Desenhista e poeta, André Dahmer chamou atenção ao colocar na rede a tirinha “Malvados”. Assim, o carioca se tornou um dos primeiros a usar a internet para divulgar seu trabalho. Além do quadrinho que o alçou à fama, ele é autor de “Quadrinhos dos Anos 10”, “Apóstolos, a Série” e “Vida e Obra de Terêncio Horto” — que chega às livrarias na próxima semana em formato de uma coletânea. Na história, o escritor eternamente frustrado, Terêncio, passa os dias redigindo um pessimismo assombroso. Com publicação semanal no Portal G1, Folha de S. Paulo, O Globo e Le Monde Diplomatique Brasil, Dahmer também é autor de outros cinco livros de quadrinhos, além de três títulos de poesia, um deles prestes a ser editado pela Lote 42.
Quando você começou a desenhar?
Eu comecei a desenhar quando criança, como a maioria das pessoas. Ao longo da vida a gente vai abandonando esse ofício, mas eu continuei. Quando cheguei na adolescência tive um hiato, porque fui me dedicar a outras coisas. Me formei em design, trabalhei no antigo jornal Lance! como diagramador — um detalhe cruel: odeio futebol, nem time tenho. Só retomei o desenho aos 27 anos com os quadrinhos. Em seguida, fui postando na rede, sem nenhuma presunção.
Você foi um dos primeiros quadrinistas a se apropriar das redes sociais. Por quê?
Porque achei que o formato era bom para mídia. As pessoas olham as coisas muito rápido no ambiente online. Hoje o Facebook reúne todas informações, então, o consumo do conteúdo é instantâneo.
Como seu quadrinhos tomaram conta dos jornais?
O primeiro passo foi quando a editora Genesis me chamou para publicar um livro. Esse movimento foi muito importante na minha vida, pois consegui pedir demissão do jornal e jurei que nunca mais trabalharia naquelas condições. Quando o Jornal do Brasil começou a chamar quadrinistas brasileiros para produzir, eu entrei na leva de convidados — até então só a Folha de S. Paulo fazia isso, os outros jornais compravam quadrinhos americanos a preços baixíssimos. Dali em diante, trabalhei no JB até o seu fim. Em seguida, vieram os convites para produzir para outros jornais, inclusive charges para o Brasil Econômico, em 2011.
Como é a sua rotina?
Ainda corrida, a demanda é grande, mas não fico mais chateado quando acabo de trabalhar, nem exausto. Sou amador no que faço, no melhor sentido da palavra, e não sou um cara que quer muitas coisas, então, onde estou está ótimo. Geralmente, os quadrinistas têm uma prancheta elaborada, um super estúdio, eu não. Trabalho com nanquim, papel e uma mesa de jantar. Cada um resolve de uma maneira o seu método e o meu é muito precário, porque percebi que assim tenho uma liberdade sem igual. Em casa, não tenho nem borracha. Quando desenho faço o mesmo três vezes e sei que em alguma delas sairá decente.
Qual das histórias começou a produzir primeiro?
Os “Malvaldos”, fiquei dois ou três anos trabalhando só com eles, mas senti falta de desenhar mais. Aí, veio o “Quadrinhos dos Anos 10” (em que narra a vida de Emir Saad, ditador do fictício de Ziniguistão), que foi super mal recebido pelo público. Depois, “Apóstolos, a Série”, uma versão diferente da vida de Jesus. O “Vida e Obra de Terêncio Horto”, comecei a fazer em fevereiro do ano passado e já tenho mais de 600 tiras. Também escrevo poemas, mas as pessoas só me reconhecem pelos “Malvados”. Isso me dá uma irritação danada, mas não vou lutar contra isso porque é besteira, só não acho que corresponda a verdade.
De onde vem inspiração para tantas tirinhas?
Eu falo sempre que a inspiração vem da vontade de pagar o colégio da minha filha. A ideia do fazer artístico é muito romantizada, quando na verdade não é nada disso. Eu tenho que acordar, sentar a bunda e desenhar.Todo mundo tinha que ter um cotidiano artístico, que faz um bem danado. Não preciso tomar remédio para dormir.
Você se considera um pessimista?
As pessoas me confundem com pessimista, quando na verdade sou um otimista, só que não fico quieto. Sou um cara cheio de esperança. Meu trabalho não é uma crítica de costume e também não é um protesto. A verdade é que não consigo olhar meu trabalho de fora, prefiro que os outros façam isso por mim.
Tiê lança seu terceiro álbum ‘Esmeraldas’
Com voz doce e letras confessionais, Tiê se projetou na cena musical paulistana, em 2009, com o disco independente “Sweet Jardim”. Dois anos depois, com a chegada da primeira filha, a cantora apresentou “A Coruja e o Coração”, ainda recheado de letras autorais, mas com sonoridade mais pop. Após um hiato de três anos, que incluiu um momento de crise criativa, Tiê lança seu terceiro disco “Esmeraldas”.
“Geralmente, quando resolvo compor para um disco as coisas acontecem bem, mas desta vez não foi assim. A crise veio por conta de muito trabalho e dos muitos afazeres na vida pessoal. Consegui superar conversando com pessoas. O disco veio em seguida”, explica.
Um dos conselheiros que a cantora procurou para conversar foi o músico escocês David Byrne. Estava em Nova York, no final de 2013, produzindo o disco solo de sua baterista, Naná Rizinni, quando marcou um almoço com o ex-vocalista dos Talking Heads, que havia conhecido em 2011. Alguns dias depois, duas melodias do americano estavam em seu e-mail para que ela colocasse as letras. As canções funcionaram como o estímulo que faltava para o novo disco.
Em seguida, veio a viagem de fim de ano para Esmeraldas, cidadezinha do interior de Minas Gerais, que serviu para dar ponto final no bloqueio e inspirar a cantora a compor música homônima, que também batizou o disco.
Em “Esmeraldas”, que ficou pronto em apenas nove meses, Tiê volta a apresentar pedaços de sua vida nas letras autorais, mas em formato mais elaborado. Em meio a coros e arranjos recheados de cordas de música clássica, Tiê inova com bom gosto. “As composições sobre amor se repetiram no disco, apesar de eu não querer falar só sobre isso. Elas aparecem de outra forma. Minha versão sobre o assunto mudou, agora é mais amadurecida”, diz.
Definindo o disco como um trabalho “mais forte, mais visceral, mais cansado”, a cantora acredita que o novo álbum é coerente com sua atual fase de vida. Além de cantora e mãe de duas filhas, Tiê também criou há um ano a produtora Rosa Flamingo, onde ela mesma agencia sua carreira e de outros artistas. “Não é fácil vender shows, mas eu gosto de ter minha autonomia”, argumenta.
Com CD já à venda nas lojas, Tiê estreia “Esmeraldas” nos próximos dias 15 e 16 de outubro, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Dessa apresentação, participam Jesse Harris e Mauro Refosco nos dois dias, além de Tim Bernardes e Irina, dia 15, e Guilherme Arantes, dia 16.
ONDE ASSISTIR
Sesc Vila Mariana, em São Paulo, dias 15 e 16 de outubro.
Teatro Net Rio, em Copacabana, dia 22 de outubro.
Biografia apresenta trajetória de Evandro Teixeira
A especialidade de Evandro Teixeira sempre foi registrar a história por meio de suas lentes. Depois que Silvana Costa Moreira resolveu documentar sua história e transformá-la em obra biográfica, Evandro experimentou a sensação de ser registrado, desta vez nas páginas.
Considerado um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro e mundial, Evandro se tornou conhecido por mostrar os abusos cometidos pela ditadura militar, que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985, e a miséria do sertão brasileiro.
O livro tem início na infância de Evandro Teixeira na cidade baiana de Irajuba, onde nasceu em 1935. Em seguida, acompanhamos sua passagem por outros caminhos, tentando ganhar a vida, até chegar ao Rio, em 1957, e conseguir se consolidar como fotógrafo. “Evandro Teixeira — Um Certo Olhar” é da Editora 7Letras e custa R$ 35,00.
NOTAS
Mostra interativa no Sesc Pinheiros, em SP
Dando continuidade à parceria com a Cité de la Musique, o Sesc traz ao Brasil “Música & Cinema: O Casamento do Século?”, exposição concebida pelo diretor N. T Binh que aborda a influência da música no cinema e nas etapas da realização cinematográfica.
Laerte ocupa Itaú Cultural paulistano
Na vigésima exposição da série “Ocupação”, o visitante percorre um labirinto que expõe, de modo panorâmico, os trabalhos do artista que se celebrizou por suas tirinhas em jornais, a partir dos anos 1970, e pelo engajamento nas questões de gênero.
Pinakotheke Cultural expõe Miquel Barceló
Pela primeira vez, o público carioca pode contemplar uma exposição individual do renomado artista espanhol. A mostra apresenta sua obra recente, além de outros trabalhos emblemáticos, como o elefante de bronze apoiado pela tromba.