Por jessyca.damaso
Rio - Cerveja gelada e carne no espeto. Uma formação vitoriosa na vida de Lê, hoje com 38 anos, autor do gol do último título internacional do Flamengo. Em frente a sua casa, número 125 da Rua Linária, em Guadalupe, o churrasco vai rolar solto durante a primeira final da Sul-Americana, contra o Independiente, nesta quarta-feira, às 21h45, em Avellaneda. Um ritual comum na vida do ex-jogador que, em 1999, tentava, exatamente no mesmo lugar, fazer a brasa pegar, quando atendeu ao telefonema mais importante de sua carreira.
Lê exibe recortes de jornal da época do título da Mercosul%3A boa lembrançaAlexandre Brum / Agência O Dia

"Vou fazer churrasco. Normal. E na outra quarta-feira, irei ao jogo. Recebi convite de três torcedores. Um deles descobriu meu contato, disse que quer me conhecer e que vai pagar até o Uber. Sou rubro-negro de arquibancada e de geral. Porém, nesse novo Maracanã, estive apenas uma vez, na semifi nal da Copa do Brasil, contra o Botafogo, com a minha filha. Sou pé-quente”, disse Lê, que, no entanto, não usará a camisa com a qual marcou o histórico gol: “Usei na fi nal contra o Cruzeiro. Postei e rendeu mais de mil curtidas. Agora, com o azar que deu, nunca mais".

Lê disse que recebeu convite de três torcedores para assistir a decisão da Copa Sul-Americana no MaracanãAlexandre Brum / Agência O Dia

Em 1999, ele até tinha dado a amigos seu material de concentração. Afinal, não havia mais jogos na temporada, além da segunda partida da final da Copa Mercosul, contra o Palmeiras. Mas, enquanto se equilibrava entre o comando da churrasqueira e um jogo de sueca, Lê, depois de muitas rodadas de carteado e cerveja, recebeu o chamado e virou trunfo do técnico Carlinhos.

Dois dias depois, o então camisa 22, número que hoje pertence a Everton, entrou no final do jogo e, logo em seguida, marcou o gol de empate em 3 a 3 com o Alviverde Paulista, fora de casa, que garantiu o título ao Rubro-Negro. Na comemoração, caiu no gramado, aos prantos.

"P...! Fiquei feliz para caraca. E com medo pelo meu pai, o seu Valdir. A primeira coisa que perguntei quando liguei para casa foi sobre isso. Ele passou mal, parou no hospital, a pressão subiu. Chegou de volta à comemoração só depois das 3h da manhã. Fizeram carnaval aqui na rua", relembra Lê, cuja mãe, dona Wanda, ainda vive no bairro de Vista Alegre, onde criou os filhos, enquanto o ex-jogador mora na mesma casa desde quando casou, aos 17 anos, com a mulher Wanessa Lagrotta.
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Assim como naquele ano, o Flamengo tem na competição continental a chance de dar brilho a uma temporada que, até então, só lhe rendera um título carioca. Lê, que costuma ir às redes sociais a fim de elogiar e ‘cornetar’ o time, ensina a receita para esta noite.
“Tem que ser Flamengo. Ficar atrás não é a nossa mística. Daquela vez foi assim. Era o que nos restava. Estávamos com os salários atrasados, e o prêmio do título era de R$ 4 milhões, muito dinheiro na época. Sabíamos que vinha o nosso ‘pixulezinho’, que ajudaria as nossas famílias. Botamos isso na cabeça. Não éramos caras montados na grana.”
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Antes de ir às lágrimas, Lê homenageou a filha Leandra, então recém-nascida, hoje com 18 anos. Agora, pai também de João Gabriel, 16, George, 15, e Diego, 9, usa seus exemplos positivos e negativos com fi ns educativos.
João Gabriel faz parte da equipe sub-16 do Flamengo. Recentemente, ganhou uma chuteira de Juan, que tem a idade de Lê e fazia parte do time campeão de 1999. O pai coruja tenta colocar o fi lho na cara do gol e ajudá-lo a driblar os obstáculos da fama precoce: "Aquele gol teve muita importância para a minha família. Mas eu me acomodei, misturava pagode com treino. Isso não dá certo. Falo para ele (João Gabriel): faça o que eu digo, não faça o que eu fiz. Você passa a ganhar mais e vem empresário elogiar, tapinha nas costas, mulherzinha... Quando acordei, era tarde demais".