Ativistas querem acabar com tradicionais charretes de Paquetá
Atualmente, localidade conta com apenas 17 charreteiros, que cobram entre R$ 70 e R$ 100 por passeios que duram pouco mais de uma hora
Por tamyres.matos
Rio - Cercada pelas águas calmas, mas não tão límpidas, da Baía de Guanabara, a bucólica Ilha de Paquetá, quem diria, vive dias de uma certa tensão. Tudo por causa das tradicionais charretes conduzidas por guias turísticos nascidos e criados na ilha. Na manhã desta terça-feira, um grupo de ativistas de direitos dos animais protestou em frente à Secretaria Municipal de Transportes para pedir o fim do que eles chamam de “escravidão dos cavalos”. De acordo com os ativistas, o estado dos animais é alarmante, e os maus-tratos sofridos, evidentes.
O presidente da Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da OAB, Reynaldo Velloso, disse que já existe uma solução para o problema, que foi adotada na região do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul: o ‘cavalo de lata’. “É a melhor opção para os charreteiros, pois é sustentável, limpo, totalmente elétrico, já que pode ser carregado na tomada de luz comum, como um celular. As peças de reposição são baratas e de fácil manutenção. O consumo é de R$ 0,02 a R$ 0,06 centavos por quilômetro percorrido, e o carro possui itens de segurança e iluminação completa”, explicou Velloso, entusiasta da ideia.
Faltou apenas combinar com moradores, turistas e charreteiros de Paquetá, que são totalmente contra a ideia, que seria o fim de uma tradição centenária. Em visita à ilha, a equipe de reportagem do DIA encontrou cavalos aparentemente saudáveis e charreteiros abatidos com o que consideram uma “invasão de empresários”.
“Chega a ser engraçado ouvir estes argumentos. Os cavalos que usamos são comprados de apreensões feitas pela polícia na beira de rodovias. Chegam aqui em péssimo estado. Nós, ao contrário do que dizem, é que cuidamos dos bichos, como aprendi com meu pai, que aprendeu com meu avô e meu bisavô”, conta Roberto Alves, de 32 anos, que gasta R$ 1,5 mil por mês apenas com ração e capim.
Atualmente, Paquetá conta com apenas 17 charreteiros, que cobram entre R$ 70 e R$ 100 por passeios que duram pouco mais de uma hora e, segundo eles, dão lucro apenas no verão.
Os visitantes se solidarizaram com os charreteiros ao tomarem conhecimento do problema. A mineira Ana Paula Santos, de 32 anos, saiu em defesa da tradição. “Sou a favor dos animais e mais ainda a favor do ser humano, do trabalhador. Acho que está faltando bom senso na discussão. Venho todo verão a Paquetá e nunca vi animal nenhum ser maltratado aqui. Pelo contrário”, atestou a visitante.
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CAVALO DE LATA NÃO CONVENCE VISITANTES DA ILHA
Os turistas de Paquetá não aprovaram a ideia de trocar as charretes pelos ‘cavalos de lata’, como sugerido pelos manifestantes na manhã desta terça-feira.
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“Em Paquetá já tem passeio de bicicleta e até de trenzinho, além dos pedalinhos. Quem quiser um passeio desses, tem aqui. E quem quiser passear a cavalo faz o quê? Anda num troço de lata?”, reclamou Lia de Lima.