Por diana.dantas

Semana passada comentei aqui sobre o Art Fry, químico da 3M que inventou o Post-It, lá no fim dos anos 70. Diz ele que, para chegar enfim a criar um produto inovador, o sujeito tem que ralar bastante, beijando muitos sapos, até que enfim o príncipe encantado apareça. Não é encanto, não é acaso. É dureza. O assunto ‘inovação’ tem ocupado muitas boas cabeças mundo afora.

Agora mesmo acabo de ler “Os inovadores”, do Walter Isaacson (o mesmo da biografia do Steve Jobs) . O comportamento se repete: necessidade, ideia, trabalho, produto, inovação. Foi assim que nasceram os computadores, sobre os quais já se pensava desde o início do século XIX, e a internet. Como disse o Art Fry, mui resumidamente, a inovação vem da quebra de modelos já constituídos e da perseverança. Daí que vale comentar aqui as ideias do Blade Kotelly a respeito do assunto.

Kotelly é professor do Massachusetts Institute of Technology, o famigerado MIT, de tão boa fama, sobretudo na área de tecnologia e inovação. Em conversa com executivos brasileiros convidados pelo Lide Futuro para conhecer a instituição, Kotelly apresentou suas ideias sobre como podemos trabalhar em conjunto tendo a inovação em mente. Vale comentar o assunto mais uma vez porque o ano novo está chegando e, pelo jeito, vamos precisar de muitas novas ideias para enfrentá-lo...

O primeiro ponto levantado pelo Kotelly é: urgência e desejo de entregar um novo produto. Art Fry já tinha comentado algo a respeito. A ideia, aqui, é que a mente inovadora PRECISA criar. É uma necessidade. E ponto. Os artistas resolvem isso por si — ou entram em crise, ficam malucos, falam sozinhos etc e tal.

No mundo corporativo, essa necessidade de criar só pode ser satisfeita se existir o que se costuma chamar de cultura de inovação nas empresas. Incentivar as equipes de criação é o primeiro mandamento.

Mas aí é que está o busílis... Cultura não se adquire de um dia para outro. É preciso tempo — sinônimo de dinheiro e, portanto, inimigo número um de boa parte dos departamentos financeiros.
Algumas empresas trabalham incentivando a inovação desde sempre, e conseguem bons resultados com isso. Mas são poucas. O Google é assim. A 3M, a IBM, a Cisco, a Apple, o Facebook etc etc. As empresas de tecnologia são bons exemplos porque vivem de correr na frente. Fogem do que seja commodity para seu próprio bem. (Sobre essa questão, é bom procurar as observações do Mangabeira Unger a respeito da já demorada fixação da economia brasileira pela produção e exportação de commodities, deixando a industrialização de lado. É um problema, inclusive para a nossa indústria de tecnologia. Mas a gente fala disso outra hora).

Voltemos ao Blade Kotelly, do MIT. Segundo ele, inovação tem a ver também com adaptação, flexibilidade, possibilidade de dançar conforme a música.

Lembrei da Apple, que é um exemplo de empresa que consegue prever o futuro e rapidamente adaptar-se a ele. Esse é outro ponto levantado pelo Kotelly: ter visão de futuro. Não adianta inovar depois da hora, afinal.

Duas outras características importantes nesse processo de inovação: coragem e integridade. Ou seja: o sujeito tem que encarar qualquer situação, <CF202>pero sin perder la ternura jamás</CF>.

Esses pontos puxam também o diálogo interno das equipes. Perguntar e dialogar são tarefas difíceis para os grandes egos criadores, mas não tem jeito. O negócio é ouvir a opinião do outro, ‘inclusive quando machuca’, como diz o Kotelly, lembrando que a humildade é um elemento que não deve ser esquecido.

O Art Fry também havia comentado sobre isso. Ele mesmo andou comendo o pão do diabo enquanto não conseguiu provar que sua modesta invenção, o Post-It, daria certo.

É um curioso jogo de forças. Ao mesmo tempo que você lida com a humildade, tem que saber também advogar em causa própria, defender sua ideia, adaptar seu discurso até o ponto em que todos possam entender.

Isso nos leva, diz o professor do MIT, à necessidade de ‘pensar holisticamente’, ou seja, entender o cenário num contexto maior. Sair da visão estreita, buscar novas visões e interpretações sobre determinadas situações.

Lembrei da atual panaceia chamada Big Data, no sentido de que a análise de zilhões de dados é mais rica à medida que você reúne especialistas — ou analistas — das mais diversas áreas. A experiência muldisciplinar é sempre positiva quando, naturalmente, você consegue que o grupo trabalhe com sinceridade. Não é tão simples...

Mas não tergiversemos. O resumo da conversa do Kotelly é um reforço à do Art Fry. Inovar é possível, mas não é um trabalho do acaso. É necessário cumprir várias etapas de trabalho duro até que a luz divina contemple a todos. Eventualmente, se uma ideia não dá certo de primeira, é porque haverá de passar por outras etapas.

Ou, repetindo: você tem que beijar muitos sapos até que enfim apareça o príncipe encantado. E olhe que nem isso estará realmente garantido...

De qualquer maneira, nada nos pode desanimar.

* * * * * *
A propósito, a turma ligada em tecnologia deveria dar um jeito de visitar o MIT. É uma Disneylândia da inteligência e da inovação, com orçamento de US$ 2,6 bilhões anuais, sendo US$ 674 milhões para pesquisas.

Não por acaso, costuma-se dizer que o MIT é o pedacinho do mundo onde mais podemos encontrar laureados com o Prêmio Nobel. São 80, de tudo quanto é área, sem falar em outras tantas distinções menos conhecidas, mas não menos importantes.
Investir na experiência do MIT pode ser uma boa para sua empresa. O programa de coordenação industrial está lá para isso mesmo, e já fechou parcerias com as brasileiras Gerdau, Embraer, Natura, B2W e Vale, entre muitas outras. Se for o caso, o melhor a fazer é consultar o http://ilp-www.mit.edu. E boa viagem.

Você pode gostar