Conheça a origem dos casais de Mestre-sala e porta-bandeira do Carnaval

Por Flipar

No Carnaval 2024, vencido pela Unidos do Viradouro, o casal Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, da Imperatriz Leopoldinense ganhou o Estandarte de Ouro como melhor mestre-sala e porta-bandeira. 
Reprodução do Instagram @imperatrizleopoldinenseoficial
As escolas de samba nasceram a partir do rancho carnavalesco. Em 1893, foi criado o "Rei de Ouros", por Hilário Jovino Ferreira. Ele apresentou novidades como o enredo, personagens como o casal de mestre-sala e porta-bandeira e o uso de instrumentos de cordas e de sopro.
Reprodução Portela
Filho de escravos libertos, Hilário Jovino Ferreira nasceu na Bahia, no ano de 1855. Chegou ao Rio em 1872 e por lá contribuiu para levar o samba à então capital do país. Fundou o "Rei de Ouros", que popularizou os ranchos carnavalescos a ajudou na criação do mestre-sala e porta-bandeira, sendo o primeiro a exercer tal função.
Domínio Público/Wikimédia Commons
Nos anos seguintes, em 1929, o primeiro concurso de sambas, realizado na casa de Zé Espinguela, onde saiu vencedor o Conjunto Oswaldo Cruz, e do qual também participaram a Mangueira e a Deixa Falar.
Divulgação
Entre 1930 e 1932, o periódico Mundo Sportivo, de propriedade do jornalista Mário Filho (irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues), decidiu organizar o primeiro Desfile de Escolas de Samba, na Praça Onze. O jornal, inaugurado no ano anterior por Mário Filho, com o término do campeonato de futebol, estava sem assunto e perdia leitores. O jornalista Carlos Pimentel teve a ideia dos desfiles.
Reprodução do Instagram @imperatrizleopoldinenseoficial
A tradição do casal de mestre-sala e porta-bandeira foi herdada dos antigos ranchos, que possuíam os famosos balizas e porta-estandartes, encarregados de defenderem o símbolo da associação. A dança dos balizas evoluiu para gingados e rodopios do casal que detém o pavilhão.
Divulgação Liga SP
De acordo com Ilclemar Nunes, em "Mestre-sala e Porta-bandeira, meneios e mesuras", as origens da dança remontam ao ritual das meninas-moças africanas, que se preparavam para o casamento, e dos rapazes-guerreiros, que as cortejavam dançando.
Divulgação Liga SP
Por outro lado, outras pesquisas apontam que a origem se encontra no Brasil Colônia, nas festas populares ou no sepultamento de negros importantes. As tribos africanas eram identificadas por panos coloridos presos na ponta de paus, formando uma espécie de bandeira nessas ocasiões.
Agência Brasil
Nos ranchos, era comum os "roubos" do símbolo máximo de cada grupo de membros dessas associações, o porta-estandarte. Essa figura também é associada ao gingado dos capoeiras, que escondiam em seus tradicionais leques uma afiada navalha para auxiliá-lo na proteção ao pavilhão.
Agência Brasil
Por motivos de segurança, no início do século XX, homens eram responsáveis por carregar os estandartes dos ranchos, algo semelhante ao comportamento dos guardas militares. Isso faz com que muitos pesquisadores apontem um homem como o primeiro a exercer o cargo de porta-bandeira - Ubaldo, da Portela.
Divulgação Riotur
O concurso de escolas de samba começou a despontar e com ele homens e mulheres passaram a ter seus locais definidos. De um lado o mestre-sala deveria cortejar com garbo elegância, enquanto do outro, a porta-bandeira deveria carregar o pavilhão com leveza e muita dança.
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O julgamento de mestre-sala e porta-bandeira começou a fazer parte do regulamento a partir de 1938, quando era levada em consideração apenas a fantasia. A dança, porém, começou a ser julgada somente em 1958. Atualmente, é um quesito importante para a conquista do tão sonhado campeonato.
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A vestimenta é composta por perucas, tiaras, coroas, luvas, saia longa e de larga volta. As roupas possuem faisões, strasses, plumas, miçangas, acetato, canutilhos, paetês, vime, espuma, luzes de LED, entre outros tipos de materiais.
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Anteriormente, era comum a referência à vestimenta da corte do século XIX, mas, hoje em dia, o enredo da escola passou a influenciar a construção do que se veste. Dessa forma, a fantasia do casal ganhou novas possibilidades de adereços, formatos e recursos materiais.
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Com o passar dos anos, portanto, o casal passou a utilizar fantasias com ligação direta ao enredo. Eles fazem parte da história que está sendo contada e os materiais variam de acordo com os temas de cada escola, assim como as cores. Um exemplo é a Viradouro, campeã de 2024, que falou sobre o culto ao Vodum Serpente e trouxe a roupa do casal nas cores do animal retratado. 
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O casal tem uma série de passos que podem ser utilizados e muitos têm focado também em coreografias, mas sem deixar o bailado tradicional de lado. Alguns deles são o maneio, meia-volta, giro completo, torneado, mensura, aviãozinho, cruzado, voleio, corrupio, patinete e abano, balanço, pega de mão, meio-sapateado e apresentação da bandeira.
Reprodução Youtube
O mestre-sala possui a função de cortejar a porta-bandeira, além de mostrar e proteger, com orgulho, a bandeira de sua escola de samba. A porta-bandeira, por sua vez, tem a função de carregar e exibir a bandeira da escola, conduzindo-a com gestos leves, graciosos e de reverência.
Raphael David/Riotur
O quesito referente ao casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira é avaliado quanto à adequação da roupa para a dança. Além disso, os jurados procuram identificar beleza e bom gosto. A fantasia deve estar de acordo com o enredo é adequada para que o casal possa fazer sua dança com fluidez e leveza.
Flickr Maíra Menequini
Os jurados devem observar o bailado, que deve ser no ritmo do samba, com graça, leveza e harmonia entre o casal. Muitos deles estão arriscando algumas coreografias referentes ao enredo, mas sem perder a concepção do quesito, de guardar e apresentar o pavilhão da escola.
Marco Antonio Cavalcanti/Riotur
Erros na dança, assim como deixar enrolar a bandeira no giro podem tirar décimos importantes. O casal jamais pode ficar de costas um para o outro ou errar a pegada na bandeira. Um dos erros mais grosseiros de uma porta-bandeira é tocar com o pavilhão no chão da pista, visto que sua função também é protegê-lo e apresentá-lo ao público.
Tata Barreto/Riotur
A função de mestre sala e porta-bandeira têm a dança inspirada no minueto, de origem francesa. Ainda no período de escravidão, os negros espiavam as danças e replicavam os passos no ritmo do batuque africano. A dança de proteção surgiu, portanto, com a criatividade dos negros, assim como o samba que se conhece hoje.
Raphael David/Riotur
Na dança, o mestre sala atua como o guardião do pavilhão, Ele sempre gira em torno do seu próprio eixo no sentido horário e anti-horário, sempre no sentido contrário ao que gira a porta bandeira. Tudo como uma engrenagem, com muito sincronismo e leveza.
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A porta-bandeira carrega consigo toda a ancestralidade da formação negra do samba e quando gira emana o axé de seu pavilhão. Ela conduz e apresenta o pavilhão, que deve estar sempre aberto no momento do giro. Também tem status e postura de rainha dentro de uma escola de samba, com gestos elegantes, suaves e leves.
Raphael David/Riotur
Meneio seria a forma de conduzir com elegância a porta- bandeira, enquanto mesuras é quando o mestre sala faz uma menção de reverência para a porta bandeira. Além disso, torneados é quando o mestre sala gira em torno do próprio pé e meia volta quando gira a 180 graus ao redor da porta-bandeira.
Divulgação Liga SP
Em média as escolas de samba têm três ou quatro casais de mestre sala e porta bandeira. Porém apenas o primeiro é julgado, por ostentar o pavilhão oficial da escola. No Rio de Janeiro, eles se apresentam para três cabines (a primeira é dupla) em diferentes setores da Sapucaí.
Felipe Araújo/Liga-SP
O pavilhão é o principal ícone de uma escola de samba, contêm o símbolo e nome da escola, as cores oficiais da agremiação e a data de sua fundação, tem um mastro em sua lateral e uma medida de 1m20 por 90 cm.
Divulgação Viradouro
Muitas escolas possuem projetos voltados à formação de novos mestre-salas e porta-bandeiras. Além disso, tem as agremiações mirins, que são recheadas de crianças e adolescentes que aprendem determinado segmento e representam o futuro das escolas de samba, que jamais irão morrer e sempre levarão cultura e projetos sociais à suas comunidades.
Marco Antonio Cavalcanti/Riotur

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