Por thiago.antunes
Rio - Mais uma confusão envolvendo um magistrado foi parar na Justiça. Desta vez, o juiz Bruno Monteiro Ruliere, da 1ª Vara de Saquarema, é acusado de ofender um bombeiro dentro do posto de guarda-vidas, em Ipanema, Zona Sul do Rio, no último domingo. Ruliere, no entanto, alega que foi agredido por socos pelo sargento Andre Fernarreti. Na 14ª DP (Leblon), o caso foi registrado como lesão corporal e desacato depois de nove testemunhas serem ouvidas. Agora, o desfecho será no 4º Juizado Especial Criminal.
Um vídeo obtido por O DIA revela parte da confusão. As imagens, sem aúdio, mostram Ruliere entrando no posto 9 com mais dois amigos. O motivo seria porque a namorada de Fábio Pastor, um dos que acompanham o juiz, teria sido agredida por uma funcionária do local. A discussão teria começado por causa do uso do banheiro. Após o trio cercar uma das funcionárias, uma delas chama os guarda-vidas.

Uma nova discussão tem início entre Fernarreti e Ruliere, este aparentando estar exaltado. Quando o guarda-vidas sobe as escadas, o magistrado vai atrás e o encara. Logo depois, Fernarreti desfere dois socos em Ruliere, que desce as escadas e sai do posto, retornando segundos mais tarde e subindo a escada novamente.

"O juiz estava agindo ali com abuso e além do limite de suas responsabilidades", disse o vereador Marcio Garcia (PR), que presta assessoria jurídica aos bombeiros no caso. "Estou acompanhando tudo para garantir que eles tenham o direito de se defender e evitar que ele (Ruliere) tenha algum privilégio, pois é filho de um desembargador. Tentaram arrastar uma das funcionárias e os guarda-vidas foram ver o que estava acontecendo. Não é porque alguém é juiz que pode arrumar briga com todo mundo", relatou Garcia ao DIA.

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O magistrado relatou, em depoimento, que foi impedido de entrar no posto pelos funcionários e se identificou como juiz. Após a confusão com o sargento, Ruliere deu-lhe voz de prisão e acionou dois policiais militares. Segundo ele, André ainda lhe desferiu outro soco pois não queria ir para a delegacia. André informou aos policiais ter sido ofendido diversas vezes pelo magistrado que, irritadiço, o mandou se f#% e ainda tentou lhe dar uma cabeçada. A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça informou que não vai se pronunciar sobre o caso.
Outros casos envolvendo magistrados
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A briga no posto 9 não é a primeira confusão envolvendo um magistrado. Em 2011, a agente de trânsito Luciana Silva Tamburini recebeu voz de prisão do juiz João Carlos de Souza Correa, após ele ser parado por ela em um blitz da Lei Seca. Na ocasião, após Correa se identificar, Luciana respondeu que 'juiz não é Deus'. Ela foi processada pelo magistrado e, neste ano, foi condenada pagar uma indenização de R$ 5 mil ao magistrado.
A agente da Lei Seca Luciana Tamburini%3A condenada a pagar R$ 5 mil a juizErnesto Carriço / Agência O Dia

O caso gerou repercussão e solidariedade. Luciana recebeu mais de R$ 40 mil após internautas realizarem uma 'vaquinha virtual' para pagar o montante. Ela ainda pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo seus advogados, a agente ainda avalia se deve levar o caso à última instância.

No começo deste mês, o juiz Marcelo Testa Baldochi, da comarca de Senador La Rocque, no sul do Maranhão, deu voz de prisão a três funcionários da TAM, no aeroporto da cidade de Imperatriz, localizada no sudoeste do estado. Ele foi barrado por funcionários da companhia pois chegou atrasado no embarque de seu voo para São Paulo.
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O magistrado foi informado que não poderia entrar no seu voo pois o embarque já havia sido encerrado e o processo de decolagem estava em andamento, momento em que ele deu voz de prisão a um dos atendentes da empresa. Baldochi acusou os funcionários da companhia de crime contra o consumidor. Os funcionários foram encaminhados para a delegacia local, onde prestaram depoimento e foram liberados logo em seguida.
O juiz conseguiu embarcar em outro voo no mesmo dia pela companhia aérea Gol. Em 2007, foi incluído na 'lista suja' do Ministério do Trabalho por manter 25 funcionários em situações semelhantes a escravidão.
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O órgão localizou os funcionários em situações degradantes em uma de suas propriedades. Na época, Baldochi  declarou que houve "abuso" por parte da fiscalização e que "nunca houve" trabalho semelhante à escravidão em suas terras.