Publicado 13/06/2021 06:00
Por mais inoportuna que tenha sido a largada antecipada da campanha eleitoral de 2022, num momento em que o país ainda enfrenta problemas sérios com a pandemia do coronavírus e com a paralisia da atividade econômica, é inegável que a sucessão presidencial está nas ruas. Os candidatos podem até tentar se manter discretos, mas seus apoiadores não escondem de ninguém que eles estão de olho no voto do eleitor. Nada de novo até aqui.
Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e o presidente Jair Bolsonaro, ainda sem partido, liderando as primeiras pesquisas de intenção de voto, muitos já dão a fatura como liquidada. Por essa visão, parece inevitável que a disputa, no final das contas, se dê apenas entre os dois. A pergunta óbvia diante de tudo isso é: será que isso é verdade?
SINAIS DE CANSAÇO — Dar uma eleição por decidida com tanta antecedência significa negar a essência da própria democracia — em que a palavra final cabe ao eleitor. Conforme foi dito aqui na semana retrasada, cerca da metade dos eleitores ainda não escolheu em quem votará no ano que vem. Some-se a isso o fato de serem percebidos no cenário alguns indicadores que podem ter influência sobre o ânimo do eleitor.
SINAIS DE CANSAÇO — Dar uma eleição por decidida com tanta antecedência significa negar a essência da própria democracia — em que a palavra final cabe ao eleitor. Conforme foi dito aqui na semana retrasada, cerca da metade dos eleitores ainda não escolheu em quem votará no ano que vem. Some-se a isso o fato de serem percebidos no cenário alguns indicadores que podem ter influência sobre o ânimo do eleitor.
Na semana passada, o IBGE anunciou que o PIB do primeiro trimestre deste ano superou as expectativas e registrou um crescimento de 1,2%. No primeiro trimestre do ano passado, apenas para efeito de comparação, a Economia recuou 2,2%. O resultado é importante e deve ser comemorado, mas é preciso cuidado antes de afirmar que ele pode trazer algum benefício eleitoral a Bolsonaro ou a Lula.
A maior parte do resultado positivo se deve ao agronegócio e ao impacto positivo da elevação da taxa de câmbio sobre as exportações de commodities. No indicador que reflete a situação financeira das famílias, que é a taxa de consumo, houve decréscimo. No ano passado, o consumo teve uma participação de 3,1% na formação do PIB. No primeiro trimestre, houve uma queda de 0,1% nessa contribuição — o que, em matéria de PIB, tem um peso considerável.
A situação pode evoluir para um lado ou para o outro, ao sabor do impacto da Economia sobre o bolso das famílias e é justamente aí que está o xis da questão: uma parte expressiva do eleitorado, além de não saber em quem vota, tem demonstrado sinais de cansaço cada vez mais evidentes não apenas com a situação da Economia como, também, com o clima polarizado que tomou conta da política brasileira.
No meio desse cenário ainda nebuloso, cresce a importância de um grupo de eleitores que, por sua densidade e por sua capacidade de mudar o rumo de seu voto a cada eleição, pode se tornar o fator mais decisivo do próximo pleito. Refiro-me, claro, ao eleitor do Rio de Janeiro.
TAXA DE IMPREVISIBILIDADE — De todos os eleitores do país, o fluminense é o mais surpreendente — e é justamente aí que está sua importância no processo. O voto nordestino, por exemplo, é marcado por uma forte tendência governista — explicada pelo impacto dos programas sociais na região e pela adesão quase automática das principais lideranças regionais ao governo da ocasião. O eleitor do centro-oeste, por sua vez, é o mais identificado com as bandeiras liberais e conservadoras.
TAXA DE IMPREVISIBILIDADE — De todos os eleitores do país, o fluminense é o mais surpreendente — e é justamente aí que está sua importância no processo. O voto nordestino, por exemplo, é marcado por uma forte tendência governista — explicada pelo impacto dos programas sociais na região e pela adesão quase automática das principais lideranças regionais ao governo da ocasião. O eleitor do centro-oeste, por sua vez, é o mais identificado com as bandeiras liberais e conservadoras.
Com 33 milhões de eleitores cadastrados, o maior colégio eleitoral do país, São Paulo, tem se mostrado, nos últimos pleitos nacionais, majoritariamente contrário à esquerda, não importa quem se o candidato que esteja do outro lado. Os quase 16 milhões de eleitores de Minas Gerais, o segundo estado em número de votos, se dividem mais ou menos ao meio. Enquanto os do Norte do país têm um comportamento parecido com o dos nordestinos, os do Sul agem de forma semelhante à dos paulistas.
A VOZ DAS URNAS — Análises como essas, no entanto, são absolutamente impossíveis quando se trata do Rio que, com seus mais de 12 milhões de eleitores, tem peso para desequilibrar qualquer pleito. Existes dois aspectos nem sempre levados em contra pelos analistas, mas que saltam aos olhos de quem acompanha atentamente o comportamento do eleitor do Rio nas eleições nacionais.
A VOZ DAS URNAS — Análises como essas, no entanto, são absolutamente impossíveis quando se trata do Rio que, com seus mais de 12 milhões de eleitores, tem peso para desequilibrar qualquer pleito. Existes dois aspectos nem sempre levados em contra pelos analistas, mas que saltam aos olhos de quem acompanha atentamente o comportamento do eleitor do Rio nas eleições nacionais.
O primeiro deles é o olhar clínico para identificar o candidato vencedor. O eleitor fluminense sempre apoia o candidato que sairá vencedor e sempre o contempla com um percentual de votos superior ao que ele obtém nacionalmente. O outro aspecto é a falta de apego ao voto que deu na eleição anterior: o eleitor fluminense é pragmático e não se guia pelas bandeiras que cada candidato defende, mas pela possibilidade que ele oferece para resolver os problemas do dia-a-dia. O comportamento do eleitor em uma eleição não serve de base para dizer o que ele fará na eleição seguinte.
A título de ilustração, enquanto Jair Bolsonaro obteve no segundo turno de 2018 pouco mais de 55% dos votos no Brasil, contra 45% do petista Fernando Haddad, no Estado do Rio a diferença foi de 68% a 32% a favor do candidato vitorioso. Não foi um caso isolado. Em 2010, quando disputou com o tucano José Serra, a petista Dilma Rousseff conquistou 56% dos votos no Brasil e 60% no Estado do Rio.
Em 2014, Dilma teve 51% no Brasil e 55% no Rio. Esses números são mencionados aqui para deixar claro o seguinte: o eleitor fluminense sempre é coeso e contribuiu para dar uma vantagem expressiva ao candidato favorito, e, pelo peso que tem no cenário nacional, esse comportamento é decisivo no resultado final do pleito. Essa movimentação coesa, porem imprevisível, do eleitor do Estado do Rio não é defeito nem qualidade. É uma característica. A partir do momento que tomar consciência disso, talvez passe a dar mais valor ao peso do próprio voto.
Se, até aqui, ele tem se comportado como um doador de votos para o candidato eleito, a partir de agora ele pode trocar seu voto por um compromisso mais sério com a solução dos problemas do Rio. O eleitor fluminense pode exigir que o candidato que vier disputar seu voto apresente um plano de investimento que ajude o estado a recuperar a pujança econômica e resolva os problemas sociais que vem se acumulando nos últimos anos. Já passou da hora do fluminense começar a usar a seu favor a incrível capacidade de surpreender que ele sempre demonstrou.
(Siga os comentários de Nuno Vasconcellos no twitter e no instagram: @nuno_vccls)
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