
Ao mergulhar em profunda reflexão interior, uma mulher sente todos os pesares e dores de uma perda amorosa. Primeira obra dramática da autora chilena Inés Margarita Stranger, o texto “Cariño Malo” — traduzido para o Brasil como “Amor Perverso”, expressão extraída da letra de um bolero que se popularizou nos anos 1960 e empresta título à peça — integra a “Antologia Bilíngue de Dramaturgia de Mulheres Latino-americanas”, estudo de gênero lançado em 1996 por Graciela Ravetti e Sara Rojo, que contempla ainda “A Beata Maria do Egito”, de Rachel de Queiroz, e “Del Sol Nasciente”, da argentina Griselda Gambaro.
Carregando uma alta voltagem poética e contornos metafóricos, a segunda adaptação brasileira de “Amor Perverso” expõe os conflitos de uma personagem através de três representações: Victoria, vivida por Claudia Ohana, Eva, interpretada por Helena Ranaldi, e Amapola, por Regiane Alves. Montada nos palcos brasileiros uma única vez, em âmbito universitário, a peça chega ao Teatro do Leblon na próxima terça-feira, dia 28, com direção de Luiz G. C. Valcarazas e produção de Lucia Regina Souza, preservando o frescor do ineditismo.
O pontapé inicial para criar uma montagem para a peça chilena veio há 24 anos, quando o jovem integrante da companhia paulista de teatro de bonecos “A Cidade Muda”, Luiz G. C. Valcazaras, participava do 12º Festival Internacional de Teatro de Manizales, na Colômbia. Lá, o diretor teve contato com “Cariño Malo”, cuja montagem original fazia parte da grade de programação do festival. Desde então, ele guardava o desejo de trazer ao Brasil a sua versão para a corpulenta narrativa.
Levado à cena quando o general Augusto Pinochet se despedia da Casa de La Moneda, depois de quase duas décadas no poder, o texto joga com imagens e situações fragmentadas, deixando o espectador enxergar através do enredo do amor esfacelado a sombra de uma das ditaduras mais brutais instauradas na América Latina. Em meio às lembranças da protagonista, sobressaem vozes de desaparecidos, que atormentam e condenam seu parceiro a todo instante, interceptando com seu ruído sombrio a comunicação do casal.
No palco do Teatro Leblon, as três atrizes, que contracenam pela primeira vez, se dividem entre representações dos diferentes estados assumidos pela mesma mulher, em seu embate contra o luto da perda que “congelou no desuso cada um de seus sorrisos”. Entre uma fala e outra, a atriz Cláudia Ohana apresenta seus lamentos através de dolorosos cânticos. Ela, que já interpretou inúmeros musicais no teatro, cinema e novelas, empresta vida simultaneamente à protagonista de “Callas”, espetáculo que conta a história da cantora lírica, dirigido por Marília Pera, no Teatro Itália, em São Paulo.
“‘Amores reversos’ é metafórica e não tem uma estrutura linear. A gente se mistura entre as lembranças de forma nada nítida. Nas falas, me reconheço muitas vezes e também muitas pessoas próximas. Acho que todo mundo que já amou se identifica. A peça fala do sofrimento de uma mulher que passa por um término de relacionamento e o medo de passar por isso. É uma história universal”, conclui a veterana.
ONDE ASSISTIR
A peça estreia na próxima terça, dia 28, e segue até 17/12. As sessões acontecem todas as terças e quartas, na Sala Marília Pêra, no Teatro Leblon. Rua Conde Bernadote, 26/loja 104.
Todos os olhares sobre a obra de Pier Paolo Pasolini
A mostra de cinema “Pasolini, ou quando o cinema se faz Poesia e Política de seu Tempo”, em cartaz Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, de São Paulo e de Brasília, carrega uma retrospectiva completa da obra do diretor italiano em película 35mm. Na programação estão vários filmes inéditos no Brasil, incluindo documentários filmados na Índia e na África. Além das obras cinematográficas, o evento conta com uma exposição de fotos de seu acervo pessoal nunca expostas .
Sob curadoria do pesquisador e professor de cinema da PUC-RJ Flávio Kactuz, especialista em Pasolini, a mostra exibe também importantes documentários feitos sobre ele, como “Pasolini Prossimo Nostro”, de Giuseppe Bertolucci, “A Futura Memória”, de Ivo Barnabò, “Via Pasolini” , de Igor Skofic, e “La Voce di Pasolini”, de Matteo Cerami.
Filmes nacionais que se assemelham à estética de Pasolini também estarão na programação como “A Idade da Terra”, de Glauber Rocha, “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, “Orgia, ou o Homem que Deu Cria” e “Dramática”, de Ava Rocha. Entre as sessões, estão programados mesas e debates com Hilton Lacerda, João Silvério Trevisan, Roberto Chiesi, diretor da Fondazione Archivio Pasolini, Mariarosaria Fabris e Miguel Serpa Pereira.
ONDE CONFERIR
“Pasolini, ou quando o Cinema se faz Poesia e Política de seu Tempo” em cartaz no CCBB-Rio até 10/11, CCBB-SP até 17/11, CCBB Brasília até 24/11.
Mês da fotografia no Instituto Moreira Salles
Em cartaz no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro (IMS-RJ), a exposição “Luz, cedro e pedra — Esculturas do Aleijadinho fotografadas por Horacio Coppola” revela o olhar artístico do fotógrafo argentino sobre a obra do misterioso artista mineiro.
A mostra apresenta 81 imagens feitas por Coppola nas cidades mineiras de Congonhas do Campo, Sabará e Ouro Preto em 1945. As referências que podem ter levado Coppola ao artista mineiro naquela época vão de artigos dos poetas Jules Supervielle e Ramón Gómez de la Serna, respectivamente em 1931 e 1944, ao livro do brasileiro Newton Freitas, “El Aleijadinho”, publicado também em 1944 na Argentina.
A biografia de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, é um mistério até hoje. Sua trajetória é reconstituída por meio das obras que deixou, embora a atribuição da autoria da maior parte de suas mais de quatrocentas criações se baseie, apenas, em critérios de semelhança estilística.
Também está em exposição no IMS-RJ a obra do fotógrafo brasileiro Geraldo Barros. Com mais de 300 peças, “Geraldo de Barros e a fotografia” é a maior exposição do artista, que também era designer e pintor, realizada no Rio de Janeiro. A curadoria é da pesquisadora Heloisa Espada.
O IMS-RJ fica na rua Marquês de São Vicente, 476,na Gávea.
NOTAS
‘Gita – 40 anos’ no Sesc Pompeia, em SP
Nos quarenta anos do lançamento do álbum Gita, de Raul Seixas, artistas como BNegão, Maurício Pereira, Rubi e Zé Geraldo prestam homenagem ao roqueiro. O projeto “Gita – 40 anos” conta com duas apresentações, dias 31 e 01/11, no Sesc Pompeia, às 21h30.
‘Os Intolerantes’ estreia no CCBB Rio
“Os Intolerantes”, texto inédito de Carla Faour e Henrique Tavares, discute com humor como a intolerância está presente no nosso cotidiano. Com direção de Henrique Tavares e figurinos de Patricia Muniz, a peça estreia no CCBB-Rio dia 30/11, às 19h.
Arte, música e cinema no Slow Art, em SP
Amanhã, a partir das 14h30, o Museu da Casa Brasileira recebe o Slow Art, em homenagem à arquiteta Lina Bo Bardi. No jardim da casa, os espectadores podem esticar suas cangas e assistir ao filme “Precise Poetry” e ao show da banda Pitanga em Pé de Amora.