nuno10janARTE KIKO
Por Nuno Vasconcellos
Publicado 10/01/2021 06:00
As travas que impediam o início de uma campanha de vacinação contra o coronavírus no Brasil, num momento em que outros 50 países do mundo já deram início à imunização de seus cidadãos, começaram ser derrubadas na semana passada. De uma hora para outra, providências que vinham sendo adiadas começaram a ser tomadas. E tudo passou a andar num ritmo tão acelerado que algumas perguntas se impõem. Por que demorou tanto? Por que as autoridades brasileiras adiaram tanto a busca de uma solução para o problema sanitário mais grave do século?
Talvez esse mistério jamais venha a ser esclarecido. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na quinta-feira passada, insistiu em dizer que o governo vinha se preparando há meses para colocar a máquina da vacinação em massa para funcionar. Se tudo começou a andar agora foi porque providências fundamentais foram tomadas meses atrás. Sem por em dúvida a palavra do ministro, o certo é que só agora a população começou a enxergar a luz no fim do túnel. E passou a acreditar que a vacinação, finalmente, virá. Antes tarde do que nunca!

RECURSOS DISPONÍVEIS — Providências simples que vinham sendo adiadas começaram a ser tomadas de uma hora para outra e, nesse cenário, o caso do Rio de Janeiro é exemplar. As medidas de enfrentamento da pandemia adotadas pelo prefeito Eduardo Paes nos dez primeiros dias de mandato parecem mais acertadas e eficazes do que tudo o que foi feito por seu antecessor desde que os primeiros casos foram diagnosticados na cidade, em março do ano passado. Paes nada fez de extraordinário. Apenas avaliou os recursos disponíveis, os organizou e pôs para trabalhar em benefício da população do Rio.
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Os 50 primeiros novos leitos de UTI do Hospital Ronaldo Gazolla — de um total de 343 que a prefeitura disponibilizará nos próximos dias em diversos hospitais — começaram a funcionar na semana passada. A medida é necessária para que pessoas infectadas não padeçam sem tratamento nos corredores das unidades de Saúde, como vinha se tornando uma rotina macabra no Rio de Janeiro.
Outra providência simples, mas importante para tranquilizar a população, foi a de preparar 450 postos de Saúde em toda cidade para dar início à vacinação em massa. Quando a vacina chegar, a população já saberá para onde se dirigir e, quando chegar lá, deverá encontrar seringas, refrigeradores e, sobretudo, profissionais capacitados a aplicá-la. Sendo assim, a pergunta essencial é: e a vacina? Quando estará disponível?
Na sexta-feira passada, Paes informou que a imunização no Rio deve começar no mesmo dia em que o governador de São Paulo, João Doria, pretende iniciar a vacinação em seu estado. Ou seja, 25 de janeiro. É, sem dúvida, um avanço: dias atrás, o governo previa o início da imunização em larga escala para o mês de março. Quanto antes, melhor: o importante é que todo o país tenha logo acesso à vacina e se livre da ameaça do vírus.

CARÁTER EXCEPCIONAL — Para ter vacinas disponíveis para o início à campanha, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou em caráter emergencial a importação de dois milhões de doses da vacina desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a universidade britânica de Oxford. Trata-se da mesmíssima vacina que, no Brasil, será produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pergunta que se impõe, nesse caso, é: por que a Índia, de onde virão os imunizantes, já dispõe da vacina em quantidade suficiente para exportar e o laboratório brasileiro, um dos mais eficientes do mundo, ainda não deu início à produção industrial?
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Infelizmente, não é possível responder a essa pergunta sem apontar o dedo na direção do governo federal e da Anvisa. Até a semana passada, o Brasil só poderia importar insumos para produção de medicamentos depois que todas as informações técnicas e científicas relativas a uma determinada droga passassem pelo crivo da agência — num processo que poderia se estender por anos. Apenas na última quarta-feira, dia 6, o governo, por meio de uma medida provisória, permitiu que os insumos necessários à produção de vacinas contra o coronavírus possam ser importados em caráter excepcional.
Depois que a MP foi assinada, tudo começou a andar. A chegada do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) que marcará o início à produção em larga escala deve acontecer nos próximos dias. Depois, o próprio IFA será produzido no Brasil. As mesmas regras valerão para o Instituto Butantan. O laboratório paulista, até agora, vinha apenas envasando em seus laboratórios a vacina que chegava pronta de sua parceira chinesa, a Sinovac. Agora, dará início à produção em larga escala.
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Juntas, as duas instituições têm condições de produzir vacinas suficientes para imunizar toda a população brasileira e ainda salvar vidas em outros países. A instituição paulista já dispõe de 11 milhões de doses. Somadas aos dois milhões que virão da Índia, é uma quantidade mais do que suficiente para imunizar os dois grupos prioritários. O primeiro é o dos profissionais da Saúde, sobretudo daqueles que atuam na linha de frente do combate à pandemia. O outro, é do da população com idade superior a 60 anos. Das 200 mil pessoas que tiveram as vidas ceifadas pela pandemia, 154 mil (ou 77%) do total, tinham mais de 60 anos. Depois virão os outros e, se tudo continuar andando em boa velocidade, o país estará imunizado antes que se esperava. Tomara.



(Siga os comentários de Nuno Vasconcellos no twitter e no instagram: @nuno_vccls)
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