Por thiago.antunes
Rio - Era para ser uma conversa de índio para índio, mas as discussões para a criação de um centro de referência da cultura dos povos indígenas, que acontecia na tarde desta quarta-feira no Hotel Novo Mundo, no Flamengo, Zona Sul do Rio, acabou em uma língua que ninguém entendia. Isso porque cerca de 50 manifestantes interromperam o encontro de 20 lideranças indígenas de todo o país com a secretária de Cultura, Adriana Rattes. O grupo tomou o local com cartazes nas mãos, gritando palavras de ordem e sem uma causa definida.
Enquanto a maioria dos manifestantes era “contra tudo e todos”, o indígena da aldeia Maracanã “José” Urutau Guajajara tentava unificar o discurso contra a desocupação do antigo Museu do Índio. “Eles nem chamaram a gente para a conversa. Estão discutindo com um povo que não é daqui. Estes líderes não nos representam”, disse.
Índio Urutau Guajajara estava com manifestantesAndré Luiz Mello / Agência O Dia
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Respeitado pelo seu histórico na luta pelos interesses indígenas, Marcos Terena lamentou o episódio. “Tudo transcorria bem. A gente ia fechar um plano de trabalho e tentar estabelecer uma parceria para que a cultura indígena fosse difundida na Copa do Mundo. Temos aqui os ‘mais velhos’ de várias aldeias. Eles desrespeitaram todo mundo. Foi uma violação. A gente nem sabe quem é este pessoal”, relatou.
A secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes, lembrou que os caciques e pajés que participavam da reunião são considerados heróis da causa indígena. “A gente resolveu fazer o encontro aqui justamente para evitar este tipo de situação. É uma pena, mas o debate vai seguir”, concluiu.
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Índio foi um dos líderes de manifestação
“José” Urutau Guajajara foi um dos líderes da manifestação que aconteceu no Hotel Novo Mundo. Ele foi o índio que resistiu à desocupação do antigo Museu do Índio, no Complexo do Maracanã, na Zona Norte do Rio, na segunda-feira, e passou a madrugada em cima de uma árvore. O homem foi autuado por desobediência e liberado após pagamento de fiança na terça.
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O índígena estava numa altura de aproximadamente 5 metros do chão. Somente ele permaneceu na área após a reintegração de posse no prédio do antigo museu. Sem parecer se importar muito com as críticas ao protesto vinda dos líderes nacionais, “Zé”, como era chamado, nada fazia para conter os manifestantes que chamavam os caciques e pajés de “vendidos” e “pelegos”.
Apenas duas pessoas que participavam da manifestação tinham características físicas condizentes com os indígenas. De rostos pintados, calças rasgadas e cabelos “modernos”, o grupo não poupava ninguém de críticas. O pajé Tobi se sentiu ofendido. "Somos todos de um mesmo povo, com uma mesma causa. A diferença é que nós somos democráticos. É da nossa cultura respeitar os mais velhos. A atitude deles atrapalha o nosso trabalho”, enfatizou o líder. A PM acompanhou toda a manifestação, sem interferir.
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