Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Os rostos que estampam esta página são apenas alguns exemplos entre as milhares de pessoas que tinham a mesma missão: proteger a população da criminalidade. Porém, bandidos tiraram as vidas de quem defendia cidadãos de bem. Eram pais, filhos, irmãos e chefes de família que engrossaram a triste estatística da violência contra policiais. Somente nos últimos três anos, 49 militares por mês saíram de combate, feridos durante o serviço ou fora dele. Ou seja: 1.715 PMs impedidos de usar suas fardas. No mesmo período, 347 morreram, dois deles durante a semana que passou.

“É uma dor que não acaba. Como uma doença para a qual não há remédio nem cura. Durmo e acordo pensando e, a cada caso, revivo toda a dor”, desabafou, entre lágrimas, Thiago César Bessa de Farias, sobre a perda do irmão. Há oito meses o soldado da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Caju Titus Lucius Bessa de Farias, de 31 anos, foi assassinado num latrocínio (roubo seguido de morte). Segundo a polícia, os bandidos já estavam de posse do carro, mas decidiram matá-lo quando acharam a arma e a carteira funcional do militar. Nenhum acusado foi preso.

PMs deram a vida pelo trabalho de enfrentamento à violência no estadoDivulgação

Desde a tragédia, a família evita sair de casa. Thiago já consegue sair, mas confessa que a lembrança do crime o deixa tenso e em alerta o tempo inteiro. “É uma violência a troco de nada e que nos deixa chocado. Era só levar o carro e deixar a vida dele. Mas virou uma situação normal e ninguém fala nada. Falta uma resposta do governo para quem atira no policial e na população também. Será que vão esperar mais casos acontecerem para verem que segurança pública é um direito nosso?”, criticou Thiago.

Rosalina Rafael da Silva, 60, concorda e endossa o discurso: “A violência no Rio tem que ser tratada na raiz, com educação, respeito e famílias estruturadas. Ninguém mais pode andar na rua com tranquilidade. Bandidos são como germes que estão ali só para destruir”, afirmou, com a propriedade de quem sentiu no peito a dor da perda de uma filha. A soldado Alda Castilhos, 28, levou o tiro fatal na barriga quando patrulhava ruas do Parque Proletário, no Complexo da Penha, com colegas da UPP, também atacados por traficantes.

“Para a sociedade, foi um tiro na policial, mas que matou a minha filha e acertou toda a família também. Alda só dormiu fora de casa duas noites na vida, o resto passou comigo, na minha cama. É uma perda da qual jamais vou me recuperar”, lamenta. Rosalina resolveu transformar o luto em força para ajudar famílias de outros policiais, engajada em campanhas contra a violência: “Minha filha era uma pessoa de luta e justiça. Vou fazer isso por mim e por ela”.


Copacabana terá passeata

Dia 14, a Praia de Copacabana vai ficar pequena para receber parentes e amigos de policiais vítimas de violência, além de cidadãos que apoiam a defesa dos agentes públicos. Uma grande passeata, marcada para as 9h no Posto 6, está sendo mobilizada através das redes sociais, a fim de chamar a atenção da sociedade e autoridades para a situação. Enquanto as pessoas marcharem, cruzes negras fincadas nas areias vão simbolizar as vidas perdidas.

Homenagem e protesto de PMs no enterro do soldado Anderson SennaSeverino Silva / Agência O Dia

“Da mesma forma que todo cidadão, quando está em situação de risco, lembra imediatamente do policial, queremos que esse mesmo cidadão se lembre que a vida do policial também tem que ser valorizada, afinal, é sagrada como toda vida”, defende a cabo Flávia Louzada, organizadora do movimento. Ela mesma conheceu cedo a dor da violência: a mãe, professora pública, foi morta na porta do colégio por um jovem que queria entrar armado no local.

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“Resolvi ser policial militar para salvar vidas, mas vejo a cada dia meus irmãos de farda serem assassinados. Temos que mostrar toda essa violência da qual estamos sendo vítimas”, ressalta.
Comando quer reduzir riscos
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Após acompanhar dois enterros de integrantes da sua tropa na mesma semana, o recém-empossado comandante da PM, coronel Ibis Silva, já sinalizou mudanças para diminuir o problema. Durante a formatura de mais de 560 recrutas sexta-feira, ele prometeu redistribuir o efetivou baseando-se no mapeamento das áreas mais violentas do Rio. A ideia é evitar ao máximo que policiais fiquem expostos de forma desnecessária durante o serviço, para reduzir os índices de letalidade e ferimentos.
O oficial se referiu a áreas muito populosas e com pouca quantidade de policiais para atendê-las. “Vocês são minha responsabilidade e vou cuidar de vocês. Sei que as condições de trabalho não são dignas, mas me comprometo a trabalhar para mudar isso”, garantiu o oficial.
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Apesar dos 566 PMs feridos e 103 mortos de janeiro a 25 de novembro, o comandante-geral garantiu que uma retaliação violenta está fora de questão. “Não somos justiceiros, somos policiais. A resposta que os criminosos precisam virá, mas sem rasgar as nossas leis e nossa Constituição”, afirmou Ibis, que se emocionou e foi às lágrimas no enterro do soldado Ryan Procópio, torturado e morto terça-feira em Bangu.
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