Por monica.lima

São Paulo - Em 2010, a francesa Capgemini desembolsou R$ 517 milhões para assumir o controle da brasileira CPM Braxis. A ideia era consolidar o Brasil como uma das armas para ganhar destaque no mercado mundial de serviços de tecnologia da informação (TI), dominado por empresas americanas e indianas. Passados cinco anos, a companhia volta a colocar o país no centro de um importante passo estratégico. A empresa investiu R$ 25 milhões para ampliar sua estrutura local e alinhar a operação ao seu novo posicionamento global, focado em inovação e na transformação digital dos clientes, sem abandonar os serviços tradicionais — suporte e oferta de infraestrutura —, mais voltados à eficiência operacional.

O novo aporte realizado no país integra um plano de investimentos — de valor total não revelado — para impulsionar as operações da companhia na América Latina. O plano em questão foi aprovado no início do segundo semestre de 2014 e tem previsão de duração de três anos. Na região, o Brasil responde por 50% das receitas da empresa. “O Brasil é um mercado essencial na nossa estratégia de renovação do portfólio. Acreditamos no país e não vamos frear ou reduzir os investimentos por conta da situação econômica, até mesmo porque temos clareza de quais segmentos nos quais a demanda por tecnologia segue aquecida”, diz Paulo Marcelo Lessa Moreira, presidente da Capgemini no Brasil. A nomeação do executivo, há pouco mais de um ano, coincidiu com a elaboração e o início do plano de investimentos no país e na região.

Assim como grande parte do mercado de TI, a nova orientação da Capgemini passa por conceitos como mobilidade, big data, computação em nuvem e segurança. Diferentemente de rivais como IBM e Hewlett-Packard (HP), no entanto, a companhia decidiu direcionar sua atuação a poucos segmentos. Nessa linha, a indústria financeira é a prioridade. O segmento responde por 50% da receita local, seguido por telecomunicações e mídia, e setor público, ambos com 15%. Os 20% restantes estão divididos entre manufatura, bens de consumo e outras indústrias.

Na visão da Capgemini, os bancos e seguradoras são os setores nos quais a necessidade de migrar para um novo modelo digital é mais urgente. Dados de pesquisas globais da companhia fundamentam essa abordagem, com um ponto em comum: a insatisfação dos usuários quanto à experiência e os serviços digitais ofertados por essas duas vertentes. No caso das seguradoras, o número de brasileiros que avalia suas experiências como positivas caiu 2,5 pontos percentuais em relação à ultima edição do estudo, para 28,7%. Nos bancos, 19,3% de usuários estão propensos a deixarem de ser clientes de uma instituição, contra 3,7%, um ano antes. “Os bancos e seguradoras têm um grande legado de aplicações pensadas para uma plataforma centralizada, e não para múltiplos dispositivos. Há uma grande lacuna ainda em questões como visão única e personalizada do cliente. E esse consumidor, especialmente da nova geração, é menos leal e mais difícil de reter do que os clientes de antigamente”, diz Moreira.

Nesse cenário, o plano da Capgemini no Brasil inclui a inauguração, no início do segundo semestre, de um centro de coinovação, que será instalado em Barueri (SP). A ideia é usar a unidade como um laboratório para desenvolver aplicações em parceria com clientes da companhia no país. O projeto complementa a abertura, em 2014, de um centro de experimentação, de provas de conceito e de testes envolvendo tecnologias do portfólio da Capgemini, também em Barueri.

A Capgemini também está investindo na ampliação da estrutura de centros de serviços no país. A busca por unidades fora das principais capitais e por regiões com boa oferta de mão de obra capacitada — e com menor concorrência por esses profissionais — são os nortes dessa estratégia, que inclui ainda projetos para reforçar a automação nessas instalações. A empresa inaugurou recentemente centros em Salvador e Araraquara (SP), que já concentram 500 e 600 profissionais, respectivamente. “Com a descentralização, nosso plano é manter a qualidade na entrega, mas com custos mais competitivos”, observa. Hoje, a operação conta ainda com centros em Barueri (SP), Rio, Belo Horizonte, Brasília, Blumenau e Campinas. Essa última instalação também recebeu parte dos recursos para modernizar o data center da companhia, com foco em aprimorar a oferta de serviços de computação em nuvem.

A Capgemini já estuda a abertura de novos centros, a princípio, na região Sul. Esses investimentos deverão acontecer quando as unidades de Salvador e Araraquara atingirem uma equipe de mil profissionais, o que está previsto para acontecer até o fim do ano. Hoje, a empresa possui 8,5 mil colaboradores no país. “Nossa projeção é chegar a dez mil profissionais até 2017. Como temos um grande foco em automação e produtividade, a receita tende a crescer num ritmo mais acelerado do que o aumento da equipe nesse período”, afirma.

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