“É uma dor que não acaba. Como uma doença para a qual não há remédio nem cura. Durmo e acordo pensando e, a cada caso, revivo toda a dor”, desabafou, entre lágrimas, Thiago César Bessa de Farias, sobre a perda do irmão. Há oito meses o soldado da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Caju Titus Lucius Bessa de Farias, de 31 anos, foi assassinado num latrocínio (roubo seguido de morte). Segundo a polícia, os bandidos já estavam de posse do carro, mas decidiram matá-lo quando acharam a arma e a carteira funcional do militar. Nenhum acusado foi preso.
Desde a tragédia, a família evita sair de casa. Thiago já consegue sair, mas confessa que a lembrança do crime o deixa tenso e em alerta o tempo inteiro. “É uma violência a troco de nada e que nos deixa chocado. Era só levar o carro e deixar a vida dele. Mas virou uma situação normal e ninguém fala nada. Falta uma resposta do governo para quem atira no policial e na população também. Será que vão esperar mais casos acontecerem para verem que segurança pública é um direito nosso?”, criticou Thiago.
Rosalina Rafael da Silva, 60, concorda e endossa o discurso: “A violência no Rio tem que ser tratada na raiz, com educação, respeito e famílias estruturadas. Ninguém mais pode andar na rua com tranquilidade. Bandidos são como germes que estão ali só para destruir”, afirmou, com a propriedade de quem sentiu no peito a dor da perda de uma filha. A soldado Alda Castilhos, 28, levou o tiro fatal na barriga quando patrulhava ruas do Parque Proletário, no Complexo da Penha, com colegas da UPP, também atacados por traficantes.
“Para a sociedade, foi um tiro na policial, mas que matou a minha filha e acertou toda a família também. Alda só dormiu fora de casa duas noites na vida, o resto passou comigo, na minha cama. É uma perda da qual jamais vou me recuperar”, lamenta. Rosalina resolveu transformar o luto em força para ajudar famílias de outros policiais, engajada em campanhas contra a violência: “Minha filha era uma pessoa de luta e justiça. Vou fazer isso por mim e por ela”.
Copacabana terá passeata
Dia 14, a Praia de Copacabana vai ficar pequena para receber parentes e amigos de policiais vítimas de violência, além de cidadãos que apoiam a defesa dos agentes públicos. Uma grande passeata, marcada para as 9h no Posto 6, está sendo mobilizada através das redes sociais, a fim de chamar a atenção da sociedade e autoridades para a situação. Enquanto as pessoas marcharem, cruzes negras fincadas nas areias vão simbolizar as vidas perdidas.
“Da mesma forma que todo cidadão, quando está em situação de risco, lembra imediatamente do policial, queremos que esse mesmo cidadão se lembre que a vida do policial também tem que ser valorizada, afinal, é sagrada como toda vida”, defende a cabo Flávia Louzada, organizadora do movimento. Ela mesma conheceu cedo a dor da violência: a mãe, professora pública, foi morta na porta do colégio por um jovem que queria entrar armado no local.