Um Olhar sobre o Rio - Arte Paulo Márcio
Um Olhar sobre o RioArte Paulo Márcio
Por Nuno Vasconcellos
Passei a prestar atenção ao estilo vitorioso do treinador Jorge Jesus antes, imagino, da maioria dos torcedores brasileiros. Português de nascimento, nunca escondi que tenho pelo Benfica, de Lisboa, uma paixão semelhante à que desenvolvi pelo Flamengo na terra que me acolheu e adotou: o Brasil e, em especial, o Rio de Janeiro. Com o Benfica, o Mister, como é chamado, foi tricampeão português e levantou por seis vezes a Taça da Liga de Portugal (a equivalente lusa da Copa do Brasil). Lá, como se tornaria aqui, era reconhecido e admirado mesmo pelos que não torciam pelo time dirigido por ele.
Assim que Jesus chegou ao Brasil, em junho do ano passado, não tive dúvida de que o técnico conduziria o Flamengo a uma era de conquistas. Não porque, a despeito do nome, seja capaz de milagres. O que ele nos ensina é que as conquistas são consequência de um trabalho incessante. O que ele tem de mais inovador é a capacidade de organizar os atletas de forma clara, objetiva e eficaz, definindo o papel que leva cada um a contribuir para a construção da vitória coletiva.

Pensando na força que um líder como ele foi capaz de dar ao Flamengo, é inevitável imaginar que o Rio de Janeiro tem muito a ganhar caso a população escolha para prefeito, nas eleições deste ano, um líder com as características de Jorge Jesus. Ou seja, alguém que saiba exatamente o que fazer para livrar a cidade do risco de cair para a segunda divisão e dar a ela os títulos que merece.
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Nuno Vasconcellos - Daniel Castelo Branco


Assim como o Mister sabia o que fazer quando assumiu o Flamengo, o prefeito que assumir o comando do Rio no dia 1º de janeiro de 2021, precisa ter o compromisso com a obrigação de devolver ao Rio, um lugar belíssimo por natureza, a condição de uma das melhores metrópoles do mundo. Um lugar que ficou conhecido como Cidade Maravilhosa não só pela riqueza natural que a cerca, mas pela alegria e alto astral de seus moradores.

No Rio, a zeladoria — ou seja, os recursos aplicados na conservação da cidade — não podem ser vistos como custo, mas como investimento. A varrição das ruas, a recuperação das calçadas e a manutenção dos parques e jardins são investimentos que, ao lado da segurança, estimulam uma das maiores vocações de geração de renda na cidade: o turismo. Uma indústria de turismo ativa, bancada pelo capital privado sob orientação da prefeitura, estimula investimentos na produção artística, na indústria do entretenimento, na gastronomia e em tudo que gira em torno dessa força produtiva conhecida como economia da cultura.
Outra vocação do Rio é ter um papel relevante na vida financeira do país. A prefeitura pode perfeitamente liderar um programa de estímulo à instalação de fintechs (que são os bancos da era digital) e de outras iniciativas no mundo da tecnologia da informação. Ou seja: um olhar inovador da administração pública pode encontrar naquilo que hoje é visto como problema a solução que trará o otimismo de volta ao Rio.
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As condições estão aí. Se os pré-candidatos à prefeitura aceitarem um conselho, dado com a humildade de quem, não tendo nascido aqui, escolheu esta cidade como sua, é o de investir na alegria e na autoestima do carioca. Mais do que uma característica do povo, esse é um recurso a ser utilizado em benefício da cidade.