Especialistas alertam sobre efeitos nocivos - Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
Especialistas alertam sobre efeitos nocivosMarcello Casal Jr. / Agência Brasil
Por Felipe Rebouças*
Rio - Dificuldades na aprendizagem, sonolência diurna, queda de atenção, ansiedade e alteração do humor. É extensa a lista de problemas que o uso excessivo de celular ou tablet pode causar em crianças. Por isso, os pais devem redobrar a atenção. Um estudo divulgado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) defende que pequenos com menos de um ano de idade não devem ser expostos às telas eletrônicas. E, até os cinco anos, não devem passar mais de 60 minutos por dia em atividades passivas à frente de uma tela de um dispositivo eletrônico.
A preocupação aumenta à medida que cresce o número de celulares em operação. Em 2017, eram 236,5 milhões de aparelhos no Brasil — 113 para cada cem habitantes. Esse excedente costuma cair nas mãos de adolescentes e até de pessoas com idades abaixo disso. Nos Estados Unidos, a indústria local foi além. Produziu carrinhos de bebê com suporte para tablet. "O impacto tende a ser maior na criança, pois seu sistema nervoso está em formação", adverte o neurologista infantil Clay Brites, do Instituto Neurosaber.
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As principais consequências da exposição excessiva são de ordem cognitiva, diretamente ligadas ao processo de aprendizagem. De acordo com um estudo feito pela pesquisadora e professora do IBMR Jacqueline Sobral sobre a influência dos aparelhos eletrônicos no cotidiano das crianças entre 3 e 6 anos, há quem apresente dificuldades até para segurar um lápis, devido ao costume nos primeiros anos de vida em acionar comandos por meio do toque.
A sonolência ou a queda de atenção se dá por um motivo simples: o jovem internauta preso à telinha adia a hora de ir para a cama, e, com isso, a luz azul emitida pelos eletrônicos afeta a produção de melatonina, hormônio que desacelera o metabolismo e nos prepara para o repouso.
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"O cérebro entende que é dia quando já é noite", explica o psiquiatra Frederico Porto, professor da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte. "Desregula-se o relógio biológico, interferindo na síntese de hormônios". É o que ocorre com o hormônio leptina, ligado à saciedade e diretamente ligado à obesidade. Assim como o cortisol, que, desregulado, afeta o sistema imunológico, e o GH, hormônio do crescimento, que pode prejudicar o desenvolvimento da criança.
Hábito de pai para filho
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"Durante a minha pesquisa, verifiquei que os pais que relataram ter um consumo excessivo de celulares e tablets falavam exatamente a mesma coisa dos filhos. Existe um consumo espelhado. Se as crianças usam muito o celular é porque os pais deixam", sinaliza a professora do IBMR Jacqueline Sobral, ressaltando a importância dos pais no combate ao uso excessivo e desordenado de aparelhos tecnológicos por parte dos filhos.
No entanto, a especialista avalia que não devemos demonizar a tecnologia, uma vez que se trata de um conhecimento desenvolvido pelos humanos e que cumpre função substancial de inserção social e desenvolvimento.
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"É importante não achar que a tecnologia é vilã. Mais de 80% das crianças no Brasil, de 9 a 12 anos, já usa celulares ou tablets, então a questão que devemos debater é como usar esses aparelhos de forma saudável e não como babás eletrônicas", pondera a professora.
Além de toda interferência na formação das crianças, há estímulos perigos escondidos na Web que podem levar a ações fatais. Em São Bernardo do Campo (SP), por exemplo, a polícia apura a morte por parada cardíaca de uma garota de 7 anos, que, em fevereiro, teria inalado desodorante, imitando um vídeo de um desafio publicado na internet.
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*Estagiário sob supervisão de Antero Gomes