nuno29novARTE KIKO
Por Nuno Vasconcellos
Publicado 29/11/2020 06:00
Antes que o dia se hoje termine será conhecido o nome daquele que administrará o Rio de Janeiro nos próximos quatro anos. Ganhe quem ganhar, já é possível dizer que o vitorioso não terá uma tarefa simples pela frente. As dificuldades que a cidade enfrentará nos próximos quatro anos serão maiores e mais pesadas do que um dia foram ao longo dos 455 anos de vida da cidade. Verdade seja dita: o Rio nunca necessitou tanto de alguém que o conheça e tenha amor por ele quanto neste momento.
No quadro atual e diante do quadro de calamidade da administração municipal, a primeira ferramenta a ser utilizada pelo prefeito terá que ser a sinceridade. Ele terá que de encarar a população de frente, olho no olho, enumerar os problemas e definir prioridades. As dificuldades estão por toda parte: na Saúde, na Educação, no transporte público, na zeladoria, na conversação das via públicas e em qualquer outro serviço de responsabilidade da prefeitura.
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A segunda providência da nova administração será apresentar uma agenda detalhada e dizer, ponto por ponto, o que será feito para por em ordem uma casa praticamente destruída. Acuado por quatro anos de uma gestão equivocada, que deixou a desejar em matéria de organização, de eficiência e de transparência, o carioca exige que a cidade recupere o tempo pedido. Exige que o município volte a ter capacidade de iniciativa para que as pessoas, mais uma vez, vejam o Rio como uma cidade capaz de lhes proporcionar bem estar, segurança e felicidade.

ADMINISTRADOR E POLÍTICO — Ainda que o atual ocupante do cargo venha a contrariar tudo o que indicam as pesquisas mais recentes e saia vencedor, ele terá que fazer uma escolha: ou muda sua forma de governar ou corre o risco sério de ter o mandato abreviado por exigência popular. Ele terá, além de tomar providências para solucionar os problemas que sua própria administração criou, que passar a governar para todos e não apenas para seus eleitores confessos. É pouco provável que isso aconteça: pelo que mostram as pesquisas, só mesmo um milagre parece ser capaz de mantê-lo no cargo.
Como os milagres, por mais que se acredite neles, só beneficiam aqueles que fazem por merecê-los, tudo leva a crer que Marcelo Crivella não terá a chance de corrigir os erros que cometeu. O carioca deu ao longo da campanha sinais cada vez mais evidentes de que já não suporta a situação a que a cidade chegou nas mãos dele. E que está inclinado a encerrar de uma vez por todas o ciclo de poder de Crivella no município.
Essa realidade, sem dúvida, parece gerar benefícios eleitorais para o candidato Eduardo Paes.
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Na mesma medida, porém, ela aumenta sua responsabilidade: o tamanho do problema não poderá ser usado como desculpa nem aliviará o peso da cobrança que pesará sobre o novo prefeito. Caso seja mesmo o vencedor, como parece que será, Paes passará a ser o responsável pelos destinos da cidade neste momento desafiador. Para ter sucesso deverá ser ao mesmo tempo um administrador eficiente e um ótimo político.

NOVOS PARADIGMAS — Sim. O Rio não chegará a lugar algum se o prefeito não tiver capacidade de articulação e coragem para, nos limites da lei, desafiar alguns dogmas da administração pública que, nos últimos anos, tornaram-se modelo de administração para o país inteiro. Um deles, é o que trata da dívida pública. A situação financeira do Município do Rio de Janeiro desceu a um abismo tão profundo que o endividamento acabará por ser tornar necessário.
Esse, por sinal, parece ter se tornado o único caminho capaz de reduzir a dependência da prefeitura em relação à União e ao governo estadual. Isso mesmo. A Prefeitura do Rio de Janeiro terá que buscar apoio político para conseguir emitir títulos e pagar por eles ao longo das próximas décadas. Essa possibilidade, que atualmente não existe, terá que ser construída por meio da articulação política e talvez seja a única forma de, no curto prazo, se levantarem os recursos para fazer o que o município necessita precisa. Outro dogma que terá que ser contrariado diz respeito aos gastos públicos. Não é hora de economizar dinheiro, mas de gastá-lo com critério.
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Nada disso será suficiente para tudo. Será preciso recuperar a confiança dos investidores privados e transformá-los em parceiros da reconstrução. Para uma prefeitura que não tem dinheiro, o caminho das Parcerias Público-Privadas é uma forma segura e eficiente de se resolver os problemas do Rio. Senão todos, a maioria dos serviços públicos básicos pode ser transferida para empresas privadas — contratadas de forma transparente e fiscalizadas com zelo pelo poder público. Apressar esse tipo de solução será, no mínimo, uma forma de ganhar tempo.
Atenção! Dizer que existem essas saídas é a boa notícia. A má notícia é que os recursos que poderão vir daí talvez não sejam suficientes, no curto prazo, para tudo que precisará ser feito para fazer a cidade voltar a andar para a frente. Quem vive no Rio, infelizmente, sentiu na própria pele os efeitos da omissão de uma prefeitura que, a cada dia, se tornou mais ausente e distante da vida da população. Os governantes precisam se reaproximar do povo e demonstrar amor por ele. Isso é fundamental para o carioca voltar a sorrir e recuperar a confiança em sua cidade.
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