André GabehLuciano Belford/Agência O Dia
Por André Gabeh
Rio - Não sei em que hora do dia você lerá minha crônica, mas hoje é domingo, dia oito de setembro e as três horas da tarde eu estarei estreando como autor na BIENAL DO LIVRO no Rio de Janeiro. Se você estiver me lendo nessa manhã dominical, saiba que eu estarei em casa no auge da ansiedade chamando Jesus de Tupã e deixando minha mãe louca por não achar nada meu, porque quando fico nervoso, minha memória recente fica pior do que a da peixa Dory.

Bienal!

Gente!! E estarei (ou estou, não sei se leu antes das 15 horas. Ou estive, não sei se leu depois... Ai socorro. Vou falar tudo no futuro porque o tempo literário é quântico e no frigir dos ovos, na real das reais, estou escrevendo esse texto numa sexta feira. Beijos)... Retomando: Estarei na Bienal como autor dos meus livros e ilustrador do livro de uma outra autora: Luciana Belém.

Tô muito importante. Tô achando muito lindo esse movimento de escrever e ser chamado de escritor. Me sinto mais importante que obstetra de presídio feminino (isso existe?? Eu também não sei se existo). Gosto.

E eu estava achando que escrever era uma grande novidade na minha vida, mas outro dia lembrei que já participei de uma coletânea de contos chamada REMETENTE N 15 e, antes disso, pasmem (pasmem e saiam correndo), eu mandava textos pra umas revistas de sacanagERROR404!! Sabem?? Aquelas histórias de que fulano fez gato e sapato com ciclano ou ciclana ou com algum outro ser vivo,nas revistas paudurecentes?? Sabem? Então, eu escrevia esses contos e mandava pras revistas. Quando eram aprovados (uns cinco foram) eu ganhava ou uma revista, ou um vale pra comprar revistas, ou, muito raramente, um chequezinho que hoje valeria uns vinte reais. Só ganhei um.

Socorro.

Muita cara de pau gente. Eu tinha uns 14 anos. Virgem, virgem. Escrevia horrores sem nunca ter ficado pelado na frente de ninguém além dos meus pais e do meu pediatra. Lia as revistas pornôs que encontrava (antigamente até a café-com-leite ELE E ELA tinha esses encartes com relatos eróticos) e reproduzia tudo com requintes de safadeza. Eu era o DOTADO DO ESCRITÓRIO, a FURIOSA DO ANAL, era a mãe safado do PALHAÇO DA FESTA DO MEU FILHO, era o pai safado da SURUBA COM MINHAS CUNHADAS. Gente... Eu tinha uns trezes anos. Usava os dados do meu pai e ele nunca soube disso. Até pra descontar o cheque eu inventei um caô que nem lembro mais. Gente... Eu virjão escrevendo que não sei o que cresceu e entrou não sei onde, que a língua passou por aqui, por ali e pela avenida Brasil em dia de chuva, que a fulana sentiu um frenesi nos cantinhos escuros. Olha.... uma safadeza... Uma vez minha mãe encontrou rascunhos do meu texto e aleguei encosto.

Ela gritava: QUE POUCA VERGONHA É ESSA?? E eu respondia, babando e revirando os olhos: MEU NOME É LEGIÃO E EU SOU PORNÔ. Minha mãe me levou pra falar com um caboclo do Caminheiros da Verdade.
Tadinha. Até chorou.

Depois, no antigo Orkut, eu escrevia sob o perfil falso “SALOMÉIA KAMIKAZI” em uma página onde eu e mais dois amigos atualizávamos diários de figuras públicas mundiais, inclusive ícones religiosos como se eles fossem gays. Fomos ameaçados de morte e eu excluí o perfil e logo depois excluíram a página.

Tenho uma história de escritor secreto... é mole? É. É duro também.

Gente, anos na clandestinidade safadológica e agora estou todo meiguinho falando do subúrbio, falando
de fofura, de singeleza... Do BiAnal pra Bienal.

Mentira haha, eu misturo tudo e SUBURBURINHO 2 é sobre a vida, e a maioria das pessoas vivas nesse planeta tem um pouco de DERCY e um pouco de IRMÃ DULCE na alma.

O mais legal de escrever é ser lido e encontrar pessoas que se reconhecem e se libertam nas nossas histórias e é muito lindo ser artista e ter um reconhecimento. A gente começa a perceber que todo esse peso que sentimos nas nossas costas ,na verdade são asas enormes, que o olhar dos outros vai nos ajudando a aprender a usar.

Poetei a beça agora.
Obrigado a todos.
Nos vemos no meio do sucesso e da alegria mútuos.

#artistasuburbanoreflexivo