Por pedro.logato


Rio - “O dia que chegar, chegou. Pode ser hoje ou daqui a 50 anos. A única coisa certa é que ela (morte) vai chegar.” Assim era Ayrton Senna da Silva, o destemido piloto que encantava o Brasil aos domingos, com talento e ousadia. Para ele, não havia Prost, Mansell, dirigentes mal-intencionados ou circuitos invencíveis. Até a morte ele tratava com certo desdém. Entretanto, há 20 anos, no dia 1º de maio de 1994, numa curva, numa fatalidade, ficamos órfãos de um dos maiores — senão o maior — mitos da Fórmula 1.

Enterro de Senna levou multidão as ruas de São PauloAgência O Dia

Era a sétima volta do GP de San Marino, no circuito Dino e Enzo Ferrari, em Ímola, na Itália, quando, perseguido por Michael Schumacher, Senna, a quase 300 Km/h, entra na curva Tamburello. Poderia ser só mais uma das tantas que o piloto, com maestria, fizera em sua carreira. Não era. À espreita, estava a morte a lhe esperar, em um muro de concreto onde seu Williams FW 16 espatifou-se, encerrando uma vida de 34 anos de paixão pelo automobilismo.

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Um minuto e 40 segundos após o choque, começaram os trabalhos para tentar reanimar Senna. Foi feita uma traqueostomia, ainda no autódromo, a fim de trazer-lhe de volta a respiração. No hospital Maggiore, em Bolonha, 17 minutos após a batida, chegava o piloto, inconsciente. A tensão já dominava a todos, mas sempre havia alguma esperança no ar. No entanto, após o primeiro boletim da doutora Maria Tereza Fiandri, qualquer expectativa de recuperação se dissipou.

“Acho que estamos na dependência de um milagre”, disse a médica. E, às 13h40 (de Brasília), foi confirmado o que todos pressentiam, mas teimavam em não acreditar. “Ayrton Senna está morto”, sentenciou Maria Tereza. Embora seu corpo estivesse praticamente intacto, Senna não resistiu às fraturas múltiplas na base do crânio, afundamento do osso frontal (testa), edema e hemorragia cerebral, coma profundo e, finalmente, a morte.

Lápide de Senna está em São PauloDivulgação

SUSTO E MORTE

Havia algo estranho no ar naquele fatídico fim de semana do GP de San Marino, um dos mais trágicos da F-1. No treino de sexta-feira, o brasileiro Rubens Barrichello bateu a mais de 200 km/h e saiu vivo do acidente por milagre, com uma fratura no nariz e escoriações no braço direito. Isto abalou Ayrton Senna, amigo de Rubinho.

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No sábado, foi a vez de o austríaco Roland Ratzenberger, 31 anos, perder a vida ao estatelar-se com sua Sintek contra o muro da curva Villeneuve, o que levou Senna a exigir o cancelamento da prova em reunião com os pilotos. Pedido negado (Schumacher votou contra), ele resolveu não falar mais com a imprensa, como represália.

No dia da corrida, o herói que se preparava para entrar na pista não era o mesmo dos GPs habituais. Nos boxes, havia um homem sério, sisudo e reflexivo. Chocado com o acidente de Rubinho e a morte de Ratzenberger, Senna parecia prever que algo ruim lhe aconteceria, tamanha a falta de motivação com que entrou no cockpit.

Antes, teve uma atitude jamais vista: se apoiou no aerofólio de sua Williams e ficou a contemplar cada centímetro dela. No grid, tirou o capacete e a balaclava (o que também não fazia) e, só com o aviso de um minuto para a largada, os recolocou para tentar uma vitória que, tragicamente, não viria.

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