a Zumbi o que é de Zumbi. Normal. Sem dramas.

É bonito de ver, gostoso de estar. É a alegria que nossos ancestrais não tiveram na senzala e que agora resgatamos com coroas na cabeça. Coroas de tranças, dreads, turbantes, pensamentos, ideias, sorrisos. O Atlântico tem muito de nossas lágrimas em seu sal e é importante que a gente adoce a terra com nossa alegria. E o povo de WAKANDA tá conseguindo essa proeza. É importante andar sobre o que é seu, sobre o que é nosso, de cabeça erguida, sem pedir licença a um suposto dono. Jonathan Raimundo e Dandara Barbosa são os pais dessa criança parruda, bonita, risonha, suburbana e preta. Vocês precisam conhecer esses dois. Coisa linda de tudo.

Tem criança correndo, tem as véia e os véio só de butuca observando, tem balançação de popô na dança, tem beijo, abraço, tem comida, tem empreendedores vendendo suas lindezas. Tem arte. Tem muito pra ser ouvido e aprendido e tem muita orelha pra te escutar. Tem força. Tem lucidez. E é um povo bonito pra dedéu… Meu piranhismo vegano quântico chega a descer em espiral e cair sobre mim em forma de encosto de Caboclo-pula-pula! Oremos em Cristo e em Oxalá Jirê.

Um dia, lá no futuro, o ser humano voltará ao trilho que o levará de volta ao que ele nasceu pra ser: ÓTIMO! Nesse dia todos, REALMENTE, seremos iguais em direitos, deveres e teremos liberdade pra nos sermos na mais absoluta inteireza, respeito, amor e igualdade absoluta. Até lá a gente vai se colocando no espaço, correndo atrás do prejuízo e aprendendo a se amar numa sociedade que nos relegou a um lugar de requerentes. Wakanda em Madureira é a beleza de ser e a riqueza de estar. Axé. PRA TODOS.

Pausa em Wakanda!

Meu povo! Eu sou disléxico que nem um boi que acha que é pinto, e escrevi uma loucura no texto passado que só minha amiga e leitora Lucia Justino Andaca de Afofô me alertou: Ao invés de escrever colher de pau eu coloquei PANELA DE PAU no texto sobre as tias. Gente! Como seria uma panela de pau? Onde se colocaria uma panela dessas pra cozinhas? Misericórdia. Já vejo o incêndio aqui e chego a tremer. COLHER DE PAU. Repitam comigo: CO-LHER DE PAU. Eu hein.

Agora vou ali malhar um pouco, porque no próximo WAKANDA eu quero ir bem sarado e vestido de Pantera Negra da Praça Seca, com aquela roupinha mais justa que Deus.

Me sigam nas redes sociais e falem comigo por lá pra gente fofocar mais e rir dessa vida que anda muito esquisita, mas ainda bate um bolão;

Beijos de coxinha sem catupiry.

Axé.