Emergência do Hospital Alberto Torres está com atendimento restrito
Profissionais afirmam que salários atrasados impedem de ir ao trabalho. Serviço atende apenas casos de risco de morte
Profissionais do Hospital Alberto Torres protestam com salários atrasados Divulgação
Por Gustavo Vicente*
Em plena pandemia do novo coronavírus, os profissionais de saúde do Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê, sofrem com a falta de salários há dois meses, o que tem afetado a rotina de trabalho. Uma das principais consequências é o fechamento da emergência, que está atendendo apenas casos de risco de morte. Embora a Secretaria de Estado de Saúde (SES) negue a informação, a Prefeitura de São Gonçalo afirma que a restrição no atendimento tem sobrecarregado outras unidades do município.
Com o pagamento atrasado, os funcionários relatam dificuldades para ir ao trabalho e até mesmo para se alimentar. Enfermeiros e maqueiros do Heat chegaram a receber quentinhas de ex-pacientes na porta do hospital. Uma funcionária, que preferiu não ser identificada, contou como tem sido enfrentar a situação:
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"Estamos largados, passamos a viver com boletos vencidos, medicamentos que precisamos tomar e não conseguimos comprar. Chega ao ponto de faltar alimento na nossa geladeira. O nosso sentimento é de que estamos sendo humilhados, justamente no momento em que mostramos o quanto somos importantes para a sociedade”.
OS É INVESTIGADA PELO MP
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Em setembro de 2017, a Organização Social Instituto Lagos Rio passou a administrar o Hospital Alberto Torres. Na ocasião, a OS já respondia a um processo por conta de atrasos de salários em outras unidades. Atualmente, o Instituto Lagos Rio é investigado pelo Ministério Público por suspeita de desvio de verbas, que pode ter gerado um prejuízo de mais de R$ 9 milhões aos cofres do Estado do Rio.
Reflexos no Pronto Socorro Central
Profissionais do Hospital Alberto Torres fizeram protesto, há duas semanas, na porta do hospital: atrasos nos salários persistemDivulgação
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O principal reflexo do atendimento restrito na emergência do Hospital Estadual Alberto Torres é a sobrecarga no Pronto Socorro Central (PSC), no Zé Garoto. A informação é da assessoria de imprensa da unidade, que registrou aumento de 40% da demanda de pacientes nesta semana.
"Minha mãe torceu o pé e procuramos o Hospital Estadual Alberto Torres, mas disseram que a emergência estava fechada, sem atendimento. Mandaram a gente buscar atendimento no Pronto Socorro”, diz a balconista Vivian Soares, de 33 anos, que socorreu a mãe, Matilde, após um tombo na terça-feira.
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Com uma equipe formada por quatro clínicos, três cirurgiões, dois ortopedistas, dentista, intensivista e profissionais de rotina e apoio, a direção do PSC afirma que teve que reforçar a quantidade de insumos e medicamentos na unidade para suprir a demanda maior de pacientes. A mesma medida foi tomada em outros hospitais administrados pela prefeitura de São Gonçalo.
Secretaria diz que pagamento a OS cai nesta sexta-feira
Hospital Estadual Alberto TorresGoogle / Reprodução
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Em nota, o Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) afirmou que tem atuado em várias frentes para fiscalizar e agir contra suspeitas de irregularidades nos contratos emergenciais do poder público para combate à pandemia. Em uma das ações, o MPRJ denunciou integrantes da Organização Social Instituto dos Lagos Rio, que chegaram a ser presos no mês passado.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que realizou uma fiscalização no Hospital Alberto Torres na última terça-feira, determinando o pleno funcionamento da emergência. A SES completou que não procede a informação de que a emergência esteja atendendo apenas os casos de risco de morte, e reafirmou que foi autorizado, desde o fim da semana passada, o repasse de R$ 20,4 milhões para custear despesas em todos os hospitais geridos pelo Instituto Lagos Rio. Segundo a pasta, o dinheiro chegaria até hoje nas contas da OS, para que ela faça os pagamentos dos profissionais saúde com salários atrasados.
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Procurada, a Organização Social Instituto Lagos Rio não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.