Elza Soares ‘apoteótica’: Espetáculo faz homenagem à cantora

Por Flipar

O espetáculo tem direção de Antônio Marques, roteiro de Elísio Lopes Jr. e direção musical de Paulo Mutti. E apresenta diferentes fases da carreira de Elza Soares. As atrizes Aline Nepomuceno, Denise Correia e Lívia França comandam o elenco.
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Elza Soares morreu em 20/1/2022, aos 91 anos, exatamente 39 anos depois do jogador de futebol Garrincha, com quem ela viveu o maior amor de sua vida. Para muitos, uma coincidência. Para outros, o acaso não existe e isso é coisa de destino.
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Logo que a notícia foi confirmada, o Flamengo, clube de coração da cantora, publicou uma mensagem nas redes sociais, lamentando a perda da artista e lembrando de Garrincha. Já o Instagram da cantora enfatizou que ela teve uma "vida apoteótica, intensa", e"emocionou o mundo com sua voz, força e determinação".
Twitter do Flamengo - reprodução
Elza teve uma vida por muito tempo dramática, como raramente se vê no meio artístico. Sofreu agressões e humilhações, perdeu filhos precocemente, teve uma filha sequestrada por 30 anos, enfrentou alcoolismo do marido, foi hostilizada, tentou se matar, teve problemas financeiros, sofreu discriminação racial na profissão...
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Mas nada a afastou da carreira. Aos trancos e barrancos, ela conseguiu ocupar seu espaço por causa do seu talento. Tinha um jeito único de cantar e de se apresentar. E conseguiu se impor e conquistar respeito, a duras penas.
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Elza Gomes da Conceição nasceu em 23/6/1930 no Rio de Janeiro. Sua família era pobre e morava na favela da Moça Bonita (hoje Vila Vintém), em Padre Miguel, zona oeste do Rio. Com nove irmãos, ela ajudava a mãe carregando latas d'água na cabeça.
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Aos 12 anos foi obrigada pelo pai a casar-se e sofreu violência doméstica e sexual. Aos 13, teve o primeiro de oito filhos. Com o marido tuberculoso, Elza fez vários tipos de trabalho para o sustento da família. Chegou a perder dois filhos por causa da fome.
Arquivo Nacional Domínio Público
Aos 16 anos, talentosa para a música e confiante, ela se inscreveu num programa de calouros. E ganhou a nota máxima. Ingressou numa orquestra, mas nem sempre podia se apresentar, pois alguns lugares não aceitavam uma negra no palco.
Arquivo Nacional Domínio público
Aos 18 anos, ela oficializou o casamento e ganhou o sobrenome Soares, que manteria no nome artístico. Elza ficou viúva e a vida continuou pregando peças. Em 1950, sua filha Dilma, recém-nascida, foi sequestrada pelo casal que tomava conta da criança. Foram 30 anos até encontrar a filha, adulta.
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Quando ficou viúva, Elza estava com 4 filhos e trabalhava como faxineira para sustentá-los.
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Em 1959, Elza Soares gravou o disco que tinha a música "Se Acaso Você Chegasse", de Lupicínio Rodrigues, que alavancou sua carreira. Ela introduziu o scat (técnica de canto que consiste em vocalizar sílabas ou palavras sem sentido, a exemplo do que Louis Armstrong fazia nos EUA) .
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Elza conheceu Garrincha em 1962, quando ele era casado. Os dois viveram um romance, Garrincha separou-se da mulher e os dois oficializaram a união em 1966. Mas fãs de Garrincha hostilizavam Elza e chegavam a apedrejar a casa do casal.
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Em 1976, Elza teve um filho com Garrincha: Manoel Francisco dos Santos Júnior, o Garrinchinha.
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Garrincha morreu de cirrose hepática em 1983. Elza manteve alguns relacionamentos, mas só voltou a se casar em 2002 com Anderson Lugão. Eles se separaram 6 anos depois.
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Elza teve 8 filhos. Dois morreram recém-nascidos, uma foi sequestrada, houve uma sucessão de tragédias na vida de Elza, mas a que mais a abalou foi a morte de Garrinchinha, aos 9 anos, em 1986, num trágico acidente. O carro derrapou e o menino foi arremessado de uma ponte num rio. Seu corpo só foi encontrado no dia seguinte.
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Desde a morte de Garrinchinha, Elza estava em depressão. Ela tentou o suicídio e passou a fazer tratamento, até que decidiu concentrar sua atenção na carreira. Morou e fez show em diversos países até voltar ao Brasil.
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Com foco na carreira, Elza fez shows, lançou discos, gravou faixas com outros artistas, se manteve ativa e com reconhecimento público pelo talento.
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Em 2000, foi premiada como "Melhor Cantora do Milênio" pela BBC em Londres, quando se apresentou num concerto com Gal Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Virgínia Rodrigues.
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Nos Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio de Janeiro, Elza interpretou o Hino Nacional Brasileiro, no início da cerimônia de abertura do evento, no Maracanã e lançou o álbum "Beba-me", no qual gravou as músicas que marcaram sua carreira.
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Em 2018, Elza lançou o álbum "Deus É Mulher". No ano seguinte, veio "Planeta Fome", eleito um dos 25 melhores álbuns brasileiros do segundo semestre de 2019 pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
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Elza Soares cantou até o fim da vida. Em 17/12/2021, ela publicou no instagram a agenda de shows para 2022. Elza faria o espetáculo "Onda Negra" em seis cidades até 27/08.
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O próximo seria em 3/2 em Pinheiros (SP). Ela escreveu: "Gentem, olha que agenda de shows mais linda!" Elza deixa um legado valioso de talento e persistência na Música Popular Brasileira.
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Incisiva na luta contra o racismo, Elza também era irreverente, como na foto com Nelson Sargento. Quando ele morreu em 2021, ela postou: "Faça festa no céu, my love". Agora, Elza se junta a Nelson e, no que depender da diva, vai ter festão!!!!
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