Rio - Fernanda Alves da Silva tem 37 anos, cinco filhos e ajuda a criar um neto de 2 anos. A única fonte de renda da família são R$ 100 que o ex-marido lhe dá mensalmente. Ela não paga aluguel, luz e água e o dinheiro é usado quase que exclusivamente na alimentação de toda a família. Mas qual o milagre que Fernanda opera, se a estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) é de que cada pessoa precisa no mínimo de uma cesta básica de R$ 330 por mês para se alimentar?
“A gente toma café preto de manhã. Não tem pão. No almoço, comemos feijão, arroz...”. Fernanda para. Não há mais o que enunciar. E carne? A mulher faz uma expressão facial como se tivesse ouvido um absurdo. “Não, a gente não come carne, não! Nem legume, nem verdura”, completa. E ovo? Fernanda dá um leve sorriso: “Uma vez ou outra”. Leite? “Ninguém bebe leite”, informa. A sorte do bebê é que ainda mama no peito.
Segundo ela, as compras mensais da família se resumem a 3 kg de arroz, dois de feijão, dois de açúcar, um de café, um de farinha, um de sal, um de cebola, um pacote de meio quilo de macarrão, alho e óleo de soja, além de material de limpeza da casa e higiene pessoal. Produtos que, obviamente, acabam em uma semana. “Quando sobra um dinheirinho, compro mais algumas coisas. Mas tem que guardar algum porque, de vez em quando, eles precisam de um caderno, um lápis”, revela.
Quarta-feira passada, já fim de mês, Fernanda estava em dificuldades. Ao abrir o pequeno armário de plástico, que muitos usam como sapateira e que ela transformou em despensa, havia apenas 1 kg de feijão, meio de café, um pote de fermento e um pacote de esponja de aço. As compras da mulher são tão modestas que ocupam apenas a primeira prateleira — as outras duas servem para guardar roupas.
A filha mais velha é Fabiana, de 19 anos, mãe do bebê e que está desempregada. Depois começa a escadinha: Alessandro, de 16; Eric, de 15; Maxwell, de 13; e Evelin, de 11, que recentemente teve raquitismo. Como Alessandro há três anos não quis mais estudar, a família perdeu o auxílio do Bolsa Família, que na ocasião era R$ 110, segundo Fernanda.
Todos moram num cômodo com minúsculo banheiro e pequena cozinha em São João de Meriti, Baixada. Fernanda dorme na cama de casal com a filha e o neto, enquanto os outros se alojam no chão de cimento, sobre um tapete que ajuda a bloquear a friagem. “Ponho duas cobertas sobre o tapete, mas quando faz frio, eles reclamam”, conta Fernanda.
DIEESE
Cesta familiar custa R$ 1.320
Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos SócioEconômicos), a cesta básica mensal para um adulto precisa ter 6 kg de carne, 7,5 litros de leite, 4,5 kg de feijão, 3 kg de arroz, 1,5 kg de farinha, 6 kg de batata, 9 kg de tomate, 6 kg de pão, 600 g de café, 7,5 dúzias de banana, 3 kg de açúcar, 900ml de óleo e 750 g de manteiga. Seu custo no Rio de Janeiro, em julho de 2014, é de R$ 330.
Na família de Fernanda há dois adultos, três adolescentes e uma criança — fora o bebê de dois anos. Se os filhos fossem considerados como dois adultos para a composição das quantidades de comida necessárias à família, na casa de Fernanda se deveria gastar mensalmente R$ 1.320 apenas com alimentação.