Por thiago.antunes

Rio - Eles têm recebido seus salários com atraso e em parcelas. Para honrar seus compromissos, se endividam e contam com auxílio de familiares e amigos. Não bastasse isso, podem sofrer um desconto ainda maior na folha, com o projeto de aumento da alíquota previdenciária de 11% para 14%. É assim, vivendo um dia após o outro, que servidores estaduais dizem enfrentar a crise que os afeta.

Os rendimentos de fevereiro, por exemplo, só foram pagos na última sexta, um mês após o prazo para o estado depositar o salário. Ficaram à espera do crédito 212 mil ativos, inativos e pensionistas. Estão à espera desse pagamento 212 mil funcionários estaduais, de diferentes categorias.

Para conseguir pagar a passagem e ir trabalhar%2C a enfermeira Kelly pega dinheiro com o noivo e familiaresFelipe Silva / Divulgação

Enfermeira da Policlínica Piquét Carneiro (da Uerj), Kelly dos Santos, 29 anos, tem que pedir a familiares dinheiro da passagem. “Minha sorte é que tenho noivo, com quem eu moro, e que me ajuda. Conto também com a minha mãe. Eu almoço na casa dela”, diz a enfermeira, que teve o cartão de crédito bloqueado: “Não tenho como honrar com as parcelas”.

Ela começou a trabalhar em 2013 na clínica Piquét Carneiro e estudou Enfermagem na própria Uerj. Hoje, Kelly lamenta a atual situação da instituição: “Vejo o sucateamento da universidade e do hospital. E não só nós sofremos com isso, mas toda a população”.

Aos 57 anos, a professora de História Adelaide Santana tem duas matrículas no estado: uma como aposentada e outra como ativa. Ela só tem recebido um salário, já que a Secretaria de Educação tem usado recursos do Fundeb para pagar apenas os servidores ativos (conforme a lei permite). Já os rendimentos da aposentadoria demoram a chegar e ela conta que afeta seu tratamento de saúde.

“Tenho problemas na coluna cervical e preciso fazer pilates por orientação médica. Fazia duas vezes na semana e cortei para só uma. Também sofro de síndrome reumática na mão. Trato isso também. Ainda tenho que pagar plano de saúde e o dinheiro não dá conta”, lamenta.

A técnica em enfermagem Sônia Laurindo, 59, trabalha no Iaserj e, sem receber em dia, mudou seus hábitos. “Cancelei plano de telefone e me aperto para sobreviver e ter dinheiro para trabalhar”, revela. 

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