André GabehLuciano Belford/Agência O Dia
Por André Gabeh
Rio - Olá amiguinhos leitores queridos! Precisei dar uma pausa no conto CosmiDamiânico pra comentar uma coisa muito importante: A DRAMATURGIA SUBURBANÓI DE DE ALGUNS FILMES, NOVELAS E SÉRIES que falam sobre o SUBÚRBIO CARIOCA. Amigos roteiristas dessas bombas: tomai e bebei desse meu texto que esse é o copo de geleia que reutilizei pra te oferecer uma dose de noção com três gotinhas de Dietil.

Qual é o babado monamúr? Se eu for escrever sobre a igreja católica, herege que sou, faria uma pesquisa tão profunda que depois dos roteiros aprovados eu estaria apto a batizar, casar, dar a última unção e, quiçá, usar calças eclesiasticamente sensuais, grudadas nuzóvu e a gravar um CD com participação da Joana, Katia Cega e Fafa de Belém. Que isso que vocês tomam que causa delírios e alucinações sobre a realidade sobre a qual querem escrever?

Outro dia assisti a um filme sobre suburbanos que iam à praia e tive um AVC em cada banda da bunda. No filme TODOZOSSUBURBANOSGRITAM e os personagens meio mau caráter também URRAM como se estivessem usando abacaxis como supositórios. Ou seja, GRITO é um código pra identificar tipos abjetos e incômodos. Pohan... Cara. Quem acha que suburbano só grita não conhece nossas técnicas de nos comunicarmos só com um gesto aqui e outro ali, não conhece a tia da bermuda de cotton que cochicha um monte de coisas e só escuta quem ela quer, não conhece a mãe que fala baixinho: “Larga essa merda de boneca vesga Rayanne, ou vou te arrebentar...”. Não conhece Rayanne , que vai responder mais baixinho ainda: “feiosa, chatona”. Nem vai perceber a mãe de Rayanne dando uma bonecada na cabeça da eréia. Não conhece o Bira que seduz baixinho e fala coisas como: “Por obséquio, aceita essa contra dança?”. Parem! A gente grita sim. Horrores. Mas é pra celebrar, pra discutir, pra demarcar território. Só os muito mal educados que dão escândalo o tempo inteiro e, mesmo assim, não se criam com a velha guarda que manda calar a boca, manda falar mansinho “porque você não está na sua casa”. Eu hein. A surdina é uma cultura muito forte no subúrbio.

E quando vi Grazi Massafera de cabrocha sambista suburbana apaixonada pelo samba pelo batuque pelo clamor dos navios negreiros que samba parecendo aquelas bonequinhas de caixinha de música? O que eu senti? Nada contra a Grazi, tenho até amigas que são, mas gente... Só quem é do subúrbio sabe o coió que ela tomaria numa quadra de escola de samba. E não to criticando o fato dela ser loura, porque tem loura no subúrbio, de nascimento e de enfarmaciamento. Mas Grazi é tão sambista quanto eu sou samurai. Fico imaginando a criação do personagem: MULHER, GUERREIRA, SUBURBANA, ENGAJADA NAS CAUSAS DA
COMUNIDADE. APAIXONADA POR SAMBA, CABROCHA, QUASE UMA TIA SURICA... Aí, depois de todas as características definidas, o autor conclui: Alguém assim só pode ser interpretado por duas pessoas: ELIANA DOS DEDINHOS ou ANGÉLICA. Vai Grazi. Queria ver se eles criassem um personagem GAÚCHO, CHURRASQUEIRO DE CTG, DANÇARINO DE CHULA, VICIADO EM CHIMARRÃO, DESCENDENTE DE BENTO GONÇALVES e escalassem o Mumuzinho pra interpretá-lo. Eu hein. E só pra encerrar esse parágrafo: Essa coisa de sempre mostrar TODO SUBURBANO como sambista e como pessoas que andam de camisa de time pra cima e pra baixo é fruto de uma visão muito curta e preguiçosa sobre a gente. E isso de que TODO SUBURBANO anda mal vestido, é pobre, é grosseiro e sonha em morar na Zona Sul pra sentir que subiu na vida? Nessas séries tem sempre um suburbano que sonha em sair do subúrbio ou que enriquece e vai morar longe de sua origem, só pra gente assistir ao choque cultural da situação. Aí o personagem se arrepende e volta pro seu bairro com o rabinho entre as pernas. Parece que todo suburbano tem limitações cognitivas. Eu hein.

Nessas séries tem suburbano que fala mal do Méier. Méier tem tudo, minha gente! Teatro, cinema,
shopping, trem, ônibus, hospital... Méier é a NOVA IORQUE do subúrbio. O Méier é ótimo.

Esse povo não nos conhece.

#ARTISTASUBURBANOREFLEXIVO