Rio - Os números ilustram a situação alarmante do estado do Rio de Janeiro: foram 70 fuzis apreendidos pela polícia no início deste ano. Só em janeiro, a PM apreendeu 41, o que representa mais que o dobro do recolhido no mesmo período de 2014, conforme publicou o 'Informe do DIA', na última sexta-feira. Do total, 30 armas são do modelo AK-47 (Avtomat Kalashnikova 1947), o mesmo usado pelo grupo terrorista Estado Islâmico. O quadro preocupa autoridades e levou a Secretaria de Segurança Pública a criar um núcleo de inteligência para combater crimes transnacionais.
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Denominado Minimissão Suporte, o núcleo criado pela secretaria será composto por 30 policiais militares civis e federais. Segundo o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, o objetivo do grupo é "trabalhar em cima de crimes transnacionais, como tráfico de armas e outros equipamentos ou drogas que venham de fora do Rio de Janeiro".
Especialistas chegam a afirmar que o Rio está enfrentando um 'derrame de fuzis' e munição de AK-47, de fabricação russa. As armas estão chegando em larga escala às mãos de traficantes desviadas de países que fazem fronteira com o Brasil, principalmente a Venezuela, através das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) — guerrilha que atua também em território venezuelano.
"Não podemos esperar o resultado do rastreamento dessas armas e estabelecer rotas para a partir daí começar a trabalhar. Demora muito e muitas vezes a fabricante das armas não tem interesse em fornecer essa informação, porque ela fabrica e vende para quem quiser, conforme a legislação de seu país", declarou o secretário.
O trabalho do núcleo põe ainda em xeque a ação da Polícia Federal. Em algumas declarações, Beltrame chegou a afirmar que o estado estava "sozinho na luta contra a violência".
Beltrame explicou que a investigação ajudará a estabelecer um suporte de informação para o combate ao tráfico de armas: "São 25, 30 policiais que vão trabalhar diuturnamente. Eles vão fazer rodízio. Trabalharão 24 horas por dia, mas serão sempre os mesmos e em cima dos mesmos temas, fazendo com que o volume de informação acerca desse assunto cada vez mais consiga aumentar e ficar na mão da secretaria para que possamos fazer operações com o menor dano possível à população e otimizando os resultados", afirmou o secretário.
Rio enfrenta ''derrame' de fuzis
“Os fuzis AK-47 sempre foram os mais apreendidos, porque têm em maior quantidade no mundo. Mas apreensões seguidas e em tão pouco tempo, como estão ocorrendo, são sinal claro de uma derrama (sic) desse tipo de arma”. A afirmação do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), consultor e especialista em negociação de conflitos, Paulo Storani, ao DIA, em reportagem publicada nesta segunda-feira.
Esse tipo de equipamento é considerado a arma mais letal e a mais usada no mundo, inclusive por integrantes do grupo terrorista mais temido no momento, o Estado Islâmico, que se espalha pela Síria e pelo Iraque.
Storani lembra ainda que em 2005 o então governo Hugo Chávez comprou tecnologia para a fabricação de 100 mil fuzis nas versões AK-103 e AK-47. “A Venezuela não tem 100 mil homens em suas Forças Armadas. Logicamente, boa parte desses armamentos caiu nas mãos de guerrilheiros, que negociam o arsenal com traficantes brasileiros”, ressalta, cobrando mais empenho do governo federal na vigilância das fronteiras. Há desconfiança de que o armamento já apreendido tenha vindo de países do Leste Europeu, que se encontram em conflito, como a Ucrânia. Atualmente o AK-47 é fabricado em Israel, Geórgia e Irã.
Em determinadas operações, policiais militares chegaram a apreender até cinco fuzis AK-47 de uma vez, como aconteceu nas comunidades do Dendê, na Ilha do Governador, no dia 29 de janeiro, durante ação do Grupamento de Ações Táticas (GAT) e 17º BPM (Ilha), quando 500 projéteis para esse tipo de arma também foram recolhidos em uma boca de fumo.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que “as armas apreendidas passíveis de identificação são analisadas pelo núcleo de rastreamento da Coordenadoria de Inteligência e Informações Policiais (Cinpol)”. Tais análises levam entre quatro e seis meses para serem concluídas.