Rio - A realidade socioeconômica da Baixada é um pesadelo para 33,7% de seus moradores. Estudo da Casa Fluminense, que se dedica a discutir a Região Metropolitana do Rio, mostra que, de seus 3,6 milhões de habitantes, 1.213.297 vivem abaixo da linha da pobreza, com renda de até meio salário mínimo. Desses, 507.640 (42,2%) sobrevivem com até 25% do salário. A pesquisa tem como base o Censo 2010, do IBGE, quando o salário mínimo era de R$ 510 — atualmente é de R$ 724. Já a definição da linha de pobreza baseia-se nos critérios do governo para a concessão de benefícios sociais.
Segundo a autora do estudo, a doutora em Economia e professora da UFRJ Valéria Pero, o caminho para que os índices sejam revertidos é árduo. Além de reforçar a qualificação na formação do trabalhador através de cursos técnicos, é necessário um pesado investimento na educação de base, a descentralização dos polos econômicos e a criação de uma governança metropolitana, que olhe a região como um todo, e não os municípios isoladamente.
“Só a integração dessas frentes apontará caminhos para solucionar a questão”, diz Pero. Esta é a quarta reportagem da parceria entre o DIA e a Casa. Para efeito de comparação, no município do Rio a taxa de pobreza é de 20,9%. No Estado, ela vai a 26% — puxada pela Baixada.
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Japeri dispara como o município com o pior índice: quase metade da população (45,9%) sobrevive com até meio salário — 43.830 pessoas. Entre essas, 19.193 (20,1%) só contam com até 1/4 do salário. Já em Belford Roxo, dos 469.332 moradores, 176.938 vivem abaixo da linha da pobreza (37,7%), dos quais 73.685 (15,7%) são considerados indigentes.
“É um círculo vicioso. A inserção precária no mercado de trabalho compromete a renda. A falta de qualificação de mão de obra, por sua vez, está ligada à carência de investimentos na educação”, explica Henrique Silveira, coordenador da Casa Fluminense. Na análise de Henrique, não basta abrir novas indústrias na Baixada Fluminense. “Como os moradores não têm qualificação, o empregador vai buscar a mão de obra fora”, conta. “E os habitantes locais acabam vendendo pão de queijo na porta para os que vêm de fora.” Ele prega a busca de consenso entre os novos projetos que se instalam na região e os moradores. “É preciso que estas indústrias dialoguem com a população do entorno e encontrem meios de inseri-la.”
No Grande Rio, três milhões de pobres
A expansão do olhar para toda a Região Metropolitana, englobando também Leste Fluminense e Rio de Janeiro, causa preocupação. Das 11,8 milhões de pessoas que moram no Rio e Grande Rio, quase 3 milhões têm renda de até meio salário mínimo, das quais 1.284.633 são indigentes. É como se enchessem 16 Maracanãs lotados com pessoas que vivem com apenas 25% de um salário mínimo para comer, morar, se vestir, ter transporte, lazer e pagar as contas básicas, entre outras prioridades.
O Leste Fluminense é composto por seis cidades: Itaboraí, Maricá, Niterói, Rio Bonito, São Gonçalo e Tanguá. Quanto mais afastados dos centros urbanos, pior a situação de pobreza e miséria nos municípios.
Como Tanguá, distante 50 quilômetros de Niterói e 63 do Rio de Janeiro — onde se concentram as ofertas de trabalho. Ali, 13.122 (42,7%) pessoas vivem com renda de até meio salário mínimo. Itaboraí é o segundo lugar no ranking: 72.160 (33,1%) de pessoas nesta situação.
O terceiro pior índice está em Rio Bonito: 17.776 moradores com renda de até meio salário. No total, 449.055 pessoas vivem abaixo da linha da pobreza.
Bolsa Família evita tragédia
Na avaliação da economista Valeria Pero, se não fossem benefícios como o Bolsa Família e o Bolsa Carioca, o cenário de pobreza e miséria na Região Metropolitana seria muito mais desolador.
“A renda familiar per capita é o resultado do salário mais benefícios do governo que cada um recebe, dividido pelo número de pessoas na residência (até bebês entram na conta). O Bolsa Família e o Bolsa Carioca entram nessa contabilidade e aumentam a renda. O que se precisa fazer é aperfeiçoar as políticas de transferência de renda”, diz.